EMERSON GASPERIN

 

o último mês de outubro, quando o governo estadual anunciou que eram esperados 8 milhões de turistas em Santa Catarina nesta temporada, muita gente estranhou. Afinal, essa gentarada representa mais do que a população do Estado, de cerca de 7 milhões de pessoas. Para chegar a esse número, a Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte (Sol) apurou informações com os sindicatos de hotéis, restaurantes e similares, companhias aéreas, agências de viagem e parques aquáticos e de diversões. Exagero ou chute, segundo dados oficiais a estimativa não apenas foi superada ainda em meados de fevereiro, como alcançará os 9,5 milhões de visitantes até a Páscoa – em 2015, foram 6,2 milhões.

A maioria veio – e continua vindo – de Santa Catarina mesmo (38,75%) ou do Rio Grande do Sul (18,5%), mas o que fez a diferença foi a quantidade de argentinos: 1,1 milhão, que, somados a outros 400 mil estrangeiros, movimentaram a economia do Estado com os dólares que traziam na carteira. Para se ter uma ideia da procura, dos 399 voos charter vindos do exterior que pousaram no aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, 267 partiram da Argentina, quase o total da temporada anterior considerando todas as origens (292).

A invasão não se limitou à via aérea. De 1o de janeiro a 10 de fevereiro, mais de 80 mil pessoas atravessaram o posto da fronteira em Dionísio Cerqueira, um crescimento de 62% em relação ao mesmo período de 2015. Por São Borja (RS), entraram no país 170 mil veranistas em direção ao Estado, 77% acima do verão passado. No terminal Rita Maria, em Florianópolis, a maior operadora de linhas de ônibus do país vizinho para cá realizou 20 viagens diárias em janeiro e 13 em fevereiro.

O aumento do poder de compra devido ao câmbio favorável levou os argentinos a frequentar também atrações turísticas longe do litoral. Na Grande Florianópolis e na Costa Verde e Mar, tradicionais redutos de verão, a ocupação hoteleira se estabilizou nos 90%. Mas as estâncias termais, comm 91% de seus meios de hospedagem reservados, e a Serra, com 70%, também têm o que comemorar.

Enfim, eles estavam em todos os lugares. E seu impacto nos resultados desta temporada foi tão grande que colocou em segundo plano a discussão sobre o tipo de turista que interessa à Santa Catarina.

 

ÂNDERSON SILVA

 

condição para banho nas praias de Santa Catarina foi o tema polêmico deste verão. E o assunto veio à tona logo no momento de maior fluxo de turistas no Estado: a virada de ano. Antes pouco lembrados, os relatórios da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma) que avaliam a balneabilidade de 211 pontos no litoral criaram expectativa a cada divulgação, às sextas-feiras. Desde o primeiro estudo de 2016, lançado em 8 de janeiro, até a primeira quinzena de fevereiro, houve crescimento no número de pontos impróprios. Canasvieiras, em Florianópolis, um dos balneá­rios mais conhecidos do Estado, passou uma semana com os oito locais de monitoramento sem condições para banho. Um cenário devastador para turismo e comércio, que se agravou com um surto de virose nos primeiros dias do ano no norte da Ilha.

Grande parte dos problemas nas praias esteve ligado ao esgoto, potencializado pela quantidade de dias chuvosos no começo de janeiro. Em Canasvieiras, uma estação elevatória verteu no dia 31 de dezembro de 2015 e jogou dejetos no rio do Braz, que desemboca no mar poucos metros adiante. Em entrevista sobre a poluição das praias, o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, Tarcísio Schmidt, chegou a dizer que a contaminação era pontual e que a alimentação foi a causa de muitas viroses contraídas por turistas, devido à ingestão do queijo coalho vendido por ambulantes. Os problemas de saneamento se espalharam também para Porto Belo, onde o esgoto manchou o mar.

A Casan, concessionária de água e esgoto de Florianópolis e outras cidades do litoral, reconheceu o problema depois de ser questionada pela prefeitura da Capital e prometeu ações ainda neste ano para que o tema saneamento não seja um problema novamente. Ao mesmo tempo, o assunto trouxe à tona as ligações irregulares de moradores, que em alguns casos têm a rede disponível, mas que não ligam suas casas ou estabelecimentos comerciais ao sistema de tratamento. Assim, o esgoto é despejado nos rios e, consequentemente, no mar.

A expectativa, principalmente dos moradores de Florianópolis e outras cidades do litoral, é que os temas saneamento básico e balneabilidade sigam o mesmo caminho do abastecimento de energia elétrica e água, que na temporada de 2013 e 2014 foram problemáticos e nos dois últimos verões tiveram melhoras significativas. Se eles forem resolvidos, haverá espaço para outra polêmica tomar conta na próxima temporada.

 

despeito das carências no maior aeroporto do Estado, o Hercílio Luz, em Florianópolis, e das sempre congestionadas rodovias que cortam o território catarinense, de uma coisa nem o turista nem o morador podem reclamar: salvo ocorrências pontuais, não foram verificados grandes problemas no fornecimento de água ou luz nos destinos mais procurados do Estado durante a temporada. E olha que não foi por falta de torneira aberta ou de chuveiro ligado: conforme a Casan, do Natal até 15 de fevereiro, o consumo de água no Norte da Ilha, região da badalada praia de Jurerê Internacional, foi de 27% a mais do que no verão passado.

Os picos em Florianópolis, que eram de 1.050 litros por segundo registrados (l/s) em 2014, pularam para 1.400 l/s. O recorde ocorreu em 8 de fevereiro, quando chegou a 1.750 l/s. A estimativa é de que naquele dia havia 756 mil pessoas na cidade.

Mas se o abastecimento correu sem maiores sobressaltos, não se pode dizer o mesmo quanto ao saneamento básico. O esgotamento sanitário – ou a ausência dele – foi a principal razão apontada para o aumento dos índices de praias impróprias para banho. Para resolver a parte que lhe cabe nessa situação, a companhia promete que a cobertura de esgoto em Florianópolis deve ultrapassar 70% até 2018 (hoje é de 57%). No Estado todo, a previsão é de que chegue a 49% nesse prazo. É fundamental, porém, que Fatma, prefeituras e cidadãos também façam cada um o seu papel, fiscalizando e se ligando às redes públicas.

Com relação à energia elétrica, a Celesc informou que a demanda média entre 21 e 31 de dezembro, no período das festas de final de ano, foi de 2.478 mW, 5,6% superior do que na mesma época de 2014.

 

DIOGO VARGAS

 

Festejada como uma das mais tranquilas por autoridades da segurança pública estadual, a temporada em Santa Catarina reacende algumas reflexões sobre o futuro da área em um Estado que enfrenta a dura realidade de efetivo abaixo do ideal nas polícias Civil e Militar.

Aumento de homicídios, de roubos em geral (quando há violência contra a vítima), de ocorrências com drogas, o expressivo número de mortes por afogamentos, além da sensação de insegurança no interior movida pelo deslocamento dos policiais para o litoral são alguns dos pontos que entram em discussão entre servidores da segurança.

As estatísticas revelaram crescimento de 20,7% dos assassinatos, delito em alta em Santa Catarina desde o último ano. No Norte do Estado, difícil deixar de registrar a onda de violência que atinge Joinville, que bateu recorde de mortes em 2015 e começou 2016 com 22 homicídios.

A segurança pública e as polícias desencadearam ações imediatas e prometeram serviços de inteligência a longo prazo para identificar e prender líderes de duas facções criminosas envolvidas diretamente com a grande maioria dos crimes contra a vida na mais populosa cidade catarinense.

Mas também houve fatos em outras regiões e em meio a turistas que chamaram a atenção durante o verão. Na noite de 12 de fevereiro, no acesso ao centrinho da praia da Guarda do Embaú, em Palhoça, na Grande Florianópolis, dois turistas gaúchos ficaram entre o fogo cruzado disparado por criminosos em um estacionamento, foram baleados e sobreviveram – o alvo dos bandidos morreu no local.

Do índice de aumento de 2% nos roubos em geral,  destacou-se a divulgação constante de turistas estrangeiros assaltados ou que tiveram bens furtados e decidiram antecipar a volta para casa. Policiais experientes acreditam que essa situação pode ser melhorada a partir de mais informações aos hermanos, como dicas básicas de cuidados que muitas vezes são menosprezados.

Nos quartéis, há discussão em torno das mortes por afogamentos: foram 95 esta temporada, índice expressivo. O balanço mostra que 66 pessoas perderam a vida em água doce onde não havia salva-vida, o que leva à necessidade de reflexão sobre criar um planejamento de ação disponibilizando profissionais também nesses lugares. O mesmo pensamento é necessário diante do levantamento em torno de mortes em água salgada: foram 26 mortes onde não havia salva-vida e três em locais vigiados.

 

VICTOR PEREIRA

 

anto quanto um bom protetor solar, a paciência é um item de necessidade básica para quem vem a Santa Catarina no verão, especialmente ao litoral. Claro que sempre dá para melhorar, mas esperar rodovias, avenidas e ruas vazias nesta época do ano é abusar da ingenuidade e da confiança de gargalos históricos, e problemas estruturais serão resolvidos por obras paliativas.

Especificamente neste verão, há pontos a se comemorar no Estado depois de anos com problemas pontuais se repetindo. A nova Ponte de Laguna deu vazão mais do que satisfatória ao trânsito no Sul de SC e o Morro do Formigão, em Tubarão, nem de longe representou o mesmo transtorno. A lógica é matematica: antes um entrave de mais de 3 mil metros gerava filas superiores a 15 quilômetros. Agora, um trecho de dezenas de metros ainda por duplicar não provoca mais do que cinco quilômetros de congestionamento.

Dentro da Ilha de Santa Catarina, a conclusão da duplicação da SC-403 em Ingleses e o elevado de Canasvieiras deram fôlego ao norte da cidade, região por onde trafegaram mais de 100 mil veículos nos dias de pico.

Se gaúchos e catarinenses do Sul do Estado comemoraram a diminuição das filas, por outro lado quem visitou o litoral norte enfrentou mais uma temporada de longos engarrafamentos. Quinze quilômetros de lentidão já nem era motivo de reclamações durante janeiro entre Itapema e Balneário Camboriú, com a fila chegando a 50 quilômetros entre Porto Belo e Navegantes no ápice do movimento, dia 3 de janeiro.

Por isso que a paciência se faz tão necessária. Se em Tubarão e outros trechos como o Morro dos Cavalos o impasse se resolverá com obras em regiões como o litoral norte e a Grande Florianópolis a solução só virá em décadas – isso se um dia ela chegar.

A duplicação da já duplicada BR-101 é o sonho de todo motorista, mas aí voltamos ao papo da inocência, passando por vontade política, investimento, planejamento, execução... Talvez nossos bisnetos estejam vivos para contar essa história. Outra ação importante seria retirar o tráfego pesado das BRs, especialmente, e também das SCs, usando ferrovias, hidrovias... Bom, aí é só voltar ao final da frase anterior e temos a resposta às chances disso acontecer.

Com o real desvalorizado atraindo os hermanos, o turismo nacional pra lá de aquecido diante da crise e Santa Catarina concentrando alguns dos principais destinos turísticos do Mercosul em uma pequena faixa territorial, era mais do que esperado um movimento recorde também nas rodovias catarinenses. Não há muito mais a se fazer além de seguir as orientações das policias rodoviárias de observar melhores horários para viajar, condições do tráfego e situação do veículo, dentro daquela já tradicional cartilha das férias. Portanto continue confiando na melhoria com as obras (porque acreditar é fundamental nessa vida), exercite a paciência e use muito filtro solar.

 

Carol macário & Yasmine holanda fiorini

três shows

celebridades virtuais

Tirando um Selton Mello aqui, uma Ísis Valverde ali, as modelos e os globais trocaram Floripa por Trancoso (BA) ou São Miguel dos Milagres (AL). A jornalista Laura Coutinho chegou a comentar na coluna What’s Up: “Jurerê no passado: Rodrigo Santoro, Jared Leto, Isis Valverde, Neymar, Reynaldo Gianecchini, Alessandra Ambrósio. Jurerê no verão 2016: Kleber Bambam, Lui Mendes e Marco Antonio Gimenez”. Os famosos da vez são os populares na web, aqueles que ninguém conhece, exceto milhões de pessoas: os irmãos norte-americanos Jake e Logan Paul, que ficaram famosos com vídeos toscos na rede social Vine, passaram uns dias em Jurerê Internacional e não conseguiam andar nem cinco minutos sem serem abordados por fãs adolescentes.

Jake e Logan Paul no clique da repórter Yasmine

modinha

- Tomar sucos e drinques em vidros de conserva – ou melhor, em Mason jars – virou cool, cult, chique ou seja lá qual for o adjetivo mais adequado.

 

- Sai o ceviche, entra o tartar. O prato foi o hit nas mesas mais descoladas do verão, nas versões steak, salmão ou atum.

 

- Os turistas nunca compraram tantos filtros dos sonhos, principal item vendido nas barraquinhas hippies do Centrinho da Lagoa da Conceição.

opinião

Dois dos principais colunistas do DC tiveram posições opostas sobre este verão:

QUEM SOMOS

JULIA PITTHAN

Editora

julia.pitthan
@diariocatarinense.com.br

EMERSON GASPERIN

Repórter

emerson.gasperin
@diariocatarinense.com.br

ÃNDERSON SILVA

Repórter

anderson.silva
@diariocatarinense.com.br

DIOGO VARGAS

Repórter

diogo.vargas
@diariocatarinense.com.br

CAROL MACÁRIO

Repórter

caroline.macario
@diariocatarinense.com.br

VICTOR PEREIRA

Repórter

victor.pereira
@diariocatarinense.com.br

YASMINE HOLANDA FIORINI

Repórter

yasmine.fiorini
@diariocatarinense.com.br

ALINE FIALHO

Editora de arte e diagramação

aline.fialho
@diariocatarinense.com.br

RICARDO WOLFFENBÜTTEL

Editor de fotografia

ricardo.wolff
@diariocatarinense.com.br