anta Catarina é um Estado de direita? Pelo menos pelo que dizem as urnas, sim. Desde a redemocratização em 1982, apenas um em cada cinco dos eleitos pelos catarinenses para vereador, prefeito, deputado estadual, federal, senador e governador situava-se à esquerda. Também nas corridas presidenciais, os principais candidatos de oposição ao governo petista ganhariam as três últimas eleições já no primeiro turno se computados somente os votos catarinenses. Apesar dos números, há quem conteste:

 

– Mas não dá para dizer que o Estado é de direita com base nos resultados das eleições, pois a maioria dos partidos brasileiros não têm coerência ideológica. Devido à necessidade de conquistar o eleitor médio, que em geral está no centro, e selar alianças para sobreviver politicamente, os partidos fazem concessões que os afastam de seus programas, sejam de direita ou de esquerda – analisa o professor Jean Castro, do Departamento de Sociologia e Ciências Políticas da UFSC.

 

Um estudo sobre as coligações no Estado entre 1986 e 2004 feito pelo cientista político Yan de Souza Carreirão comprova a tese. Sobretudo nas candidaturas a prefeito, a estratégia de compor chapas com média (centro + direita ou esquerda) ou fraca (direita + esquerda) coerência ideológica apresentou um rendimento superior aos daquelas mais consistentes. Coligados foram maioria (61%) e venceram mais (47%, ante 28% dos que concorrem por um partido isolado) quanto mais misturados estiveram. Dos dois terços das coalizões envolvendo siglas de campos ideológicos diferentes, metade saiu vitoriosa, contra 40% das formadas por afins.

 

Ou seja, na política real o antagonismo direita-esquerda muitas vezes transforma-se em parceria, para arrepio do que Castro define como franjas minoritárias do eleitorado, aqueles que têm posições ideológicas mais marcadas.

o longo do século 20, a política catarinense foi dominada por duas famílias com raízes no Partido Conservador. Os Ramos, de Lages, eram ligados a grandes produtores rurais da Serra. Os Konder Bornhausen, de Itajaí, ao comércio marítimo e fluvial, à indústria têxtil do Vale do Itajaí e à fundação do primeiro banco de crédito do Estado, o Inco (Banco da Indústria e Comércio, comprado pelo Bradesco em 1960). Os dois clãs ocuparam o governo por 10 mandatos e o Senado por oito.

 

A rivalidade entre eles, embora todos militassem no Partido Republicano Catarinense, acentuou-se com a revolução de 1930. O governador Adolfo Konder foi deposto pela Aliança Liberal e, em seu lugar, assumiu Nereu Ramos, simpático a Getúlio Vargas. Com o fim do Estado Novo em 1945, os Konder Bornhausen passaram a comandar a União Democrática Nacional (UDN), de direita; os Ramos, o Partido Social Democrático (PSD), de centro-direita. O golpe de 1964 os reuniu na Aliança Renovadora Nacional (Arena) em nome do combate à ameaça comunista.

 

Atritos circunstanciais – como a indicação de Colombo Salles, um engenheiro sem experiência política da ala renovadora da Arena, pelo presidente Médici para o governo estadual em 1971 – não impediram que a dobradinha seguisse. Mas, à falta de herdeiros com a vocação de Vidal, Nereu, Celso e Aderbal, os Ramos viram sua influência diminuir com a nomeação de Antônio Carlos Konder Reis e Jorge Konder Bornhausen como governadores em 1975 e 1979.

 

O retorno das eleições diretas para o governo em 1982 consagrou Esperidião Amin, que já era quase da família: com a bênção dos Konder Bornhausen, fora nomeado prefeito de Florianópolis em 1975. A criatura iria se voltar contra o criador em 1986. Naquele pleito, ele e Jorge lançaram candidatos separados e perderam juntos para Pedro Ivo Campos (PMDB). A ascensão de uma corrente de centro, identificada com os adversários do regime militar, alteraria para sempre as forças no tabuleiro político local.

 

Jorge Bornhausen, hoje aposentado da política partidária, e o filho, o ex-deputado federal Paulinho, que hoje é presidente de um partido com “socialista” na sigla (PSB), optaram por não falar sobre o tema à reportagem. Paulinho deu a entender que a conceituação é uma preocupação maior da academia do que do eleitor. Contudo, o patriarca já se manifestou a respeito.

 

– A direita não cabe no figurino brasileiro. Temos que considerar nossas condições sociais. Não podemos querer uma economia de mercado pura, sem um Estado regulador. Temos que fazer com que o Estado seja um instrumento a serviço do cidadão, especialmente o menos favorecido. Não é questão de Estado máximo e Estado mínimo, mas de Estado necessário – declarou Jorge Bornhausen em 2006, em entrevista à revista Veja.

 

 

 

deputado federal Rogério Peninha Mendonça (PMDB) é hoje uma das figuras que mais encarna, divulga e alimenta a crença de que SC seria um Estado de direita. O parlamentar ganhou o noticiário nacional com uma proposta que prevê a revogação do Estatuto do Desarmamento.

 

– O objetivo do PL 3722-2012 não é armar a população, e sim dar ao cidadão o direito de autodefesa – sustenta o parlamentar, em meio a cumprimentos de correligionários no aeroporto Hercílio Luz, sobre o projeto de lei que regula a posse, o porte e o comércio de armas de fogo e munição no Brasil.

 

Peninha tem rodado o país com a proposta bélico-protetora.  Em Santa Catarina, realizou duas audiências públicas. Uma em Blumenau, a maior cidade de sua base eleitoral, o Vale do Itajaí. Na plateia estavam vários senhores com trajes típicos germânicos, representando as tradições dos colonizadores da região – como as sociedades de atiradores (schützenverein), associações recreativas sempre mencionadas por Peninha para justificar a convivência dos eleitores com as armas desde pequenos.

 

A outra audiência ocorreu em Chapecó, reduto do deputado federal João Rodrigues (PSD), autor de projeto que permite a taxistas e motoristas de caminhão portarem armas no trabalho. Peninha foi ovacionado em ambas as sessões – tanto quanto o maior entusiasta da ideia e presença constante nesses encontros, o também parlamentar Jair Bolsonaro (PP-RJ), que não esconde de ninguém para qual lado pende.

Em outubro, o paulista eleito pelos fluminenses voltou a Blumenau, novamente a convite do catarinense, para um final de semana na Oktoberfest. De traje típico alemão, poderia ser confundido com um nativo, não fosse o sotaque e o tratamento de popstar que recebeu. Participou do desfile, estrelou uma infinidade de selfies. E foi saudado pelos populares.

 

– Sinto que o que eu falo é o que esse povo também quer falar – exultou Bolsonaro antes de voltar para casa.

 

Peninha apoia a redução da maioridade penal, “principalmente para crimes hediondos”. Rechaça a descriminalização das drogas, “todas”. Tolera aborto “somente em determinados casos, como estupro e doenças que ponham a mãe ou o feto em risco”. E diz que respeita a união homoafetiva, mas é contra a adoção nesses casos porque acha que “para uma família constituída dessa forma – homem com homem, mulher com mulher – é muito difícil dar uma educação à criança como deveria”.

 

A diferença em relação ao deputado está no tamanho do Estado brasileiro e no posicionamento ideológico. Com exceção dos serviços bancários, grande parte dos vereadores acredita que só o governo que deve administrar setores como educação, saúde, aposentadoria e previdência social e infraestrutura. Eles se declaram de centro (32%), centro-direita (22,7%) e direita (19%).

 

– Em todo o Brasil, ainda há uma certa reserva em se assumir como conservador ou de direita porque essas são características associadas ao período da ditadura – diz o cientista político Carlos Eduardo Sell, da UFSC.

 

Como Santa Catarina escolheu os representantes no município,

Estado e Planalto desde a redemocratização, em 1982, até hoje

QUEM SOMOS

Groucho Marx

(1890-1977)

 

EMERSON GASPERIN

 

Considera-se um intelectual orgânico (e eventualmente sintético) de pós-esquerda, mas não passa de um groucho-marxista.

 

 

emerson.gasperin
@diariocatarinense.com.br

Margaret Thatcher

(1954)

 

JULIA PITTHAN

 

Defende a liberdade, mas acredita que o Estado precisa dar uma ajudinha para a mão invisível do mercado manter as coisas em ordem na economia.

 

 

julia.pitthan
@diariocatarinense.com.br

Patrícia Galvão – Pagu

(1910-1962)

 

ALINE FIALHO

 

Como todo criativo, acredita que possui o lado direito do cérebro mais desenvolvido – mas ainda tem dificuldades

em distingui-lo do esquerdo

 


aline.fialho
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