"Professor". Para esta se tornar uma das primeiras respostas à pergunta "O que você vai ser quando crescer?", um longo caminho tem de ser percorrido. O profissional que move a engrenagem da educação no país precisa de infraestrutura, qualidade na formação, valorização, tempo e qualidade de vida.

Pesquisa divulgada na última semana mostra que o status dos professores no Brasil é o segundo pior entre 21 países participantes do estudo Índice Global de Status de Professores Varkey GEMS, primeira tentativa de comparar atitudes em relação a professores em todo o mundo. O Brasil ocupa o penúltimo lugar do ranking, à frente apenas de Israel. A avaliação negativa é comparável com os baixos níveis de aprendizado dos alunos. Nos testes, o desempenho brasileiro foi identificado como inferior ao de países com PIB semelhante. A China ocupa o primeiro lugar no estudo.

Nesta etapa da campanha A Educação Precisa de Respostas, do Grupo RBS, a discussão se volta à atividade do magistério. Para mapear o rumo das mudanças necessárias, o Diário Catarinense entrevistou especialistas que delinearam a vida, a qualificação e as condições de trabalho do professor ideal.

A mudança começa pela formação docente em cursos de licenciatura e pedagogia, voltados para a prática de ensino.

Passa pelo reconhecimento e respeito ao professor pela sociedade e o poder público, incluindo salários atrativos e competitivos.

Envolve uma realidade em que o docente não precise atuar em três ou quatro empregos para complementar a renda.

Consiste em propiciar ao educador uma rotina na qual ele tenha tempo de se atualizar e planejar aulas atraentes e que ajudem o aluno a absorver cada vez mais os conteúdos.

O perfil não é somente o ideal, mas o necessário para o Brasil. Para o consultor e doutor em educação Antônio Pazeto, existem recursos e condições para se promover a transformação. Falta vontade e coragem para inovar.

 
 
 
 
Palavra do professor  
"Desperto. Sorrio. Motivo-me"  
Por Josiane Motta
Professora de Literatura e Redação

Josiane Motta é professora de Literatura e Redação em Florianópolis. Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS
 
 

Era uma vez uma professora muito, mas muito feliz. Vivia num país distante, onde profissionais como ela eram tratados com muito carinho e respeito, valorizados pela sociedade.

Exclusiva de uma escola, responsável por poucas turmas, em seu contrato havia horas destinadas especificamente ao planejamento das aulas. Com a excelente remuneração, adquiria bons livros e muitas revistas, mantendo-se sempre informada. As férias eram destinadas às viagens com roteiros culturais, experiências que enriqueciam seu trabalho, dando propriedade aos seus relatos em sala.

Tinha a sua disposição recursos eletrônicos, possibilitando aulas ainda mais dinâmicas e interessantes, despertando nos alunos a vontade de saber. Eles a-do-ra-vam cada lição.

6h. O despertador toca. Hora de acordar. O sonho acabou. Cansada da rotina exaustiva, penso: ‘Que dia é hoje? Para qual das escolas devo ir?’

Trabalho em 4 instituições no período diurno e em cursinhos no período noturno. A última aula da noite anterior foi a 30km ao sul de minha residência. Agora, o dia começa a 30km também, só que ao Norte. Confesso, em certos momentos, perco os sentidos.

Recupero-me. Pego o material do dia e sigo. Lembro-me que havia programado passar a noite corrigindo provas, mas o cansaaço me venceu. O café é no carro, no caminho.

7h30min. Hora de começar. Sala lotada. Turma agitada. Apenas quadro e giz, o que não os motiva muito. Pergunto: ‘Fizeram a lição?’ Resposta: ‘Não’. Um certo desânimo ameaça surgir, quando percebo um pequeno papel na minha mesa, um bilhete. Nele, palavrinhas mágicas: ‘Professora, nós te adoramos.’ Desperto. Sorrio. Motivo-me. ‘Bom dia, pessoal`.