Bruna Góes: "não sou a  Amy e nunca vou ser"

TEXTO |  YASMINE FIORINI

Lady Marmalade, de Patti LaBelle

asemelhança entre a catarinense Bruna Góes e Amy Winehouse impressiona e vai além da aparência e do timbre de voz. Ela garante que as duas têm aspectos da personalidade em comum. É agradecida pelo que a cantora britânica proporcionou em sua vida e reconhece que não estaria cantando se não fosse por ela. Mas, se tivesse o poder, abriria mão de seu talento se essa opção mantivesse Amy viva.

Bruna já é popular em Santa Catarina desde 2011, quando começou a fazer tributos à cantora britânica em bares e casas de show. Uma temporada do The Voice depois, programa do qual participou em 2013, atraiu fãs de todo o país. Ela seguia a carreira e planejava o lançamento do primeiro álbum quando chamou a atenção da produção do tributo Back to Amy, que estreou no mês que marca os cinco anos da morte da cantora inglesa. O espetáculo chega a Santa Catarina em 4 e 5 de agosto, às 20h30min, no Teatro Governador Pedro Ivo, em Florianópolis.

Em uma breve passagem pela Capital entre uma apresentação e outra, Bruna conversou com o DC, relembrou sua trajetória e abriu o jogo sobre o carinho que sente por Amy.

Como tudo começou

Tinha uns 13 anos e tinha visto o filme do Ray Charles e ficado emocionada. Aí eu era o rock and roll em pessoa e conheci o blues, o jazz e afins, e pensei: quero conhecer todo mundo que ele influenciou e todo mundo que o influenciou. Comecei a ouvir um monte de gente morta, Sarah Vaughan, Frank Sinatra, Billie Holiday, essa galera. Conheci Stronger Than Me, da Amy. Na época, não existia cabelão, Rehab, No No No, nada disso, e eu achei interessante o fato dela conseguir resgatar a essência disso tudo, dessa galera que já tinha morrido, e contextualizar aquilo de uma forma contemporânea. Pensei: você é um gênio, linda. E desde então sou apaixonada e a acompanho.

Semelhanças

As pessoas começaram a falar quando estourou Rehab aqui. Ela passou por uma transformação de imagem e estilo, fez aquele monte de tatuagem, deu uma emagrecida, e começaram a falar que eu me parecia com ela. Ou com a Pitty, sempre tem essa também. No começo, não falavam da voz, porque quando eu conheci a Amy, eu não cantava ainda, trabalhava no shopping e fazia Publicidade na Unisul. Começaram a falar da voz só depois que comecei a fazer o tributo, em 2011. Falavam que era parecida com a dela, ainda que eu não tentasse imitar, porque como fã e perfeccionista eu pensava: não vou ter essa petulância. Só que hoje isso é um pedido da produção do tributo Back to Amy. Esse resgate é importante para que a gente possa emocionar o público, o que de fato tem acontecido.

Primeiro tributo

Eu tinha um amigo que era músico e queria fazer um projeto de tributo. A Amy morreu no meio do caminho e ele falou: vamos fazer. Falei que não era cantora e ele disse que era algo despretensioso. Isso foi em 2011, por volta de outubro. Na época, eu tinha 17 anos e estava interpretando a Amy. Não era nada demais, ao meu ver, mas por eu ser uma pirralha eles falaram: que legal.

Caracterização

No começo, eu me caracterizei. Mas como me apresentava em casas de shows, onde a galera bebe, as pessoas vinham e me davam umas garrafas de vodca, ou vinham reclamar que ficaram tristes porque eu não bebi. Eu falava: não, lindo, aqui é Bruna. Aí parei de me caracterizar e foi um tiro no escuro. A gente achava que a caracterização trazia o público, mas não, foi legal igual. As pessoas continuaram indo.

Fotos: Paulinho Sefton

Convite para tributo Back to Amy

Eu estava trabalhando no meu CD, prestes a lançar o projeto via Kickante, quando recebi o convite, no início do ano. Aí peguei caxumba e fiquei 20 dias em casa. Nesse meio tempo, ligaram pra minha mãe, que é minha assessora, e falaram do espetáculo. Eles estavam fazendo seleção para a Amy e um cara de Blumenau achou que era comigo e falou que eles deveriam me conhecer. Então, eles quiseram saber quem eu era. Ele tinha ido em um show tributo meu de quando eu tinha 19 anos. Foi um chamado. Acho que a caxumba nem foi à toa.

Cover X Tributo

Eu sempre chamei de tributo. É que o cover é alguém que consegue representar de forma fidedigna. Tipo o Rodrigo Teaser que faz o Michael Jackson: ele estudou muito o Michael, sabe o jeito que o cara respira, é uma coisa que eu não teria capacidade de fazer, sinceramente. Eu acho que a Amy é muito única. É que eu sou muito fã também. Não acho que eu tenha essa capacidade mesmo que estude, e eu também não quero porque sou fã dela, é meio difícil pra mim. Não sou a Amy e nunca vou ser, beijos. Não tem como.

23/07/2011

Foi horrível. Eu dormia e ouvi minha mãe no corredor falar: nossa, isso vai dar merda. Aí ela entrou no meu quarto: filha, liga na Globo News. A Amy morreu, filha. Nem abri o olho e a lágrima já estava escorrendo. Sabe aquele choro de criança, que primeiro não sai nada? Foi assim. Fiquei uma semana em casa chorando as pitangas. Mais pessoas ligaram para mim no dia que ela morreu do que no meu aniversário. Você tá bem? Não, não to bem. Eu estava devastada.

Só fã entende

Se eu pudesse abrir mão de ter descoberto que eu queria ser cantora para ela estar viva, eu abriria. Com certeza. Preferia mil vezes. Sou fã mesmo. É bem difícil.

Acho que ela é a única por quem eu tenho esse sentimento. Minha mãe tem pelo Michael. Ela me amaldiçoou no dia que ele morreu. Eu contei para ela como se fosse um bafão: mãe, o Michael morreu. Claro, eu estava triste também, mas não era essa coisa toda. E aí ela olhou pra mim, apática, se trancou no banheiro e eu só ouvi ela chorar litros. Eu fiquei: "meu Deus, o que eu fiz?" Aí ela falou: "você vai ver, quando a Amy morrer o que eu estou passando".

Características comuns

Tenho muitas, na verdade. Acho que ela é bem espontânea, não media muito as coisas antes de falar, e eu também sou muito assim. A impulsividade, o perfeccionismo, essa coisa de não conseguir disfarçar. Ela não faz a linha diva, glamour. É tipo: cara, eu sou isso. Mas não é porque ela é vida louca, é porque ela só sabe ser aquilo, entendeu. Eu me sinto muito assim. Não consigo fingir, fazer sala. Não consigo me fazer agradada para agradar. Simplesmente sou.

O que falaria pra Amy se tivesse a oportunidade

Já imaginei essa situação algumas vezes. Eu parei de imaginar depois que ela morreu porque é muito dolorido. Cara, eu acho que a gente ia ter muita coisa pra conversar. Eu acho que ela gostaria, modéstia à parte, de conversar comigo porque a gente tem gostos musicais parecidos e eu sei que, pelas entrevista que eu já vi de amigos dela, que era um assunto que interessava ela bastante. Mas não sei se eu teria essa credibilidade, essa oportunidade de ter essa conversa com ela. Acho que eu falaria mais o essencial, agradeceria, com certeza. Compartilharia esse meu processo da descoberta com ela. Acho que isso seria o mais importante. Dar um abracinho delícia nela. Sentir o cheirinho.

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