Um emaranhado de casos e relações ajuda a entender como funcionam e se articulam as facções criminosas que atuam em Santa Catarina. Na disputa por espaço e pelo comando do tráfico de drogas e de armas, as organizações criminosas aterrorizam e tornam reféns comunidades inteiras. Uma verdadeira guerra que vem sendo travada e nem sempre fica exposta aos olhos da sociedade
SISTEMA PRISIONAL
É de dentro das cadeias – de SC ou não – que costumam agir os líderes do tráfico de drogas e onde a tensão entre as facções criminosas tem se acirrado. Documentos judiciais a que o DC teve acesso confirmam a presença de presos do PCC nas penitenciárias do Estado. Em um desses processos, de 1º de abril deste ano, o juiz João Marcos Buch abriu procedimento, a partir de ofício assinado pela direção da Penitenciária Industrial de Joinville, para que sete detentos do comando paulista, em razão de ações programadas por este grupo e para garantir a integridade física deles, fossem transferidos para outras unidades prisionais no Paraná, São Paulo ou Minas Gerais. Agentes penitenciários também reforçam em relatos que há conflitos internos nas prisões entre detentos associados ao PCC e ao PGC.
CHEFES DO CRIME ORGANIZADO
São bandidos de grande cacife, que vivem geralmente do comando do tráfico de drogas e da lavagem de dinheiro em Santa Catarina, a partir da compra de bens como imóveis e veículos. Dificilmente são os que colocam as mãos em cargas de drogas ou se envolvem em ações armadas nas ruas. Inteligentes, frios, calculistas e violentos, costumam ordenar crimes como homicídios de traidores, desafetos ou inimigos. Em outros Estados, como São Paulo, há casos em que mandaram matar policiais, agentes prisionais e até um juiz.
VIOLÊNCIA URBANA
Tiroteios em comunidades conflagradas, ameaças a policiais, danos em viaturas, destruição do patrimônio público, balas perdidas. A disputa por espaço no tráfico de drogas alavanca índices de homicídios em cidades do Estado como Criciúma e Joinville, onde morreu Matheus Avi de Oliveira, seis anos, vítima de bala perdida em um tiroteio entre criminosos no Jardim Paraíso, em junho. Na Grande Florianópolis, a execução a tiros em plena manhã na Avenida Beira-Mar Norte de Márcio Henrique da Silva Júnior, 26, em junho deste ano, também deixa evidente a sensação de insegurança.
MORTE DE GERENTE
A polícia suspeita que a apreensão de uma carga de 600 quilos de cocaína em Barra Velha, em dezembro de 2014, possa ser a principal causa da morte do traficante Tiago Cordeiro, o Calcinha (foto), de Florianópolis, assassinado em abril deste ano num posto de combustíveis na Costeira. A polícia o considerava braço do narcotraficante Neném da Costeira, preso desde 2008 e investigado pelo fornecimento de drogas ao Primeiro Grupo Catarinense (PGC).
ESCALADA DOS HOMICÍDIOS
Com 78 registros de mortes desde o começo do ano, incluindo homicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e confrontos com a polícia, Joinville enfrenta uma onda de violência em larga escala. As polícias montaram uma força-tarefa na tentativa de frear as mortes, muitas delas geradas por causa de confrontos entre as facções paulista e catarinense.
CHICO MENDES (PGC) x NOVO HORIZONTE (PCC)
A violência que atinge as duas comunidades localizadas na região continental de Florianópolis é mais uma evidência da guerra das facções, que disputam o comando dos pontos de vendas de drogas. Há criminosos ligados ao PCC que tentam eliminar os do PGC e vice-versa. Tanto na Chico Mendes quanto na Novo Horizonte, o tráfico alimenta cracolândias e é ponto de partida para uma série de outros crimes como furtos, roubos, vandalismo e prostituição. Só neste ano a região foi palco de duas megaoperações das polícias Civil e Militar. O grande número de adolescentes à frente dos delitos dificulta a ação da polícia. Líderes das quadrilhas que comandam o tráfico nas comunidades ainda não foram presos.
CONFLITOS NA GRANDE FLORIANÓPOLIS
Outro conflito antigo na região foi agravado atualmente em São José com o domínio de criminosos do PCC no Morro do Boa Vista, que tentam ocupar ainda mais espaço avançando sobre a comunidade Morar Bem/Cidade de Deus. A área tem intenso comércio de drogas como crack e cocaína. O mesmo tipo de ação criminosa acontece no Morro do Chicão, em Biguaçu.
TRÁFICO PELO PORTO
Grandes cargas de cocaína estão sendo remetidas clandestinamente de SC para o exterior pelo mar. A rota, traçada a partir do Porto de Itajaí, é investigada pela PF. Esse transporte também estaria sendo articulado por grupos independentes, a partir de comandos do Paraguai. A tese de que portos são usados pelas organizações é reforçada pela localização e apreensão de 600 quilos de cocaína no mar de Barra Velha, litoral Norte. A droga foi encontrada boiando próximo à praia em dezembro de 2014 e ninguém foi preso. Esse tipo de prática, de atuar com remessa de grandes cargas de cocaína, é característica do PCC.
QUADRILHAS DO CANGAÇO
Mais independentes no crime organizado, as quadrilhas de assaltantes de banco dos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul atacam com força neste ano o interior catarinense. Abastecidas pelo tráfico de armas, uma das fontes do PCC, usam fuzis, atiram contra a polícia e explodem caixas eletrônicos. Também passaram a atuar no estilo cangaço, pelo qual fazem reféns como escudo humano para evitar reação da polícia.
CAPTURAS EM SC
No dia 20 de maio, a polícia de SP esteve em Santa Catarina para prender, em operação conjunta com a Polícia Civil catarinense, Wendel Tavares Leite, de Santos, integrante do PCC. Capturado num apartamento em São José, onde vivia há três anos, é suspeito de liderar o tráfico na Baixada Santista, além de ordenar ataques criminosos naquele Estado.
Também foi detido em SC Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí. Em 2012,Piauí foi capturado pela PF quando assistia a um jogo de futebol em Itajaí. Apontado em investigações como homem forte do PCC e líder do tráfico em Paraisópolis, comunidade da capital paulista que dá nome à novela da Globo, é suspeito de encomendar mortes de PMs em SP.
A captura mais recente de membros do PCC ocorreu em 14 de agosto deste ano, quando dois suspeitos de envolvimento em assassinatos ocorridos no bairro Jardim Paraíso, em Joinville, foram localizados em Garuva, no Norte de SC. Um homem foi preso e um menor apreendido (foto acima).
LAVAGEM DE DINHEIRO
A região de Balneário Camboriú é uma das mapeadas pela polícia como refúgio dos chefões do crime organizado. Lá, adquirem bens caros, ostentam riqueza e têm uma vida noturna agitada. Como exemplo, a PF cita Alexander Dunhill, de São Paulo, assassinado em Balneário Camboriú, onde estava morando. O corpo foi encontrado em 12 de janeiro de 2014 no rio Camboriú. Na época em que foi morto, Dunhill era apontado pela polícia como um dos principais traficantes de cocaína no território catarinense e dono de estreitas ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
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