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Ponte Anita Garibaldi

O ELO DO SUL

Como a nova ponte de Laguna deve mudar a região Sul de Santa Catarina

e as histórias de quem viu a gigante surgir dentro das águas

ssim como em 1884, quando o surgimento da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina abriu caminhos rumo ao porto de Imbituba para a cerâmica de Criciúma, mais de cem anos depois, a ponte Anita Garibaldi, em Laguna, surge como esperança de um novo elo para o desenvolvimento do Sul do país. A inauguração da maior estrutura estaiada em curva do Brasil, neste mês de julho, encerra um período histórico de filas e atrasos na BR-101 e descortina um novo cenário para o sul de Santa Catarina, região mais atingida pela leniência no andamento da duplicação

da rodovia. Foram três anos de obras e R$ 760,8 milhões investidos para acabar com os quatro quilômetros de pista simples e a média de duas horas que motoristas perdiam nas filas no local.

 

A mesma esperança que fez moradores e autoridades se mobilizarem pela construção da ponte de Laguna anima para o desenvolvimento futuro. Os eixos econômico e turístico serão, segundo especialistas do setor, os mais beneficiados. Mesmo ainda longe de ser o fim da tão esperada duplicação da BR-101 Sul, iniciada em 2005, – que esbarra na construção dos túneis em Palhoça e dos trechos complementares ao longo da rodovia –, a estrutura sinaliza a esperança de que uma luta histórica está perto de acabar.

 

O avanço na logística pelo Estado é um dos impactos mais esperados. O setor cerâmico de Criciúma, segundo maior polo do país, escoa 95% da sua produção pela BR-101, e a expectativa é de que, sem as filas em Laguna, haja uma redução de cinco horas no tempo de viagem. Empresários acreditam que, a partir de 2016, os benefícios serão mais evidentes, inclusive no porto de Imbituba, onde o transporte de cargas deve ficar mais ágil.

 

O prefeito de Laguna, Everaldo dos Santos (PMDB), lembra que a construção da ponte em três anos movimentou a economia local, gerando R$ 22,5 milhões de Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e formalizando mais de 1,4 mil empregos diretos. Para Santos, a partir da inauguração, a estrutura será um caminho para o crescimento:

 

– É uma ponte que divide o sul do Brasil. Com a ponte concluída, acabou o gargalo aqui do Sul. Quem ganha com isso é Santa Catarina, não só Laguna – define.

 

A abertura da ponte para o trânsito deve favorecer também o turismo. As vias terrestres são a opção de 60% dos turistas que vêm a Santa Catarina. A maioria deles – 38% são gaúchos e 35% de países da América do Sul, de acordo com dados da última temporada – usa a BR-101, e a expectativa da Santa Catarina Turismo (Santur), é que com a liberação do fluxo em Laguna o fluxo de visitantes ao Estado aumente em 10%.

 

Os números poderiam ser ainda maiores se a duplicação de toda a rodovia estivesse concluída. A ponte Cavalcanti, em Tubarão, ainda está sendo finalizada, e o trecho do Morro dos Cavalos, em Palhoça, segue em impasse: o projeto de construção dos túneis ignora a presença de uma área indígena e ainda está em discussão no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Mas o túnel do Morro do Formigão será liberado junto com a ponte.

 

Mesmo com a ampliação da rodovia incompleta, a inauguração da Ponte de Laguna é o símbolo de um novo momento para Santa Catarina. Depois de um período de longas filas, horas de espera e perdas econômicas, inicia-se um ciclo impulsionado pela nova estrutura, que será uma ligação com o desenvolvimento.

 

Faça um passeio pela Ponte Anita Garibaldi

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A gigante de Laguna

Os números que descrevem a nova estrutura de ligação do Sul de Santa Catarina dão a real dimensão da sua complexidade e importância para o Estado. Dos estais que sustentam o vão central ao número de trabalhadores na obra, a Ponte Anita Garibaldi se apresenta como a nova gigante catarinense.

IMAGENS OMAR FREITAS

Estrada para o progresso

om a proximidade da conclusão das obras de duplicação da BR-101 Sul, cresce a expectativa do empresariado pelos avanços que devem ser vistos na região, já que a rodovia é vista como um eixo econômico e turístico de integração da região com o restante do país e com o Mercosul.

 

Um dos principais impactos será o avanço na logística. O setor cerâmico de Criciúma - segundo polo do Brasil, atrás apenas de São Paulo - deve conquistar novos clientes com a redução do valor e tempo do frete. Presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Criciúma (Sindiceram), Otmar Muller, afirma que são produzidas cerca de 230 mil toneladas de produtos cerâmicos por mês pelo setor, sendo que 95% dessa produção transita pela BR-101. Isso representa 8,5 mil carretas por mês que saem da região para escoar a produção e, pelo menos, 2,1 mil que trazem matéria-prima ao polo de Criciúma.

 

– Sem dúvida há redução de custos do transporte, porque um dos grandes prejuízos é o caminhão levar muito mais tempo para realizar o trajeto. Irá alavancar os negócios de diversos setores – afirma Muller.

 

Presidente da Associação Empresarial de Criciúma (ACIC), César Smielevski, reforça que a duplicação resolve um dos principais problemas para as empresas que precisam se instalar na região ou enviar cargas para outros estados.

 

– Um transporte de cargas, por exemplo, de Criciúma a São Paulo, que levaria 14 horas, chegava a ficar até cinco horas preso no engarrafamento da Ponte de Laguna. A duplicação vai trazer o olhar e o investimento dos empresários de outras regiões para o Sul do Estado – diz.

 

O porto de Imbituba também deve ser beneficiado com a duplicação, tendo em vista que o transporte de cargas é feito principalmente por caminhões, assim como nos demais terminais.

 

– O terminal irá apresentar uma agilidade maior e pode ter mais oportunidades com o mercado do Nordeste do Rio Grande do Sul. A facilidade de acesso deve ser sentida mais efetivamente a partir de 2016 – afirma o presidente do Porto de Imbituba, Rogério Pupo.

 

Turismo deve voltar a crescer

 

Outro setor que sentirá os benefícios da liberação de acesso da Ponte de Laguna e futura conclusão das obras de duplicação da BR-101 será o turismo. Segundo dados do último verão, os gaúchos representaram cerca de 38% dos turistas no Estado, o que reflete o maior fluxo de visitantes de Santa Catarina durante a alta temporada. Turistas de países do Cone Sul, como Argentina, Uruguai e Chile, aparecem em segundo lugar e somam 35% dos visitantes.

 

– A BR-101 é o principal corredor de fluxo de turistas do Estado, já que pelo menos 60% dos visitantes que chegam por via terrestre utilizam a BR-101 ou a BR-282 (principalmente os turistas que entram por Dionísio Cerqueira). Além de melhorar a promoção de Santa Catarina como destino turístico e incrementar o número de visitantes, a Ponte de Laguna representa, ainda, um atrativo à parte para os turistas – afirma o secretário de Turismo, Cultura e Esporte de SC, Filipe Mello.

 

Mello defende que o turismo crescerá em todas as regiões do Estado, mas a região Sul, com os cânions de Praia Grande, as festas típicas, como a de Nova Veneza, e o enoturismo em Urussanga e Nova Orleans, vão ganhar destaque. Presidente da Santa Catarina Turismo, Valdir Walendowsky reforça que o fluxo de turistas que entram pelo Sul deve aumentar em 10%.

 

Entraves para o desenvolvimento

 

Apesar dos avanços para a região, alguns especialistas acreditam que os impactos do atraso  de pelo menos sete anos ainda representam entraves para o desenvolvimento do Sul de Santa Catarina. Em 2012, pesquisadores da Unisul realizaram um estudo a pedido da Fiesc para avaliar esses impactos. Até aquele ano, segundo conclusões do levantamento, a região sul do Estado de Santa Catarina, havia sofrido perdas na ordem de R$ 32 bilhões. Isso equivalia, à época, a quatro vezes e meia o PIB médio registrado na região entre 2005 e 2009.

 

– Esta perda é irrecuperável, atingindo todos os setores e segmentos econômicos instalados ou que pretendiam, na época, instalar-se no Sul de Santa Catarina e, em alguma dimensão, até no Rio Grande do Sul – afirma o pesquisador Valter Schmitz Neto, que coordenou os estudos junto com os professores Jailson Coelho e Gean Ferminio.

 

Ele defende que, isoladamente, só a abertura da Ponte Anita Garibaldi não vai transformar a realidade econômica do local. Por isso, é fundamental haver um pensamento estratégico sobre como atrair investimentos para a região.

 

– Ganhará mais a microrregião e em especial o município no Sul do Estado que melhor souber conjugar estas variáveis estratégicas e de atitude para impulsionar mais rapidamente o desenvolvimento econômico e regional – defende.

 

A visão do vice-presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Diomício Vidal, no Sul catarinense, é um pouco mais otimista. Ele acredita que será possível recuperar as perdas da região Sul entre quatro e cinco anos, além de atingir o patamar de crescimento das demais regiões do Estado.

Linha do tempo

da duplicação

da BR-101 Sul

Gargalos

FLORIANÓPOLIS

PALHOÇA

TUBARÃO

LAGUNA

C

Textos

Edição

Design e desenvolvimento

Fotos e vídeos

MÔNICA FOLTRAN, KARINA WENZEL e MILENA LUMINI

ÂNDERSON SILVA e NATÁLIA LEAL

FÁBIO NIENOW

DIORGENES PADNINI