No apartamento localizado a 10 quadras do aeroporto, o repórter na TV despedaça as ilusões da enfermeira aposentada Cladice: o avião em chamas não era de carga, era de passageiros, e saÃra de Porto Alegre à s 17h19min. A mulher telefona de novo para a filha, agora aos gritos, os olhos fixos no fogo emoldurado por sua janela:
– Teu irmão está morrendo queimado. Estou vendo aqui de casa – ela diz.
Simone recebe a notÃcia no meio da rua, a caminho de um shopping. Sente as pernas amolecerem, fica tonta. Caem no chão seus livros, sua sombrinha. Entra no primeiro táxi, pede:
– Para Congonhas.
Naquele momento, milhões de brasileiros atônitos estão descobrindo pela internet, pelo rádio ou pela TV que um avião com quase 200 passageiros pegou fogo no aeroporto de São Paulo. As notÃcias, ainda desencontradas, mas muito velozes, originam-se das equipes de repórteres que passam os dias em Congonhas a relatar o drama dos viajantes em meio ao caos aéreo. São 19h7min quando a TV Globo interrompe sua programação e coloca em estado de choque famÃlias como a de Cladice e Simone.
– O hangar da TAM, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, está pegando fogo. Você tem aà as imagens. As primeiras informações são de que este incêndio teria começado num avião da companhia que estava dentro do hangar. Não há informações sobre vÃtimas, mas supõe-se que não haja vÃtimas, porque, como eu disse, o avião estava no hangar da TAM – diz o apresentador William Bonner.
Um segundo depois, tudo muda de figura. O repórter Fernando Rocha, que sobrevoa o local de helicóptero, tem detalhes alarmantes para dar:
– O avião teria atravessado a pista do aeroporto de Congonhas. Atravessou a Avenida Washington Luiz, que fica no bairro de Campo Belo, na zona sul de São Paulo. Esse prédio da TAM fica do lado de fora do aeroporto. A informação preliminar do Corpo de Bombeiros é de que existem vÃtimas.
Em São Leopoldo, o comerciante Christophe Haddad vê Bonner na TV, falando sobre o incêndio em um hangar de Congonhas e pensa: "As meninas não vão poder pousar lá, vão ter de ir para Guarulhos". Ele é o pai de Rebeca Haddad, 14 anos, que viajara com a amiga ThaÃs Volpi Scott. Em seguida, vem a notÃcia de que o voo saiu de Porto Alegre. Mais um pouco e quase não restam dúvidas: era o voo da filha. Em Congonhas, Lauri Volpi, que esperava na área de desembarque pela neta e por Rebeca, recebe um segundo telefonema do genro, desta vez desesperado. As meninas não vão surgir na porta, descobre.