Ainda durante os momentos de agonia das primeiras testemunhas, a informação sobre o acidente chega já acompanhada de um número ao secretário de Segurança de São Paulo, Ronaldo Marzagão: são 160 possÃveis vÃtimas a bordo. Na sede da secretaria, na Rua LÃbero Badaró, a oito quilômetros de Congonhas, ele avisa o governador José Serra. Depois, sobe um lance de escadas e chega ao 13º andar do prédio. Entra na "sala de situação" e, diante de quatro monitores, comanda por meio de videoconferência as ações de policiais, bombeiros e peritos que acorrem para o local da explosão.
Ao mesmo tempo, 70 servidores correm para o Instituto Médico Legal, no bairro Pinheiros, seguindo o protocolo para casos de tragédia. O posto central é isolado para atender exclusivamente vÃtimas de Congonhas. Mas tem capacidade para receber apenas cerca de 50 corpos – mais tarde, três caminhões com câmaras frigorÃficas teriam de ser alugados para conservar as vÃtimas.
A cascata de telefonemas já fizera soar o aparelho mais poderoso do paÃs, no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva toma um susto com a notÃcia. Ele já estava aturdido pelo caos aéreo marcado por cancelamentos e atrasos de voos e passageiros dormindo em salas de embarques superlotadas. Minutos antes, em encontro no palácio com o responsável pela área, o ministro da Defesa, Waldir Pires, o assunto fora justamente a desorganização do ministério. Com a transformação da crise aérea em tragédia, o presidente chama na sala ao lado a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ordena o retorno de Pires.
Perto do aeroporto de Congonhas, o empresário Evaldo Gil também quer rever alguém. Ele é namorado de um dos passageiros do voo acidentado, o comissário da TAM Ãlvaro Alexandro da Rosa Pinto Breguez, 36 anos, que viajava como carona. Evaldo telefona para o curso de inglês do qual ele e Breguez são sócios, em Porto Alegre, e fala com a secretária. A mulher está em pânico. Evaldo toma o metrô, depois pula para um táxi, depois corre pelas ruas. Empurra um PM para furar uma barreira e avança mais 500 metros em direção ao local do incêndio, até ser barrado por outro policial.
Um funcionário da TAM telefona duas vezes para Gil, perguntando por Ãlvaro.
– Mas são vocês quem têm de dizer onde ele está! – responde, desesperado.
Na Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o presidente, brigadeiro José Carlos Pereira, já tem uma desconfiança, baseada nas informações que chegam de São Paulo: não há sobreviventes. Ele vai até a Base Aérea para embarcar em um Embraer 145 com investigadores da Aeronáutica. A decolagem atrasa 10 minutos, porque é preciso carregar o avião com fardos de sacos plásticos usados para recolhimento de corpos.
A 10 quadras do local do acidente, a enfermeira aposentada Cladice Aparecido Felizardo, 59 anos, chega à janela do apartamento, no 7º andar da Rua Antônio Macedo Soares, e vê a lÃngua de fogo gigantesca e a densa fumaça que se erguem do prédio da TAM. O filho, o advogado Paulo Cassiano Felizardo de Oliveira, 29 anos, estava retornando de Porto Alegre naquela tarde. Preocupada, Cladice liga para a filha Simone, jornalista de uma assessoria prestadora de serviço para a TAM. A jovem a tranquiliza:
– O acidente foi com um avião de carga, vindo de Curitiba.
Aliviada, Cladice imagina: "Paulo vai ficar louco da vida. Vai ter de descer no aeroporto em Guarulhos e ainda voltar para o escritório".
Chegando ao Palácio do Planalto, o ministro Waldir Pires encontra Dilma Rousseff e Lula. Os três estão entre os primeiros a receber a informação: o Airbus estava lotado de passageiros, e todos haviam morrido.
– Que coisa terrÃvel. O que será que aconteceu? – comenta Pires, o ministro que cairia dias depois, vÃtima não fatal da tragédia.