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Itapema FM  | 12/09/2016 07h31min

Após crise de gestão, Museu Nacional do Mar será administrado pelo município de São Francisco do Sul

Criado para ser referência em acervo de barcos, o local vivia em condições precárias de conservação predial e preservação do acervo

Cláudia Morriesen  |  claudia.morriesen@an.com.br

À beira da Baía da Babitonga reside um dos acervos marítimos mais preciosos da América Latina. Ele fica dentro do Museu Nacional do Mar, no Centro Histórico de São Francisco do Sul, criado por um órgão federal e há duas décadas administrado pelo Governo Estadual. Até o fim do ano, o local passará por uma transição que dará a responsabilidade de sua gestão para o poder público municipal, em decisão divulgada na semana passada. Com isso, a expectativa é que o museu deixe o círculo vicioso de dificuldades no qual esteve inserido nos últimos anos.

Entre os problemas visíveis enfrentados pela unidade estavam a má conservação do prédio onde está localizada, o que causava, consequentemente, dificuldades na preservação das embarcações e dos objetos do acervo. No entanto, a matriz do problema estava em algo que não ficava claro aos olhos do turista que visitava o lugar: sua gestão. Os 185 quilômetros entre a administração do governo estadual — que colocava o Museu do Mar entre as unidades da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) — e São Francisco do Sul faziam com que a administração ficasse muito distante e, portanto, menos eficiente para constatar as reais necessidades.

Além disso, há pelo menos sete anos se discute sem consenso sobre a gestão compartilhada do Museu do Mar. Isso porque, em sua fundação, no início dos anos 1990, foi decretado um regime de parceria inédito no Brasil, com a criação de um conselho gestor que seria formado por diferentes órgãos para que, assim, o local não dependesse apenas do governo, ficando à mercê das decisões de cada mandato político. 

— Houve uma incompreensão a respeito deste regime de parceria que vinha garantindo a boa gestão do museu. Por muito tempo, tanto Prefeitura quanto Estado se ausentaram da administração — lamenta o arquiteto Dalmo Vieira Filho, que participou da idealização do Museu do Mar por meio de seu cargo no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Seguindo o mesmo decreto que institucionalizou a criação da unidade museal, o conselho gestor deve ser composto por integrantes indicados pela FCC, por representantes de instituições ligadas às áreas de turismo e patrimônio, e pela Prefeitura de São Francisco do Sul. Atualmente, estas entidades estão representadas via Governo de Santa Catarina (por meio da FCC, da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte e da Santur), Prefeitura de São Francisco, Iphan, Capitania dos Portos, o navegador Amyr Klink e Associação de Amigos do Museu do Mar. Esta última, formada por representantes da comunidade, entre pessoas físicas e jurídicas, vinha sendo a verdadeira responsável pela administração do prédio, seu acervo e suas atividades até 2014, quando houve interferência do Governo do Estado.

— A FCC não abria muito espaço para discussão com o conselho gestor e as coisas ficaram confusas. Agora, pretendemos retomar os objetivos do museu — defende o diretor-presidente da Fundação Cultural Ilha de São Francisco do Sul, Aldair Nascimento Carvalho.


Um patrimônio guarda o outro
Nos próximos dois meses, o formato de gestão do Museu Nacional do Mar passará por estudos do Iphan e por análise na Casa Civil, antes de passar efetivamente para a administração da Prefeitura de São Francisco do Sul. Ainda será necessário decidir, por exemplo, como serão os contratos dos funcionários do museu, que hoje são servidores estaduais. A arrecadação da bilheteria, antes dividida entre a Associação de Amigos do Museu do Mar e o Governo do Estado (em um fundo da Secretaria de Turismo), agora ficará integralmente para a unidade e os recursos poderão ser utilizados com mais agilidade em questões de manutenção.

Depois, a ideia é que as necessidades apontadas pelo conselho gestor voltem ao centro das discussões. Para o presidente da Fundação Cultural do município, é importante compreender a cadeia produtiva que uma unidade como o Museu do Mar representa para a região sob a ótica do turismo cultural. Por isso, a ideia é que, mais do que garantir a preservação do imóvel que abriga o acervo — uma construção de 1903 onde funcionava a empresa de navegação Hoepcke, Irmão & Cia, tombada como patrimônio histórico nacional —, ele também seja um local de produção cultural.

— Mais do que um equipamento museal, o espaço é um centro cultural. Precisamos pensar nele para além do prédio, porque não adianta existir e não produzir nada — avalia Aldair Carvalho, diretor-presidente da Fundação Cultural Ilha de São Francisco do Sul.

O arquiteto Dalmo Filho, que também integra a Associação Amigos do Museu do Mar, espera que este momento represente a retomada do sonhos criados para o local quando São Francisco do Sul foi a escolhida pelo Governo Federal para a instalação do museu.

Ele acredita que há potencial para tornar-se um dos três museus de barco mais importantes do mundo, já que seu acervo com cerca de 90 embarcações em tamanho natural se equipara à quantidade encontrada em outros museus semelhantes encontrados em países como França e Estados Unidos.

A coleção se completa com modelos navais, peças de modelismo e artesanato naval, maquetes diorama, equipamentos e o acervo documental e bibliográfico da Biblioteca Kelvin Duarte, com mais de dois mil volumes, incluindo obras raras, fotografias, desenhos, cartas náuticas, manuscritos, croquis e outros registros inéditos sobre o patrimônio naval brasileiro e do mundo.

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