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Itapema FM  | 21/11/2015 03h03min

Livro reúne trabalhos do fotojornalista gaúcho Assis Hoffmann, morto em fevereiro

Autor trabalhou em alguns dos principais veículos da imprensa nacional e criou a agência Focontexto

Fábio Prikladnicki  |  fabio.pri@zerohora.com.br

Na apresentação do recém-lançado livro Assis Hoffmann – O Fotógrafo Dentro da Cena, a jornalista Cláudia Aragón, organizadora do volume, registra uma máxima que o fotojornalista gaúcho costumava dizer: “Fotografia eu ensino. Caráter tem que trazer de casa”. Essa missão ética marcou a trajetória de Hoffmann, que sabia dosar a objetividade jornalística com um posicionamento crítico frente aos fatos. Seus históricos registros da Campanha da Legalidade revelam um espírito de defesa da democracia, assim como sua imersão em aldeias indígenas estava em sintonia com uma causa – ele se envolveu com a criação da Associação Nacional de Apoio ao Índio (Anaí).

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A ideia deste primeiro livro a reunir exclusivamente fotografias suas começou no final de 2011, por desejo do próprio, mas a profundidade da pesquisa (seu acervo tem cerca de 70 mil imagens) e dificuldades de captação de verba decorrentes da crise econômica adiaram o desfecho. Hoffmann morreu em fevereiro deste ano, aos 73 anos, sem ter em mãos a publicação que chegou ao mercado na semana passada. O projeto ficou nas mãos do filho, o administrador Leonardo Zigon Hoffmann, que bancou do próprio bolso parte do orçamento (a outra parte foi captada na inciativa privada). Leonardo lembra da prioridade que o ofício de fotojornalista tinha sobre outras dimensões, inclusive a vida pessoal:

– Era meio “inconsequente” quando queria realizar um trabalho. Não se importava com sua segurança, nem media esforços para realizar (o trabalho). Tinha o objetivo de retratar o fato de forma que as imagens pudessem se tornar a notícia, tanto ou mais do que o texto. Carregava consigo uma necessidade de exibir, denunciar ou, mais do que isso, de repercutir por meio de seu trabalho a realidade sobre fatos e acontecimentos para que as pessoas pudessem fazer seu julgamento.

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Essa característica da fotografia como uma narrativa própria, e não simplesmente uma repetição redundante do texto das reportagens, foi uma das marcas registradas, como observa o fotógrafo e colunista de Zero Hora Ricardo Chaves, o Kadão, que trabalhou com Hoffmann e foi consultor do livro:

– Ele tinha uma preocupação com a forma, e não apenas com o conteúdo. Foi um dos aspectos que o tornaram um fotógrafo diferenciado. Encarava a fotografia como uma interpretação de algo que estava acontecendo, uma visão jornalística à frente do uso óbvio que a imagem teve durante tanto tempo. Não só praticava como exigia isso de sua equipe quando foi editor. Queria que a fotografia tivesse um ponto de vista sobre as coisas.

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Desde os anos 1960, o fotógrafo nascido em Santiago atuou em alguns dos principais veículos do Estado e do país, como Última Hora, Correio do Povo, Zero Hora, Veja, Placar e Realidade. Foi sócio-fundador da agência Focontexto, que chegou a empregar mais de 70 profissionais, e se destacou como ativista da regulamentação do ofício do fotojornalista. Surpreende, nas 117 imagens do livro, a diversidade de temas abordados por ele: política, guerra (esteve na de Iom Kipur, em 1973), questão indígena, futebol, automobilismo, crianças, marginalizados e artistas. A busca por ângulos não óbvios (costumava subir em telhados, apesar do risco) confere um tom lírico que sobrevive ao registro factual. Evidenciar esse viés artístico foi um dos objetivos do livro, como conta Cláudia, organizadora:

– Ele foi muito reconhecido por sua coragem, metia-se mesmo nos lugares, como comprovam várias fotos do livro. É um exercício interessante imaginar onde ele teve de estar para fazer cada imagem. Por isso, o livro não tem retratos da figura do Assis: quisemos mostrar o seu olhar. Para ele, era importante registrar os fatos da maneira que fosse, pois era um fotojornalista, mas contava histórias, por vezes, de forma muito poética.

ASSIS HOFFMANN – O FOTÓGRAFO DENTRO DA CENA
Fotografia, 128 páginas, Quem Diria Conteúdo Independente, R$ 50.
À venda nas lojas Pandorga da Rua Miguel Tostes, 897 (fone 51 3086-0746) e do Instituto Ling (Rua João Caetano, 440, fone 51 3533-5713), em Porto Alegre, ou pelo e-mail emilia.gomes@zigon.com.br (sujeito a cobrança de frete).

Veja, abaixo, uma seleção de imagens do livro:



Campanha da Legalidade: civis sobem a Rua Caldas Júnior, 1961


Guerra do Iom Kipur (fronteira Israel-Síria), 1973


Acidente em estrada gaúcha, década de 1980


Gaúcho no pampa coberto por geada, década de 1980


Reserva de índios Caiapós, em São Félix do Xingu (PA), 1972


Largo dos Medeiros/Rua da Praia, 1965


O ambientalista José Lutzenberger, 1985


Chico Buarque no Encouraçado Butikin, por volta de 1968

ZERO HORA
Acervo Assis Hoffmann / Divulgação

Volume foi idealizado por Assis Hoffmann e concluído por seu filho, Leonardo Zigon Hoffmann
Foto:  Acervo Assis Hoffmann  /  Divulgação


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