Há 30 anos a gravadora EMI lançava o primeiro disco da banda que viria a ser uma das mais importantes do Brasil, a Legião Urbana. O álbum homônimo mostrou a que vieram os garotos indignados de Brasília e seu líder, o poeta-rebelde Renato Russo (1960-1996): queriam mudar o mundo com a música. Conseguiram tocar o mundo de muita gente, de gerações que ainda nem tinham nascido e que ainda estão por vir com uma fórmula quase mágica de atemporalidade: acordes simples, filosofia pop-social. Depois de vencer uma arrastada disputa judicial pelo direito de usar o nome do grupo, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá celebram o primeiro o álbum na turnê Legião Urbana XXX Anos, que passa amanhã por Tubarão e no dia 12 de dezembro por Florianópolis.

Teste: você é mesmo fã da Legião Urbana?

Antes que fãs comemorem, não é a volta da banda. Dado e Bonfá deixaram claro que ela acabou quando Renato morreu em 1996. É uma celebração e um jeito singelo de relembrar o que eles foram e o que ainda são. Para o vocal convidaram o cantor André Frateschi, músico que acompanhava o trio quando tinha 10 anos. Ele não faz cover. Pega as canções e interpreta a seu modo.

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Em entrevista ao DC, Dado Villa-Lobos contou memórias da banda, de Renato e da emoção de voltar a tocar como Legião Urbana.

Vida passando de novo
A ideia de fazer o show foi agora, no final do segundo semestre. Tudo foi acontecendo. Começou com a ideia de lançar o disco em comemoração aos 30 anos do primeiro álbum. E aí passamos a rever as faixas que não foram usadas, ensaios, apresentações. Quando tivemos acesso a todo esse material... Uau, a vida passou de novo. Nos vimos fazendo e aprendendo a tocar as músicas. E eu entrei nos meus arquivos. Ouvi Petróleo do Futuro, primeira canção que tocou na rádio. Que coisa, pensei. Ver sua vida passando ali de novo. Ver o que fomos, o que somos. E veio a proposta de botar o bloco na rua. Ficamos felizes, instigados. Montamos esse espetáculo para ser bom para gente e para o público. A gente se diverte, se emociona.

Duas semanas na Galheta
Uma de nossas primeiras turnês foi em Santa Catarina, Itajaí e Florianópolis, em 1986. Foi superjoia. A gente tinha acampado em Florianópolis em 1982. Duas semanas na Praia da Galheta e na Lagoa da Conceição. E em 86 voltamos para rever a Joaquina, a Lagoa. Não existia muita estrutura para show na época, nos apresentamos num ginásio.

Direito de ser quem são
Coincidentemente aconteceu que ao longo dessa preparação para os 30 anos do primeiro disco a justiça nos deu o direito de sermos quem somos. Usar o nome. Antes não podíamos, mas a gente conseguiu.

O Brasil foi adiante
A Legião fazia canções sobre a vida, sobre o que vivemos em cada momento, questões sociopolíticas e culturais. Ao mesmo tempo relações universais de amor, de raiva. Não eram músicas com conotação política. Será, por exemplo, pode ser também uma música de amor. Acho que hoje ainda estaríamos falando disso. Há um prato cheio de barbárie, de atrocidades. Mas é bom envelhecer. O Brasil foi adiante, a música também.

Mudar o mundo com a música
A música da Legião é atemporal por causa das melodias que são lindas, as letras, a vibração da música. Buscávamos fazer aquilo que primeiro nos fizesse vibrar muito. É a magia da música. Isso é incrível, ver adolescentes hoje cantando. É a realização do nosso sonho de adolescentes: nós vamos mudar o mundo com a música.

Recordar é viver - Música Será é do primeiro disco da Legião Urbana:

Renato continua apavorando
Se ele continuaria apavorando hoje? Em geral, com a idade vem a calma. Não quando você está no palco, no entanto, porque não percebe isso. Você é completamente dominado pela energia que emana. E o Renato apavorava no palco. E por causa dessa coisa da música ele continua ali, com certeza. Apavorando. Para o bem e para o mal.

Um poeta solitário. Um chato.
Outro dia assisti a um vídeo em que estávamos gravando nosso quinto disco. As gravações eram os nossos melhores momentos. Lembro da canção Metal contra as Nuvens, uma música grande, com vários pedaços que tinham de ser montados. E Renato estava muito focado, ficava coordenando, pensando junto. Ele era esse cara muito conciso. Mas no dia a dia, quando voltava, era um ser solitário e vivia mal com a solidão. Era difícil para ele conviver com as pessoas. E ele ficava inconveniente quando bebia, quando se drogava sem parar. Aí ele ficava chato. Mas fizemos 10 discos juntos. Tinha uma amizade bonita que nos unia.

Segredo mantido
QuandoRenato descobriu que era soropositivo, a gente fez muita coisa. Gravamos mais cinco discos, ele gravou dois discos solo. Ele ficou naquela condição. Foi difícil. A gente ficou junto, mantivemos o segredo e ele ocupado.

A vida segue
Lembro daquele tempo com serenidade. Estava tudo fragmentado dentro de mim. Com o livro [Memórias de um Legionário, Editora MauadX, 2015],  juntei os cacos. Meio que colocou um ponto final em tudo. Queria fazer outras coisas também. O livro fecha, e a vida segue.

AGENDE-SE

O quê: Legião Urbana XXX Anos

TUBARÃO
Quando: amanhã, a partir das 22h
Onde: Hangar Eventos (Ria Padre Geraldo Spettmann, 737, Centro)
Quanto: a partir de R$ 70 (pista promocional), à venda no site Minha Entrada
Informações: (48) 3632-0800

FLORIANÓPOLIS
Quando: 12 de dezembro, a partir das 21h
Onde: Devassa on Stage (Rod. Maurício Sirotsky Sobrinho, 1.050, Jurerê)
Quanto: a partir de R$ 50 (pista promocional), à venda no site Blueticket
Informações: (48) 3282-2054