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Itapema FM  | 31/07/2015 08h05min

Bailarinos formados na Escola Bolshoi contam detalhes do desafio de dançar em importantes companhias estrangeiras

Bruna, Erick, Amanda e Jovani conquistaram o próprio espaço no concorrido mundo do balé

Rafaela Mazzaro  |  rafaela.mazzaro@an.com.br

Nove entre dez alunos que ingressam na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, sonham ser como eles. Conquistar espaço no concorrido mundo do balé e reconhecimento fora das fronteiras brasileiras, onde a dança supostamente é mais valorizada, também já foi um desejo de Bruna Gaglianone, Erick Swolkin, Amanda Gomes e Jovani Furlan Junior. Os ex-alunos da filial russa no Brasil, embora jovens, já gozam deste prestígio, mas também são testemunhas das dificuldades por trás da glamourização do balé.

Até chegar à recompensa – os aplausos do público –, estes jovens brasileiros formados em Joinville precisaram enfrentar a saudade da família e dos amigos, vencer a convivência com culturas diferentes e ter jogo de cintura diante da forte concorrência na própria companhia.

A maranhense Bruna Gaglianone e o joinvilense Erick Swolkin, os dois com 24 anos, foram contratados pelo Ballet Bolshoi em 2011, com direito a coletiva de imprensa e repercussão nacional. De fato, o casal fez história, já que a admissão lá costuma ser rigorosa até mesmo entre os russos, acostumados aos padrões de excelência da dança clássica. A brasileira Mariana Gomes foi quem abriu caminho para egressos da escola de Joinville, o que não significou que a entrada de Bruna e Erick fosse mais fácil. Se hoje eles fazem parte do corpo de baile “ouro” do teatro de Moscou, é porque tiveram que provar que são capazes.

A posição de destaque garante que o casal participe das montagens com frequência bem maior do que muitos dos 300 bailarinos que fazem parte da companhia.

– Fazemos uma média de cinco a seis espetáculos por semana – conta Bruna.

A goiana Amanda Gomes, 20 anos, permaneceu bons anos na Cia. Jovem da Escola Bolshoi até aceitar o contrato com a Ópera de Kazan, na Rússia, em agosto do ano passado. A espera parece ter sido a escolha certa da jovem bailarina, que em vez de começar como corpo de baile, cargo que a maioria dos bailarinos menos experientes precisa passar, provou que podia sustentar papéis principais. Amanda ainda não completou um ano fora do País e já é solista da Ópera de Kazan, que conta com um elenco de 80 bailarinos.

– Em menos de um ano, estreei seis balés. Foi muito mais do que eu esperava – comenta Amanda, a primeira das Américas a ser contratada pela companhia russa.

O joinvilense Jovani Furlan Junior, 22 anos, percorreu um caminho um pouco mais longo até chegar ao elenco principal do Miami City Ballet, nos Estados Unidos. De bolsista da escola de Miami, em 2011, o ex-aluno da Escola Bolshoi passou a aprendiz da companhia, depois foi efetivado no corpo de baile e, na última temporada, foi promovido a solista. Jovani divide a companhia com outros sete brasileiros.

Os quatro bailarinos aproveitaram as férias para visitar a escola, rever os amigos em Joinville e falar sobre o desafio de integrar importantes companhias. Na página ao lado, confira a entrevista concedida pelos bailarinos.



A Notícia – Bailarino brasileiro no exterior é sinônimo de...
Amanda Gomes – Acredito que bailarino brasileiro no exterior é sinal de interesse. As pessoas têm curiosidade de saber como dançamos. Tanto que quando entrei no teatro de Kazan, muitos demonstraram interesse, pois sabem que brasileiro dança com o coração.
Jovani Furlan Junior – O brasileiro tem sempre um fator especial que as pessoas de fora notam, seja a forma como dança ou a forma como se expressa.
Bruna Gaglianone – Dentro do teatro, sempre ouvi que o brasileiro é incansável. Temos muita vontade de provar que também somos capazes, e sempre somos muito elogiados por nunca dizer não.
Erick Swolkin – Vou citar uma frase do Vasiliev: “Tem bailarino que só dança com o corpo, tem bailarino que dança com a alma. O brasileiro dança com o corpo e com a alma.”

AN – O que mais sentem saudade do Brasil?
Amanda –
Da família e de estar convivendo com a escola. Quando saí, não achei que sentiria tanta saudade.
Jovani – Da família e da atmosfera de trabalho que eu tinha no Bolshoi. E também sinto falta de sentar num barzinho e ouvir música brasileira.
Bruna – Sempre fui muito ligada à minha família. Venho sempre que tenho uma oportunidade. Além disso, sinto falta da minha vida social.
Erick – A gente acha que é bom morar sozinho, mas só até uma semana. Depois, sente muita falta da família.

AN – A adaptação fora do País é mais difícil do ponto de vista pessoal ou profissional?
Amanda –
Foi muito mais difícil pelo lado pessoal. Cultura, comida e costumes são diferentes na Rússia. As pessoas são muito fechadas no início. Depois que se quebra a barreira, tudo bem.
Jovani – Socialmente, Miami é muito parecida com o Brasil. Senti falta da família, mas a adaptação foi fácil. O lado da dança que mudou mais, porque o estilo da companhia exige muita velocidade e isso foi mais complicado. Ainda estou me adaptando.
Bruna – A adaptação à cultura é muito pesada em Moscou. Você não consegue se comunicar porque a maioria não fala inglês e quem fala faz questão de não falar contigo porque você tem que aprender a língua do país. Por um lado, eles estão supercertos.
Erick – Você vai ter que aprender primeiro o repertório e não vai dançar porque eles não têm tempo para ensiná-lo. É horrível falar isso, mas você precisa estar preparado para quando um bailarino se machuca, que é quando você pode ter espaço. Lidar com esse convívio dentro da companhia é o mais difícil.

AN – Existe competição atrás das cortinas?
Amanda –
No balé existe esta lenda. É verdade que muita gente fica querendo instigá-lo, mas vai muito da personalidade do bailarino, de ouvir e se sentir mal ou simplesmente ignorar. Não sei qual o segredo do sucesso, mas querer agradar a todos é a forma errada de consegui-lo.
Jovani – Não senti esta competição. Há uma atmosfera bem positiva na minha companhia.
Bruna – Claro que sempre tem alguém que quer que você se machuque para conquistar o seu espaço, mas não é explícito.
Erick – Existe concorrência, mas não na proporção do filme (Cisne Negro).

AN – O que um bailarino profissional não pode fazer?
Amanda –
Demostrar falta de interesse.
Jovani – Não ter autodisciplina. Em uma companhia profissional, não haverá alguém que pegue na sua mão e diga o que fazer, mesmo na aula. Onde eu trabalho, a aula nem é obrigatória. Você mesmo terá de saber o que precisa melhorar.
Bruna – Ninguém vai fazer nada por você. Na escola, você tem este controle, mas no profissional ninguém vai falar nada.
Erick – Dança quem está pronto, quem tem disciplina e quem se esforça.

AN – Do que precisou abdicar na vida pessoal para estar nos palcos?
Amanda –
Sempre pratiquei esporte e precisei abdicar porque a gente trabalha com o nosso corpo e precisa estar pronto (sem lesões) para dançar.
Jovani – Fins de semana. Eu tenho um dia de folga na semana e uso para ir ao mercado, lavar roupa e pagar as contas.
Bruna – Vida social. Também abri mão de estar com minha família.
Erick – Ter uma moto. Pode ser bobagem, mas eu sempre gostei muito.

AN – Uma apresentação inesquecível.
Amanda –
No dia 18 de abril, no Teatro Bolshoi, no balé que o Vladimir Vasiliev montou para o seu aniversário de 65 anos. Para mim, foi inesquecível dançar como uma das solistas do balé dele.
Jovani – Como sou muito ligado aos balés românticos, Romeu e Julieta, em outubro de 2014.
Bruna – Dançar a boneca árabe de O Quebra-nozes, pelo Ballet Bolshoi.
Erick – Na reabertura do Teatro Bolshoi. Eu estava na primeira coreografia.

AN – Qual conselho daria para si mesmo se pudesse voltar no tempo?
Amanda –
Diria para me cobrar menos. Ficava doida para tentar fazer tudo perfeito e isso faz você sofrer além do que deveria.
Jovani – Trabalhar mais seriamente desde criança, pois seria mais fácil agora. Cheguei lá e tive que enfrentar uma rotina muito pesada.
Bruna – Trabalhar muito mais sério nos oito anos de Escola Bolshoi, porque eu saberia o que estava me esperando.
Erick – Esteja preparado para tudo. Eu não estava. Achei que ia chegar lá e já dançar e foi bem diferente no primeiro ano.

A NOTÍCIA
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