Notícias

Itapema FM  | 02/03/2015 11h14min

Luciano Martins: "Eu não quero ser um artista conceitual, para pouca gente entender e apreciar"

O artista abre uma exposição em Florianópolis nesta semana, comemorando quinze anos de pintura

Marina Martini Lopes  |  marina.lopes@itapemafm.com.br

É surpreendente saber que Luciano Martins nunca se imaginou como artista plástico - antes de, aos poucos, ir se tornando um, por uma mistura de talento, contato com as pessoas certas e um bocado de sorte. Nesta quinta-feira, dia 5 de março, Luciano abre em Florianópolis, no espaço Lindolf Bell, do CIC (Centro Integrado de Cultura), uma exposição que marca seus primeiros quinze anos de pintura: a mostra conta com 47 obras que retratam sua evolução como artista, desde o primeiro quadro pintado - que nunca vendeu "porque é ruim", nas palavras do próprio autor - até os mais recentes, que precisaram ser emprestados dos atuais donos para figurar na exposição. Em entrevista à Itapema, Luciano, parceiro frequente da rádio - inclusive em eventos como a Confraria do Vinho, para a qual pinta um quadro especial para cada edição -, falou um pouco sobre sua trajetória, e sobre o que espera para os próximos anos de carreira.

Itapema: Você começou sua carreira como publicitário. Você já queria ser artista, nessa época, ou foi uma vontade que só surgiu depois?
Luciano Martins: Eu nunca me imaginei como artista plástico, na verdade. Desenhista eu sempre fui: gostava de desenhar desde criança, e minha mãe e outras pessoas que viam meus desenhos me diziam que eu desenhava bem. Acho que minha história começa quando eu tinha dezessete anos e minha mãe me mandou procurar um emprego. (risos) Eu queria algo nessa área, para poder desenhar, e acabei conseguindo, meio por sorte, um emprego em uma agência publicitária, quando ainda morava lá em Porto Alegre. Naquela época eu não sabia de nada - não sabia que precisava de um portfólio para apresentar meu trabalho para as pessoas, por exemplo. Eu fui montando isso aos poucos, meio sem querer. Mais tarde eu me mudei para Florianópolis, por causa do meu emprego, e um dia estava desenhando um cartaz para uma mostra de decoração, e me deu vontade de criar mais do que isso. Naquela época as agências ainda eram mais parecidas com ateliês de arte, com tinta, pincéis; não era quase tudo no computador como hoje. Então eu peguei tudo aquilo e comecei a pintar, recortar, colar... E criei um cartaz que mostrava uma cadeira que era um personagem, com olhos, expressão facial. E aquilo deu super certo. As pessoas se identificaram, abraçaram meu trabalho. Pediam para comprar o pôster, sabe? E aí eu vi que investir nisso podia ser uma boa ideia. Eu comprei mais telas, pintei algumas coisas, e comecei a ir atrás de galerias de arte, para expor meu trabalho. E fui começando a aparecer.

Itapema: Qual você acha que foi o momento decisivo, em que você percebeu que estava mesmo sendo reconhecido como artista plástico?
Luciano Martins: Foi um processo gradual. Durante dez anos eu ainda conciliei os dois trabalhos, de publicitário e artista. Mas o segundo foi ganhando importância - até quem ia na agência contratar algum trabalho me reconhecia como artista, não como publicitário, ou como diretor de criação, ou qualquer coisa assim. O marco inicial da exposição é meu primeiro quadro pintado - eu pintei esse quadro em 2000, e nunca vendi. Claro, porque ele é ruim, né? (risos) Por ser o primeiro e tudo mais. Ninguém queria comprar. Claro que agora é o contrário: todo mundo quer comprar esse quadro, porque marca o começo da minha carreira como pintor. Mas eu não vendo. Mas eu acho que eu percebi que meu nome apareceu mesmo, para a cidade, quando eu fiz a exposição Paris dos Meus Olhos, em 2002. Eu tinha voltado de uma viagem para a França e pintei coisas que eu tinha visto por lá. Naquela época o meu jeito de pintar ainda representava uma ruptura forte, um estilo que as pessoas não esperavam ver - e por isso chamou muita atenção. É por isso que eu não me importo quando me identificam em matérias como "o artista catarinense Luciano Martins". Eu sou gaúcho, mas sempre digo que o artista só foi nascer aqui, em Florianópolis.

Itapema: Você está fazendo uma exposição que comemora 15 anos de pintura. O que você destacaria desse tempo da sua carreira?
Luciano Martins: Nossa, são tantos momentos... Eu poderia ficar dias falando. (risos) Mas eu sempre lembro de quando eu participei de uma edição da Mostra Casa Nova em que havia um ambiente inspirado na minha obra - era o Loft do Artista Plático, da arquiteta Carla Silva. Eu ficava lá algumas horas por dia, pintando, interagindo com as pessoas. E um dia um menininho se aproximou e perguntou: "Posso pintar com você?" Eu fiquei surpreso, mas falei que podia, claro. E depois dele foram aparecendo várias outras crianças, nos outros dias também - e assim começou a relação da minha arte com elas, as crianças. Elas gostam do meu trabalho, por ser leve, lúdico, e eu fico bem feliz com isso. Agora, na exposição de 15 anos, nós já fechamos todos os horários de visitação de escolas, está tudo lotado. E muitas vezes tem criança que acaba levando os pais a conhecer minha obra. É uma coisa muito legal de se ver. Ver o retorno das pessoas, de modo geral, também é ótimo. Na exposição, por exemplo, a maioria dos quadros não são mais meus, são quadros que já estão vendidos - e que nós precisamos negociar com os donos, para nos deixarem expor. E as pessoas reclamam, porque não querem ficar sem o quadro na parede! (risos) Esse retorno é sempre muito interessante.

Itapema: Você já comentou que não tem um processo de criação bem definido. Mas como funciona? Você pinta quando bate a inspiração, ou chega um momento em que você decide que vai pintar, e simplesmente começa? Como você trabalha no caso de quadros encomendados, como os da Confraria do Vinho da Itapema?
Luciano Martins: Eu acho que eu pinto muito o que me cerca, o momento que eu estou vivendo. Deve ser assim com todo artista - tanto é que a arte muitas vezes serve como registro histórico. Viagens, por exemplo, me influenciam muito. Eu fiz a exposição sobre Paris, aí fiz uma sobre Amsterdã, outra sobre a Itália... Agora, quando voltei da França pela última vez, eu pintei um quadro que batizei de Um Dia Depois de Paris. Mas quando o Michael Jackson morreu, por exemplo, falava-se tanto dele que eu pintei três quadros com o Michael Jackson. E olha que eu nem era fã dele! (risos) Isso aconteceu também com outros artistas; a Amy Winehouse, por exemplo. Nesses casos eu gosto de pintar ouvindo a música do artista, para entrar no clima mesmo. Já no caso das encomendas eu procuro mergulhar no tema que estão me pedindo para pintar: se é um retrato, por exemplo, eu gosto de conversar com a pessoa, saber do que ela gosta, quais são as experiências de vida dela - para criar uma imagem única, não uma coleção de retratos iguais uns aos outros. No caso da Confraria do Vinho é muito fácil para mim, já que vinho é um tema que me agrada muito, com o qual eu me identifico naturalmente. Mesmo quando eu faço encomendas, pintar continua sendo meu grande prazer.

Itapema: Falando nisso, como é a sua relação com a Itapema? Como as músicas e a programação da rádio se comunicam com o seu trabalho?
Luciano Martins: Eu sempre digo que a Itapema está presente desde que eu montei meu primeiro ateliê em casa. Eu tinha um radinho lá, que ficava sempre sintonizado na rádio. É uma programação musical de que eu gosto, com a qual me identifico. O trabalho de artista é meio solitário, né? Então a Itapema tem sido a minha grande companheira, ao longo de todos esses anos. Até já aconteceram umas coisas engraçadas. Teve uma vez que eu estava pintando um quadro do John Lennon, e no fundo do quadro eu escrevi toda a letra de Imagine - e aí começou a tocar na rádio, no mesmo momento, a versão do Jack Johnson para Imagine. (risos) Então parece até que rola uma sinergia entre a gente.

Itapema: O seu trabalho - como o de praticamente qualquer artista - sofre muitas críticas. Como você lida com elas?
Luciano Martins: Olha, eu gostaria de dizer que ignoro, mas claro que não é bem assim, né? Ninguém gosta de ser criticado. Mas eu procuro não dar muita bola. Acho que qualquer coisa que vai para a mídia, que fica famosa de alguma forma, vai ser criticada de algum lado. E eu vejo que a maioria das críticas é pelo fato de o meu trabalho ser mais comercial, não pelos desenhos em si. Mas isso é uma coisa que eu já decidi há tempos: eu não quero ser um artista conceitual, para pouca gente entender e apreciar. Eu quero que todo mundo tenha acesso à minha obra. Então eu tenho que lidar com as consequências dessa decisão.

Itapema: E quais são os próximos planos? Quais caminhos você vê para a sua carreira, digamos, para os próximos 15 anos?
Luciano Martins: Eu quero que o meu trabalho chegue o mais longe possível. Eu já estou fazendo licenciamento de produtos com a minha arte para outros continentes. E gostaria de um dia ter uma galeria em algum canto da Europa, se possível. Eu acho que é uma coisa meio napoleônica, assim. (risos) De ver o meu trabalho se espalhar pelo mundo todo.

Serviço
Exposição Luciano Martins 15 anos
Quando: De 5 a 31 de março
Onde: Centro Integrado de Cultura (CIC), no espaço Lindolf Bell
Entrada gratuita
Apoio: Ministério da Cultura, Santivest Investimentos e BRDE
Promoção: Itapema
Mais informações: (48) 3232-0823

ITAPEMA SC
Charles Guerra / Agencia RBS

Luciano Martins: "Quero ver o meu trabalho se espalhar pelo mundo todo"
Foto:  Charles Guerra  /  Agencia RBS


Comente esta matéria
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.