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Itapema FM  | 26/02/2015 15h19min

Thiago Momm comenta o livro "As Origens do Sexo", do historiador Faramerz Dabhoiwala

Obra do historiador inglês não é a ideal para quem busca textos com alta voltagem erótica

Atualizada às 17h52min Thiago Momm  |  thiagomomm@gmail.com

Além dos lençóis

As Origens do Sexo - Uma História da Primeira Revolução Sexual, do historiador inglês Faramerz Dabhoiwala, é o livro errado para quem anda buscando textos com alta voltagem erótica.

Dabhoiwala sabe dosar o pitoresco. Se curiosidades como a de que uma gaiola no mercado público da Londres medieval expunha "prostitutas, adúlteros e padres libidinosos" estão ali, é para ilustrar ideias ou até para acender temas, mas nunca se sobrepondo à compreensão histórica, como acontece em tantos livros do gênero.

Claro que existe o pecado inverso de escrever sem faíscas sobre sexo, como fez certo Peter N. Stearns, professor de Harvard, em A História da Sexualidade, uma narrativa que raramente alcança uma meia-ereção.

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Dabhoiwala encontrou a medida certa. Suas premissas são sérias, mas sua escrita é leve, uma rara encarnação de alguém anormalmente culto e alguém anormalmente legal no mesmo autor. Ele pesquisou por 20 anos para escrever As Origens do Sexo. Seu objetivo não foi se "embrenhar dentro dos quartos e entre os lençóis do passado", mas "recuperar a história do sexo como ocupação pública central" nos anos 1600 a 1800, mostrando que a revolução sexual "foi uma parte central do Iluminismo europeu e norte-americano", ajudando a criar "um modelo totalmente novo de civilização ocidental".

O "policiamento moral" e a "máquina de repressão sexual" representados pela Igreja e depois pelas sociedades de reformas dos costumes foram dando vez, ao longo dos séculos 17 para 18, a ideais de liberdade pessoal de pensamento e ação. Em 1750, as repressivas leis existentes eram rejeitadas e "já havia surgido uma doutrina consideravelmente bem desenvolvida de liberdade sexual".

Essa história, no livro aplicada principalmente à realidade inglesa, é contada de várias perspectivas: entre outras, da sedução masculina, que no período ficou menos rústica, mas não menos condescendente; da prostituição, antes perseguida, depois sustentada como mal necessário e mais tarde cristalizada como mal social; dos romances de Henry Fielding e Samuel Richardson, fontes de arquétipos duradouros das relações entre os sexos; do enfraquecimento religioso, epitomizado por um pastor adúltero e liberal que teria afirmado: "Não existe céu senão as mulheres, nem inferno a não ser o casamento".

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Tudo isso é narrado com uma excepcional cautela retórica. "O avanço da liberdade sexual", escreve Dabhoiwala, "foi, em boa medida, um processo confuso e inconsciente", promovido sistematicamente "por poucos pensadores".

Se esta coluna fosse de salpicar estrelas classificatórias, aqui com certeza iriam cinco.

Outros livros com ou sobre sexo: Como Pensar Mais sobre Sexo (Alain de Botton) contraria o próprio título apelativo e na verdade reflete sobre como pensar com mais qualidade sobre sexo. A Mulher do Próximo (Gay Talese) é um clássico sobre comunidades de amor livre e outros alargamentos das fronteiras puritanas nos EUA. Pornopopeia (Reinaldo Moraes) é ao mesmo tempo uma catarse, uma bomba hilária e uma descrição aguda de uma vida dissoluta no mundo recente.

 

ANEXO
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