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Itapema FM  | 26/02/2015 07h31min

Gustavo Brigatti: Até quando seremos HUEHUEHUE?

Má reputação brasileira nos jogos online de PC parece estar chegando aos consoles

Lançado no final do ano passado, The Crew é um divertido joguinho de corrida. Um dos seus diferenciais é colocar o jogador em contato com outros jogadores em tempo real, cumprindo missões em conjunto. Apesar de ter um bom nível de experiência, eu não era chamado ou aceito em nenhum grupo. Quando questionei o líder de uma das gangues, a resposta parecia pronta: "Você é brasileiro, vai estragar tudo".

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Sim, nós não temos uma boa fama nos jogos online e isto não é novidade. PC gamers sabem disso há pelo menos 10 anos, quando jogadores brasileiros começaram a bagunçar o coreto dos Massive Multiplayer Online (MMO), seja insistindo em falar português em ambientes onde a língua exigida é o inglês, seja jogando mal de propósito apenas para atrapalhar. Agora, com os títulos de consoles buscando cada vez mais a jogatina em rede, esse problema parece que tende a migrar.

Segundo o sujeito com quem conversei brevemente – um espanhol na faixa dos 30 anos, de acordo com sua identificação na XBox Live –, seu grupo no The Crew recusava jogadores brasileiros para que a nossa reputação de "zoeira sem limites" no PC não contaminasse os consoles. Argumentei que eu era diferente e sabia me comportar. Ele simplesmente me bloqueou.

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Para entender como chegamos a esse ponto – de estrangeiros barrarem nossa participação em jogos apenas por sermos brasileiros –, bati um papo com a Suely Fragoso, doutora em Comunicação e professora de pós-graduação em Design e Comunicação da UFRGS, que estuda o comportamento do brasileiro na internet. Em 2006, ela publicou um impressionante artigo sobre a tomada verde e amarela do Orkut dois anos antes, motivada muito por uma certa agressividade em relação a estrangeiros. Antes disso, em 2003, quando a internet ainda engatinhava, já havíamos aprontado das nossas no site de fotos Fotolog e no game online Ragnarok.

– De lá pra cá, o comportamento não melhorou muito – aponta Suely, em entrevista por e-mail. – Principalmente porque as pessoas se escondem atrás do mito do brasileiro cordial, o que dificulta encarar a própria hostilidade.

Um dos símbolos dessa agressividade travestida de brincadeira é o meme HUEHUEHUE, espécie de corruptela do prosaico HAHAHA. Ele representa um histórico de flagrante desrespeito às regras e péssimo fair play. Suely inclusive o usa no artigo "HUEHUEHUE BR é só zuera: um estudo sobre o comportamento disruptivo dos brasileiros nos jogos online", apresentado durante o Simpósio Brasileiro de Jogos e Entretenimento Digital (SBGames), no final do ano passado. A pesquisadora conclui que a motivação do nosso mau comportamento é a... diversão. Achamos graça em atrapalhar a jogatina alheia. E, quando somos repreendidos, nos revoltamos e quebramos tudo porque, afinal, "era só brincadeira".

– Em 2006, eu escrevi sobre ódio no Orkut, e os jornalistas me escreviam querendo que eu falasse sobre como os brasileiros são sociáveis. Hoje, você (como outras pessoas) me pergunta sobre esse grupo estranho que está sendo agressivo, e reconhece que são brasileiros (embora sejam "eles", não "nós"). É um grande passo na direção de "os brasileiros inclusive eu" e um caminho para "precisamos parar com isso porque estamos alimentando a escalada da violência".

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