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Itapema FM  | 18/12/2014 07h01min

Fotógrafo consagrado de dança, o catarinense Alceu Bett agora se volta para a produção audiovisual

De volta a Joinville desde 2008, ele sonha em transformar a cidade em um polo cinematográfico

Rafaela Mazzaro  |  rafaela.mazzaro@an.com.br

Do outro lado da linha, o convite de um produtor para fotografar uma companhia de dança. Seria só mais um trabalho, entre tantos que Alceu Bett executou em Lisboa, não fosse pela contratante. Vestida de preto, com um cigarro entre os lábios, Pina Bausch deu o veredito enquanto olhava as imagens que Alceu tirara de um dos ensaios de sua companhia: o catarinense estava autorizado a captar momentos do espetáculo For the Children of Yesterday, Today and Tomorow, que entraria em cartaz no Teatro Camões, na primavera de 2007.

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Grandes grupos de dança contam com fotógrafos próprios, mas talvez Pina quisesse inovar, assim como sempre fez com suas coreografias. Alceu acredita ter conquistado a confiança da coreógrafa alemã pelo modo que escolheu registrar os bailarinos: em ângulo russo, mais comum em peças de balé clássico, contrariando a ampla possibilidade da dança moderna proposta por ela.

– Pina fazia o contrário do balé, ela o desconstruía – conclui o fotógrafo, que acompanhou a companhia Wuppertal durante os três meses em que permaneceu em Portugal.

Não faz muito tempo que o resultado desse encontro ficou conhecido em Joinville, cidade em que Alceu mais tempo morou. Algumas fotos fizeram parte de uma exposição durante o Festival de Dança, em julho, e continuam disponíveis ao público na Galeria 33, espaço montado pelo catarinense em fevereiro, no bairro Glória, para dar vazão aos 25 anos de carreira, sobretudo os oito em que viajou pelo mundo como fotógrafo especializado em dança.

Foi nos palcos da edição de 1998 do Festival de Dança que ele foi envolvido pela arte do movimento, ainda como repórter fotográfico, função que começou a desempenhar no jornal A Notícia no começo dos anos 90.

– Naquela época, saíam belas imagens, não imagens de dança – recorda.

O olhar apurado com o registro de movimentos completos e o entendimento de que é preciso intimidade com a proposta coreográfica antes de apontar a lente foram adquiridos quando decidiu deixar a agência e o estúdio montados na cidade para se aventurar pelo mundo.

– Em 2000, vendi tudo o que tinha e decidi viajar por um ano. Estava cansado de tanto trabalhar – conta Alceu, que chegou a abrir em Joinville a própria agência de fotojornalismo, que atendia periódicos nacionais.

De um ano, a ausência passou para oito. Mas foi justamente no período de reclusão que os caminhos naturais levaram-no novamente ao encontro da dança. À convite de Iracity Cardoso, na época diretora do Balé Gulbenkian, de Portugal, ele entrou no circuito europeu de dança e, em paralelo, buscou o conhecimento que faltava sobre a área.


Cia. Nacional de Bailado, de Portugal

Uma apresentação foi emendada a outra, escrevendo um capítulo da carreira de Alceu dedicado exclusivamente a espetáculos. Com o amigo e fotógrafo Amir Sfair Filho, chegou a abrir a agência portuguesa Espetaculum.
 
Trabalho estruturado para alcançar o sonho de transformar Joinville em um polo cinematográfico

O retorno a Joinville, em 2008, virou uma página em branco a ser preenchida por Alceu Bett. Premiado por um roteiro cinematográfico no Brasil, ficou tentado a se reencontrar com a sétima arte, motivo que o fez ingressar na Escuela Internacional de Cine y Television, de Havana (Cuba), em 1997.

O primeiro passo foi movimentar a cena joinvilense com a criação de uma associação que pudesse ter uma sede e cuidar da formação de profissionais em frente e atrás das câmeras. Em consequência, a cidade se transformaria em uma referência na produção audiovisual.

A Associação de Cinema de Joinville e Região (Acinej), liderada por Bett, chegou a apresentar uma proposta de ocupação da antiga prefeitura, hoje abandonada, para instalar ali estúdios de gravação e salas de exibição, entre outras iniciativas que teriam parceria com associações culturais do município.

– Queria provar que, sim, era possível fazer cinema em Joinville. Montar uma escola de cinema aqui é minha grande bandeira – defende.

A falta de interesse do poder público fez o projeto ficar somente no papel. Mas nada que pudesse desanimar o fotógrafo. Com o que tem disponível, especialmente os mecanismos de financiamento de projetos culturais do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), ele vem tomando a frente de um movimento preocupado com a formação de mão de obra para a área.


Cena do filme As Mortes de Lucana

Dessas investidas saiu o primeiro curta-metragem, com coprodução internacional de Joinville. As Mortes de Lucana (2012), estrelado pela portuguesa Paula Pinto e pelo ator joinvilense Robson Benta, foi o primeiro audiovisual dirigido por Bett. E, já na estreia, ele foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Montpellier, na França.

Produção a mil

Em fevereiro, Alceu Bett deve começar a rodar O Aquário de Antígona, aprovado pelo Mecenato do Simdec 2013. Com participação de Fernando Karl no roteiro, o curta trata do homem em busca de autoconhecimento.

Em paralelo, tem mais três projetos recém selecionados neste ano, dois deles também curtas-metragens. O Voyeur, um documentário ficcional com forte relação com a psicanálise, será rodado em Lisboa. Já Flores Dispersas – Vida e Obra de Julia da Costa relembrará uma poetisa esquecida que viveu em São Francisco do Sul e esteve à frente do movimento concretista antes mesmo da semana de 1922.

Enquanto isso, ele faz por conta própria a conexão de interessados pelo cinema, com a vinda do cineasta português Nuno Sá Pessoa para residência e intercâmbio cultural – aos moldes da experiência que trouxe o iraniano Mohammad Reza Hajipour  em setembro deste ano – para um workshop com atores, fotógrafos e artistas plásticos de Joinville. Nuno deve desembarcar nos primeiros meses de 2015 e apresentar suas aulas na Galeria 33.

O espaço, inaugurado em fevereiro, vem na carona do fôlego do catarinense e mostra que o trabalho estático não foi deixado de lado. Instalado no número 33 da Rua Bento Gonçalves, o local abriga exposições de fotos tiradas nos 25 anos de carreira, além de mostras de outros fotógrafos e artistas.

É lá também que são realizadas as ações do Shortcutz, tornando Joinville a primeira cidade catarinense a receber o movimento internacional de curta-metragem que ocorre em Lisboa, Londres, Madri, Berlim e Amsterdã. A iniciativa, que começou em novembro e já contou com três sessões, é uma vitrine para as produções locais e continuará no ano que vem.

A NOTÍCIA
Rodrigo Philipps / Agencia RBS

Fotógrafo inaugurou a Galeria 33 em fevereiro
Foto:  Rodrigo Philipps  /  Agencia RBS


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