Uma fatia de um mercado de R$ 13 bilhões está na mira da catarinense Dudalina e das marcas de alta moda da Restoque no processo de fusão das duas empresas. A união pode ser em busca dos brasileiros que tem feito suas compras no exterior, grupo que deixou lá fora aqueles bilhões citados na primeira frase. Essa é a aposta de Eugenio Foganholo, diretor geral da Mixxer, uma consultoria especializada em varejo.

— Maior possibilidade é que a aposta das empresas seja competir, ser uma alternativa de compra, para os brasileiros mais ricos que têm feitos suas aquisições no exterior — afirma sobre a compra de marcas internacionais pelos brasileiros, não aqui, mas nas viagens para fora do país.

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Os dados do volume de compras de peças de roupa no exterior pelos brasileitos faz parte de uma estimativa da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção. Os números se baseiam no volume de gastos fora do país em 2013, mas o diretor superintendente da Abit, Fernando Pimentel, acredita que uma nova alta deve se repetir neste ano.

Pimentel destaca, no entanto, que as empresas não conseguirão uma grande fatia desse volume de compras no exterior.

— Muito desse valor é de compras de grande volume nos Estados Unidos, de peças mais baratas. Eles vão concorrer apenas com as grifes — explica o diretor.

A Abit viu com bons olhos o prognóstico de fusão das duas companhias, que deve consolidar a presença de marcas nacionais de alto padrão. Ele acredita também que a união seja para consolidar até passos mais ousados no futuro, como uma possível internacionalização de algumas das grifes controladas pelas empresas.

O processo de fusão está em avaliação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e ainda depende do aval do órgão. Concretizada a união, Dudalina e Restoque serão a maior empresa de moda de alto padrão do Brasil. As companhias buscam complementar suas frentes de trabalho.

— Experiências mostram que ter um mix de fabricação própria e um mix de terceirização é uma boa opção empresarial. As peças mais complexas ou mais sigilosas, de lançamento de tendências, passam a ser feitas "em casa" — explica o especialista sobre o perfil das duas empresas ( a Dudalina tem seis fábricas, a Restoque nenhuma, terceiriza o trabalho).

:: Perfis e histórico
 
Criada em 1982 em São Paulo, a Restoque se tornou uma companhia aberta em 2008, com ações negociadas no Novo Mercado da BM&FBovespa. A Dudalina, criada em 1957 em Luiz Alves (SC), foi adquirida pelos fundos de private equity Warburg Pincus e Advent International em dezembro de 2013, em uma transação de R$ 650 milhões.

Desde 2010, com a inauguração da Dudalina595, em São Paulo, loja conceito da empresa, a tradicional companhia industrial inaugurou operações no varejo e obteve destaque nacional entre as grifes de alto padrão.

Criada pela “Dona Adelina” e o “seu Duda” — daí o nome Dudalina — outro legado da empresa são os 16 filhos do casal. Os onze meninos e cinco meninas se revezaram ao longo da vida para ajudar os pais a tomar conta dos negócios. Além da fábrica de camisas, a família Hess de Souza administrava um pequeno comércio de secos e molhados, em Luis Alves, e, mais tarde, lojas em Balneário Camboriú e Blumenau, na década de 60.

Armando César, por exemplo, sétimo filho do casal, ocupou durante 12 anos o cargo de presidente da Dudalina. Mas está desde 2006 à frente da indústria de tecidos RenauxView, em Brusque. Armando assumiu a vaga no lugar do primogênito Anselmo José, 66 anos. Foi ele que convenceu o conselho de administração a aceitar Sônia Regina como presidente. Ela está  na presidência desde 2003, período de maior crescimento da empresa.

Hoje apenas ela atua na Dudalina. Mas a empresa chegou a ter sete dos 16 irmãos na operação executiva da companhia.

Na lista de negócios administrados pelos herdeiros está a marca de roupa casual Beagle, fundada pelo caçula Marco Aurélio, a boutique Tida, de Florianópolis, de Maria Aparecida Zanatta, além da RenauxView. Além de, nesta semana, Armando e Rui Hess de Souza investiram R$ 35 milhões para adquirir 42,5% na Karsten, centenária fabricante de cama, mesa e banho, também catarinense.