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Itapema FM  | 18/10/2014 11h23min

Wagner Moura e Selton Mello falam sobre o filme Trash – A Esperança Vem do Lixo

Os dois astros do cinema nacional atuam no longa-metragem dirigido pelo diretor de "As Horas" e "Billy Elliot"

Atualizada em 20/10/2014 às 09h23min Roger Lerina | Enviado especial/Rio de Janeiro*  |  roger.lerina@zerohora.com.br

Trash – A Esperança Vem do Lixo reúne no elenco os dois maiores atores brasileiros de sua geração. No filme dirigido pelo cineasta inglês Stephen Daldry, Selton Mello e Wagner Moura contracenam rapidamente em um par de sequências – mas seus personagens imprimem o tom da trama, encarnando os polos opostos da história em que três garotos encontram em um lixão uma carteira com pistas que levam a um tesouro. O jornalista Roger Lerina conversou com a dupla de astros no Rio de Janeiro, cidade onde se desenrola essa fábula contemporânea.

Confira matéria sobre "Trash" e entrevista com o diretor Stephen Daldry

"Queria trabalhar mais com Stephen Daldry"
Entrevista com o ator Wagner Moura

Fale sobre seu personagem.

Faço José Angelo, um personagem bem bonito. É um papel pequeno, que aparece em algumas cenas do filme, a maioria das vezes em flashback. Ele é o cara que começa essa história toda: ele trabalha durante 18 anos na casa de um político corrupto para fazer uma coisa que muda a vida de muita gente, especialmente as das crianças. Os meninos são meio que guiados pelo espírito desse cara, do que ele fez. Elas fazem o que acham que é certo porque esse cara fez o que achava que era certo.

A imagem que Trash mostra é a de uma realidade marcada pela injustiça social e pela violência. O que você acha disso?

A arte de maneira geral é um espelho da vida. A nossa vida no Brasil infelizmente é muito afetada pela corrupção, pela violência, pela maneira como a polícia trata os mais pobres. Se o filme iria falar sobre essa realidade, era inegável que fôssemos tocar nesses temas.

Como foi trabalhar com Stephen Daldry?

A gente encontra muitos diretores na vida, mas encontros poderosos como esse com o o Stephen acontecem apenas de tempos em tempos. Ele não fala português, e era bonito ver como o ouvido dele funcionava intuitivamente. Ele dirigia a cena como se fosse uma música. Mandava você seguir por um caminho totalmente diferente. Nós, atores, às vezes resistimos a isso, mas eu faria qualquer coisa que ele mandasse. Acho bacana ter um diretor olhando o Brasil do jeito dele. Ele me prometeu que, se tiver um personagem falando inglês com sotaque estranho no próximo filme dele, vai me chamar (risos). Queria trabalhar mais com ele.

Você está muito parecido com o traficante colombiano Pablo Escobar por conta das gravações do seriado Narcos, do Netflix, certo?

Nós filmamos os dois primeiros episódios, que são dirigidos pelo José Padilha (diretor de Tropa de Elite). Quando eu voltar para a Colômbia, começaremos a filmar com o Guillermo Navarro (realizador e diretor de fotografia mexicano), que vai dirigir os episódios três e quatro. Está tudo indo superbem, um elenco incrível! Nós aqui no Brasil estamos ilhados em relação ao que acontece na América Latina, e esse projeto reúne atores da Argentina, do Chile, do Peru, da Bolívia, os melhores atores desses países. São atores que eu não conhecia, porque a gente fica aqui consumindo nossa própria cultura. Deve ir ao ar em 2015, mas não sei quando.

"Esse tipo de personagem não chega para mim"
Entrevista com o ator e diretor Selton Mello

Fale sobre seu personagem.

Eu faço Frederico, um policial da área investigativa da polícia, que comanda a caça à carteira (episódio que dá início à trama). Já que a carteira está com os meninos, ele os caça. Ele é parte de uma engrenagem enorme, e, ao longo do filme, você vai entendendo que é um pau-mandado. É um personagem sui generis na minha carreira, foi preciso um estrangeiro para me dar um papel assim.

Porque você é um cara mau no filme, certo?

Esse tipo de personagem não chega para mim facilmente. Fui chamado para um almoço com o Stephen Daldry, ele tinha visto O Palhaço (filme dirigido e estrelado por Selton) e me disse que o papel era meu. Eu me espantei: "Poxa, não vai ter nem teste? Não vou precisar decorar um texto para te convencer?". Acho que é o jeito dele trabalhar, mais ligado na energia. Adoro os filmes dele, como Billy Elliot e As Horas.

Você realmente não tem um retrospecto de papéis de vilão.

Ele falou: "Isso é bom, porque as pessoas não esperam isso de você. Então, você é que tem que fazer esse personagem!".

Em Trash, você faz um sujeito calado e impassível. Como foi criado esse tipo?

Isso vem de um exercício que eu ando fazendo e que começou com o Paulo José (ator de O Palhaço), que respeito muito. Ele é o mestre da contenção. O que é atuar em cinema? É você com pouco dizer muito. Achei que esse filme era a oportunidade de exercitar isso: um personagem que faz coisas bárbaras, mas de maneira fria. Não confundir isso com vazio: como diz o próprio Paulo José, você olha dentro do ator e tem vida lá dentro.

Seu próximo projeto será dirigir um filme na serra gaúcha?

Sim, O Filme da Minha Vida é baseado em um livro lindo, chamado Um Pai de Cinema, de Antonio Skármeta (escritor chileno). Ele ama o Brasil e disse que queria muito que esse filme fosse rodado aqui. Um amigo disse para ele ver O Palhaço, ele adorou e me ofereceu o livro. Sempre quis filmar algo no Sul, então, quando li o livro, adorei e achei que tinha a ver: a história se passa originalmente na serra chilena, daí lembrei de Bento Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha, Garibaldi. A partir de janeiro de 2015, estaremos nessa região. Filmamos em março e maio. Faço também um papel coadjuvante no filme. Estou feliz de filmar no Sul, gosto muito da serra gaúcha.

Trash fica entre o real e a fábula
Por Roger Lerina

Em Trash – A Esperança Vem do Lixo, o diretor Stephen Daldry e o roteirista Richard Curtis levaram para o Rio de Janeiro a trama original de Andy Mulligan. Na novela do escritor inglês –  editada no Brasil pela Cosac Naify – , a história se passa em um país de Terceiro Mundo não nomeado, mas que poderia ser qualquer um da América Latina. Com a colaboração do brasileiro Felipe Braga, o roteiro do filme situa o enredo no Rio de Janeiro de hoje, onde os adolescentes Raphael, Gardo e Rato –  interpretados por jovens estreantes, selecionados em comunidades cariocas –  encontram uma misteriosa carteira no lixão em que trabalham.

A descoberta detona uma dupla caçada: o trio de garotos tenta desvendar o segredo que o fugitivo José Angelo (Wagner Moura) deixou cifrado entre seus pertences, enquanto o policial Frederico (Selton Mello) persegue os meninos pela cidade, reportando sua busca a um poderoso político –  interpretado pelo ator Stepan Nercessian.

Trash evoca dois longas do cineasta Danny Boyle, Caiu do Céu (2004) e Quem Quer Ser um Milionário? (2008): como no primeiro, os pequenos protagonistas também testemunham a maneira de as pessoas agirem moralmente diante da riqueza e do poder; já do oscarizado segundo título, o filme em cartaz nos cinemas recorda a dura vida das crianças que crescem à margem das grandes cidades dos países em desenvolvimento.

O problema do roteiro de Curtis – autor das histórias de comédias de sucesso como Dois Casamentos e um Funeral (1994) e Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) – é um maniqueísmo que acaba parecendo artificial. Bons e maus são esboçados sem nuanças na tela, dificultando a identificação com personagens imersos em uma sociedade complexa e contraditória como a brasileira. Somado a certas improbabilidades do enredo, Trash fica a meio caminho entre o cru retrato político e social do país e uma fábula moral de esperança e redenção relativamente descolada do registro da realidade.




*O jornalista viajou a convite da Universal Pictures

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