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Itapema FM  | 02/09/2014 08h54min

Saiba como instituições catarinenses preservam seus acervos e resguardam o patrimônio cultural

Furtos e assaltos fazem parte das preocupações constantes dos museus

Atualizada às 10h08min Layse Ventura e Rafaela Mazzaro  |  layse.ventura@diario.com.br;rafaela.mazzaro@an.com.br

Cena 1

Em fevereiro de 2013 o busto Yonne Aastrup, obra do alemão Fritz Alt, foi furtado do Museu Casa Fritz Alt, em Joinville. O alarme da unidade não estava funcionando e o fato de o local estar sem o forro, retirado por conta do mau estado de conservação enquanto as obras de restauro não começavam, também facilitou a entrada do ladrão pelo teto. A peça de bronze nunca foi encontrada.

Cena 2

Três assaltantes arrombaram a entrada do Museu de Arte de São Paulo (Masp) com um macaco hidráulico e um pé de cabra em dezembro de 2007. Em cerca de três minutos os quadros O Lavrador de Café, de Cândido Portinari, e Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso, foram roubados. Um mês depois os envolvidos foram presos, as duas telas recuperadas e o museu ganhou novo sistema de segurança. Em vez de quatro vigias desarmados, passou a contar com câmeras especiais e sensores infravermelhos. Na época da instalação, o Masp foi considerado mais seguro do que o Louvre, de Paris.

Cena 3
Sexta-feira de Carnaval. Enquanto o tradicional bloco de rua Carmelitas levava os foliões pelas ruas de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, quatro homens armados invadiam o Museu Chácara do Céu. Eles furtaram quatro quadros: Marinha, de Claude Monet; A Dança, de Pablo Picasso; O Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse; e Os Dois Balcões, de Salvador Dali, além do livro Toros, com poemas de Pablo Neruda e ilustrações de Picasso. O plano de fuga foi cinematográfico: o grupo saiu misturado às pessoas fantasiadas. O crime aconteceu em fevereiro de 2006 e, depois de oito anos, nenhum suspeito foi preso. Por suas características peculiares, é considerado um dos 10 maiores furtos de obras de arte do mundo pelo FBI, polícia federal norte-americana.

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Furtos não rendem valor de mercado à obra

O busto Yonne Aastrup, obra do alemão Fritz Alt, continua tendo seu paradeiro desconhecido um ano e seis meses depois de ter sido furtado em Joinville. E há grande possibilidade de que a escultura fundida em bronze não retorne para o acervo do artista. A gerente de patrimônio, ensino e arte da Fundação Cultural da cidade, Gessônia Leite, acredita que a peça tenha sido derretida para aproveitamento do material, caso de muitas obras públicas que sumiram, como os bustos de Jerônimo Coelho, Cruz e Sousa, Victor Meirelles, subtraídas da Praça XV de Novembro, em Florianópolis. Segundo explica Ismael Antônio, da Comércio Catarinense de Metais, o quilo da sucata de bronze custa entre R$ 4 e R$ 8. O peso médio de um busto é de 25 a 30 quilos.

De acordo com Ricardo Ramalho, da RR Consultoria, de São Paulo, especializada no mercado de arte, no caso do Museu Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, os quadros furtados valem cerca de R$ 95 milhões, uma avaliação conservadora, baseada no histórico de venda dos quatro pintores.

— Quando se trata de obras muito conhecidas, os ladrões não faturam nem 1% do valor real. Eles costumam ser pagos pelo "serviço" em si. A pessoa que adquire também não pode exibi-las, ou seja, não é um investimento, e sim a satisfação de um capricho pessoal — explica Ramalho.



Furtos são casos isolados


Apesar da baixa frequência de roubos e furtos em museus, existe uma preocupação constante com os acervos, já que eles envolvem, além de perda material, valores simbólico e cultural. No Brasil, o registro mais antigo desse tipo de crime é do início do século 20, com o desaparecimento de peças como moedas e objetos em ouro e em prata.

Responsável por regulamentar o setor, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) estabelece uma série de cuidados com os acervos que não se restringe ao furto de obras de arte. O órgão exige que todas as unidades elaborem seus planos museológicos, e a segurança deve ser um dos temas debatidos nesse processo.

Em Joinville, o documento poderá prever mudanças de acordo com a avaliação de um museólogo que será contratado pela Fundação Cultural do município. Gessônia Leite, gerente do patrimônio, explica que no período de um ano o profissional atenderá o Museu de Imigração e Colonização, o Museu de Arte e o Museu Casa Fritz Alt.

Segundo ela, os dois últimos reúnem instrumentos suficientes para proteger os acervos, como alarme, câmera e segurança humana, incluindo os monitores – por conta disso, os casos de furtos são raros.

Reforço para grandes exposições

O Museu de Arte de Joinville (MAJ) foi um dos poucos do país a conseguir em 1990 o empréstimo dos oito painéis da Série Bíblica de Cândido Portinari, que pertencem ao Masp. Para isso, a cidade teve de reforçar o esquema de segurança e ainda oferecer garantias extras. A instituição precisou do patrocínio de uma seguradora, no valor de US$ 25 mil na época, para firmar o acordo.

A exposição de Portinari também resultou em uma operação militar nos arredores do MAJ durante os 30 dias de duração. O porão do museu foi equipado com metralhadoras e passou a ser usado como bunker pelos policiais militares que faziam a vigilância 24 horas por dia. O mesmo aconteceu durante a mostra de oito esculturas do francês Edgar Degas (1992), das aquarelas de Victor Meirelles (2006) e da coleção de Camille Claudel (2007).

Conforme explica o Ibram, a movimentação de obras e objetos museológicos é uma prática que necessita de planejamento, supervisão adequada e de uma apropriada previsão dos riscos envolvidos na execução desses processos.



Esquema reforçado em Florianópolis

O sistema de segurança do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), um dos mais importantes do Estado, com 1.283 metros quadrados destinados à exposição no Centro Integrado de Cultura (CIC), na Capital, é composto por grades de ferro, cercas, câmeras e sistema de alarme. Além disso, uma equipe de 12 policiais militares e 20 vigilantes terceirizados ajudam a resguardar o local.

O esquema garante a preservação de um acervo de 1,8 mil obras, quase todas tombadas pelo próprio museu. São quadros de artistas como Alfredo Volpi, Iberê Camargo, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Eduardo Dias e Martinho de Haro - todos com grande importância artística, cultural e monetária.

— É difícil estabelecer valores, porque Santa Catarina não tem um mercado de arte que confira essa autoridade. Em grandes centros, além dos especialistas, há os galeristas que atuam como um termômetro — afirma Mary Garcia, diretora de difusão artística da FCC.

O Museu Hassis, instituição privada em Florianópolis, ganhou sua terceira sala de exposição em agosto, aumentando o espaço para 130 metros quadrados. No local são exibidas obras e documentos do pintor Hassis e também exposições temporárias. Sua reserva técnica guarda um acervo de aproximadamente 2,5 mil obras, 8 mil fotografias, 350 filmagens e outros 12 mil documentos do artista.

Com uma média mensal de 2 mil visitantes, o museu é protegido por cercas e grades, monitoramento por câmera e vigilância terceirizada. No caso de mostras com obras de valor mais alto, seguranças são contratados para reforçar a equipe.

— Sempre acompanhamos qualquer notícia relacionada a museus. Quando houve os incêndios no acervo da Tomie Ohtake e no apartamento de um colecionador no Rio de Janeiro, começamos a observar todos os detalhes de segurança quanto a esse tipo de incidente, por exemplo — explica Denise Becker, diretora de projetos e marketing da Fundação Hassis.

Funcionários durante o dia, vigia à noite

*Pamyle Brugnago
pamyle.brugnago@santa.com.br

No Museu de Arte de Blumenau (MAB), da Fundação Cultural, os funcionários fazem o monitoramento e o resguardo das obras durante o horário de funcionamento.

Para garantir a segurança e a preservação do acervo, que conta com 753 peças de artistas nacionais como Elke Hering, Pedro Dantas, Pita Camargo, Guido Heuer, Meyer Filho, Silvio Pléticos, Willy Zumblick, Reynaldo Manske, Tadeu Bittencourt e Antônio Mir, os colaboradores orientam e acompanham os visitantes – cerca de 9 mil por ano.

Apenas no período noturno, entre 17h30min e 5h30min, um guarda faz a segurança do imóvel que contempla a administração da Fundação Cultural. Uma cancela foi implantada na área do estacionamento e funcionários fazem a recepção no local. De acordo com a gerente da instituição, Mia Ávila, nos últimos anos nenhum caso de furto ou dano foi registrado.

A NOTÍCIA
Daniel Conzi / Agência RBS

Grades de ferro, câmeras e sistema de alarme compõem sistema de segurança do Masc, na Capital
Foto:  Daniel Conzi  /  Agência RBS


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