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Itapema FM  | 28/07/2014 08h02min

Discos históricos da bossa nova voltam a mercado em edições especiais

Quatro caixas com CDs preservam capa, contracapa e textos originais de 27 LPs lançados por artistas como Wanda Sá, Pery Ribeiro e Agostinho dos Santos

Juarez Fonseca*

O imaginário da bossa nova atravessa o tempo. Além de aparecer explicitamente ou no DNA de boa parte da música feita hoje, a bossa segue motivando incursões ao passado, aos seus anos de criação e expansão, porque há público interessado nisso — e colecionadores de discos.

A gravadora carioca Discobertas tem na bossa original um de seus filões. Recentemente, lançou quatro caixas, totalizando 27 discos, 26 nunca lançados antes em CD: Wanda Sá Bossa Nova Anos 60 (três álbuns, R$ 65,90), Pery Internacional (sete, R$ 152,90), Agostinho dos Santos Bossa Nova Vol.1 (quatro, R$ 89,90) e Bossa 50+5 (10 LPs em cinco CDs, R$ 105,90). Claro que clássicos óbvios, como Garota de Ipanema, Desafinado e O Barquinho, estão em vários desses discos, lançados basicamente nos anos 1960. O melhor ao ouvi-los, no entanto, é degustar os climas da época e conhecer músicas perdidas, de autores esquecidos, a mostrar que a bossa não se limitou aos apartamentos da Zona Sul, como o folclore nos fez imaginar. Detalhe: os CDs vêm com capas, contracapas e textos originais.

Integrante da segunda leva de cantoras da bossa, Wanda Sá despontou em 1964 com Vagamente, produzido por Roberto Menescal. Bonita, voz com aquele rouquinho leve, chamou a atenção pelo repertório melancólico em contraste com seus 20 anos. Acompanhada por músicos como Dom Um, Tenório Jr., Eumir Deodato, ela canta Tristeza de Nós Dois, Sem Mais Adeus, Inútil Paisagem, Desafinado. Os dois outros CDs da caixa foram feitos nos EUA. No primeiro, Brasil '65, é a vocalista do Sergio Mendes Trio (com a participação da violonista Rosinha de Valença), e a capa antecipa: "Introducing the sunny, refreshing voice of Wanda de Sah". Ganhou um “h”, mas a voz era linda mesmo. Em português e inglês, canta So Nice (Samba de Verão), Berimbau, One Note Samba, Consolação, She’s a Carioca e mais. Também de 1965, o outro disco, Softly!, é orquestrado por um certo Jack Marshall e tem Quiet Nights (Corcovado), Oba La La, Tem Dó e Água de Beber, entre outras. Wanda foi casada com Edu Lobo, morou um tempo nos EUA e nos anos 1990 retomou a carreira no Brasil.

Os títulos dos álbuns reunidos na caixa Bossa 50+5, lançados entre 1962 e 1966 por selos independentes, já antecipam o clima festivo: Balanço & Bossa Nova, Sambalanço, Samba do Bom, Isto É Bossa Nova Mesmo, Samba Pra Frente etc. Os conjuntos instrumentais que os gravavam, Bossa Brass, Samba Trio, Ritmistas da Bossa, Os Azes da Bossa, entre outros, sumiram na poeira do tempo. Alguns eram formados por músicos que estavam ali para ganhar uns trocos, como Waltel Branco, Geraldo Vespar, Copinha. Responsável pela seleção, Marcelo Fróes define-a como "um mergulho no underground da bossa". De fato, ao lado de Jobim, Lyra e Menescal, estão Wenceslau Netto, João Mello, Hercílio Silva. Além dos sucessos e das novidades da bossa propriamente dita, os 10 discos injetam balanço em sambas tradicionais, mas recentes. Pelas surpresas, é a mais interessante das quatro caixas. Mostra com fidelidade a agitação provocada pelo ritmo nos bares e nas reuniões dançantes.

Pery e Agostinho entraram na onda

Os destaques da caixa de Pery Ribeiro ficam por conta dos cinco LPs que ele gravou e lançou no Exterior entre 1967 e 1970, surfando na popularidade da bossa nova — pois o filho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins não era precisamente um bossa-novista. No disco ao vivo Gemini V en Mexico, com o grupo Bossa Três, ele reparte os vocais com a ótima Leny Andrade. Também feito para o México, Pery, de 1968, tem dois gaúchos no estúdio, Breno Sauer e Primo com seu quinteto. Outro gaúcho de respeito, Manfredo Fest é o organista do grupo Bossa Rio nos dois álbuns produzidos por Sérgio Mendes para os EUA, com Pery e Gracinha Leporace nos vocais. O terceiro disco do Bossa Rio (com João Donato ao piano) é Live in Japan, recheado de emoções. Ao lado de clássicos da bossa nova, os CDs incluem músicas de Caymmi, Jorge Ben, Burt Bacharach, Beatles, Caetano Veloso, Edu Lobo, Moacir Santos e até Carlos Imperial... Mesmo integrando a caixa, os discos de 1971 e 72 nada têm a ver com esses cinco, a não ser a correta voz de Pery, calada em 2012, aos 75 anos.

Já Agostinho dos Santos morreu no auge da carreira, aos 41 anos, em 1973, em um desastre aéreo em Paris. A voz aveludada e de timbre original era perfeita para o samba-canção, gênero que foi de fato sua praia e que preenche, com arranjos orquestrais, a maioria das faixas da caixa — sucessos como Balada Triste, Ninguém É de Ninguém, A Noite do Meu Bem, a jobiniana Eu Sei que Vou te Amar, ao lado de sambas tradicionais e de econômicas inserções de bossa nova, como Chega de Saudade (que gravou em 1958, mesmo ano de João Gilberto!).

Agostinho também não era um bossa-novista de origem. Mas foi o escolhido para gravar a trilha do histórico filme Orfeu do Carnaval (de Marcel Camus, 1959), feita por Tom e Vinicius, na qual, entre outras, cantava A Felicidade. Mais: estava no mitológico show de lançamento internacional da bossa no Carnegie Hall, em 1962. Os quatro álbuns foram lançados entre 1958 e 1961. Além de Tom e Vinícius, incluem composições de Noel Rosa, Caymmi, Billy Blanco, Lupicínio, Capiba, Luiz Bonfá, Dolores Duran, Luís Antônio e Tito Madi.

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