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Itapema FM  | 18/03/2014 17h51min

Cidadela Cultural, em Joinville, espera há 14 anos pela execução do projeto original

Estrutura opera parcialmente como espaço cultural, mas divide endereço com órgão de trânsito, entulhos e abandono

Rubens Herbst  |  rubens.herbst@an.com.br

Olhando de fora, impossível negar que se trata de um prédio imponente. A arquitetura reta e rígida conserva um certo ar nostálgico, enquanto a estrutura que se ergue atrás conduz a um período industrial que desperta saudades entre cervejeiros e abstêmios. Já o muro frontal, com linhas gráficas interferindo na tinta branca, indica não só contemporaneidade como também uma renovada destinação ao espaço, algo jamais consolidado.

E basta ultrapassar um dos portões para perceber que, para a Cidadela Cultural Antarctica fazer jus ao nome, ainda falta muito, mesmo passados 14 anos de seu batismo. Ao invés do barulho típico do fazer e consumir arte, apenas o ruído da rua Quinze de Novembro, brevemente interrompido pelos veículos e funcionários do Instituto de Trânsito e Transporte de Joinville (Ittran). Um silêncio que periga se acentuar num futuro próximo.

Com a extinção do órgão e a ida de seus funcionários para outras repartições públicas, várias salas do complexo ficarão vazias. A situação inflou o desejo de artistas, produtores e coletivos de ocuparem estes espaços e, assim, efetivar a função cultural da Cidadela. Reuniões vêm acontecendo desde o mês passado, só que nada foi acertado ainda, mesmo porque não há uma data certa para a saída do Ittran. Além disso, não é difícil imaginar que a revitalização da Cidadela exigirá uma soma considerável dos cofres públicos.

A realidade do complexo é muito distante daquela planejada após a compra da Cervejaria Antarctica pela Prefeitura, em 2000, por R$ 2,1 milhões. Na época, o então prefeito Luiz Henrique da Silveira disse que o objetivo era transformar o conjunto numa “fábrica” de cultura, turismo e lazer, que oferecesse serviços e gerasse emprego e renda. O plano, naturalmente, ainda espera ser concretizado. Basta uma volta pela degradada estrutura da Cidadela – menos o espaço onde o Ittran está instalado – para certificar-se disso.

Com o projeto original em mãos, foi o que a reportagem fez. O tour foi acompanhado por Guilherme Gassenferth, gerente de Patrimônio da Fundação Cultural de Joinville (FCJ). Logo na entrada, vem à memória a sala de cinema que funcionava no andar superior do prédio frontal, há tempos desativada e nunca substituída.

Mais à frente, no corredor da esquerda, fica o refeitório do Ittran, como programado, mas onde deveria ser o núcleo de fotografia funciona a oficina de bicicletas dos agentes de trânsito. Ao lado, salas planejadas para atividades de ioga e gestão de pessoas servem de depósito de material. Outras localizadas neste trecho estão desocupadas e deixam aparente o forro apodrecido e os buracos no telhado.

Um desses espaços é aquele onde, por um tempo, funcionou a Escola de Panificação Suíça. Em 2008, um deslizamento de terra interditou o local, e assim ficou. O letreiro ainda pintado, entretanto, lembra a todos o antigo uso.

Projeto original previa instalação da FCJ na estrutura da Cidadela

O tour pela Cidadela Cultural Antarctica segue e, do galpão localizado em frente ao estacionamento do Ittran – requerido pelo setor da dança, por sinal –, veem-se estruturas que emulam a destinação original às atividades circenses, mas a cobertura não existe mais (foi retirada por causa do risco de cair). Na “passarela central”, se de um lado os galpões do Museu de Arte (MAJ) e da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) são plenamente ativos, do outro, o prédio da antiga cervejaria desgasta-se a olhos vistos. Interditado, ele virou depósito de pó e entulho. Nisso incluem-se, talvez, os equipamentos de fabricação de cerveja que lá continuam, sem uso e sem cuidados especiais. O plano original era instalar ali o Instituto LHS, depois substituído pelo Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke.

Adiante, os galpões da Associação dos Artistas Plásticos (Aaplaj) funcionam onde deveriam estar, mas, no grande vão entre as salas e o galpão da Ajote, o mato ocupa o lugar onde o projeto indica um palco e arquibancadas ao ar livre.

O passeio termina no prédio frontal, esse mesmo que abriga a administração do Ittran e que o projeto original previa o recebimento de toda a estrutura da Fundação Cultural de Joinville (FCJ). Daria e sobraria – afinal, as mais de 40 salas, divididas em dois pavimentos, acomodariam perfeitamente os cerca de 55 funcionários do órgão.

– Eu defendo a vinda (da FCJ) para cá, porque evita a desocupação e favorece o diálogo com a classe artística – justiça Guilherme Gassenferth, assinalando, porém, que a ocupação da Cidadela depende de uma série de ajustes.

A transição de responsabilidade sobre o local é uma delas – a Fundação Cultural, que herdará os custos com manutenção, segurança, água e luz, não sabe quando isso acontecerá. Outra questão é a divisão de espaços, que será decidida entre a fundação e os grupos – a forma como isso se dará ainda está em discussão.

Recuperação

O presidente da FCJ, Rodrigo Coelho, já traça caminhos para recuperar a Cidadela e mantê-la funcionando unicamente como complexo cultural, respeitando o plano de governo. Tirando a óbvia busca de recursos junto à Lei Rouanet e ao Simdec, uma das opções seria o aluguel de espaços, via concorrência pública, para a gastronomia. A presença de cafeteria, livraria e revistaria é algo claro. Renderia recursos e estaria condicionada a um auxílio na recuperação da estrutura, além de atrair público e contribuir para a atmosfera de encontro e permanência que se espera de um complexo de lazer e cultura.

Coelho diz que a previsão é de que o Ittran deixe a Cidadela até junho. Aí, o dinheiro em caixa da fundação será empregado em reformas emergenciais, entre elas, o estacionamento coberto, que, pelo jeito, já está garantido para a Associação de Grupos de Dança de Joinville (Anacã). Segundo o vice-prefeito, há um projeto de recuperação sendo tocado pelos arquitetos do Ippuj e da FCJ, inclusive integrando Cidadela, Parque das Águas e Museu de Arte.

Se Rodrigo Coelho vislumbra uma movimentação diferente na Cidadela Cultural em 2015? Com ar exultante, ele garante que sim.

A NOTÍCIA
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