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Itapema FM  | 03/01/2014 15h03min

Escritora relata como foi a migração do povo grego para Florianópolis

Déspina Spyrídes Boabaid, filha de primeiros imigrantes gregos que chegram a Capital, empreendeu uma pesquisa profunda para narrar a vinda de seus antepassados

Fernanda Oliveira  |  fernanda.oliveira@diario.com.br

Faz bastante tempo que Déspina Spyrídes Boabaid, catarinense filha de imigrantes gregos, nutria a vontade de escrever sobre a história de seus antepassados que culminou na fundação de uma comunidade grega em Florianópolis.

Depois de uma extensa e detalhada pesquisa, que teve como fontes tanto narrativas orais quanto documentos escritos em grego original, o livro Meghísti – Ilha Grega entre três Continentes foi lançado em setembro com as comemorações do aniversário da imigração. Falar sobre a migração de um povo não é apenas traçar uma linha imaginária no mapa do mundo, ligando um país a outro.

Há antecedentes, tentativas, motivos e inúmeras contingências que uma simples rota de navegação não pode contemplar. No caso dos gregos de Meghísti que começaram a desembarcar em Santa Catarina no final do século 19, a história precisou de exatos 130 anos para ser devidamente contada.

– Sempre gostei de escrever, mas trabalhos que levei a sério mesmo para deixar alguma coisa de minha vida para a posteridade foram este livro e Uma Flor com Amor, de sonetos. Meghísti se refere à história de uma ilha que é de onde procedem meus pais. É uma casca de ovo, muito pequena, mas é uma ilha histórica de grande importância – descreve a autora.

O marco inicial da chegada dos gregos que deixaram a pequena Kastelórizo (também chamada Meghísti) para viver em Florianópolis é o navio do capitão Savas Nicolau Savas, considerado pioneiro e fundador da comunidade helênica de Santa Catarina – Déspina Spyrídes Boabaid é sua sobrinha-neta.

Por conta de avarias na embarcação, o navegador precisou aportar às pressas no litoral catarinense no ano de 1883. Encantado com a beleza do local, ele voltaria à Ilha de Santa Catarina seis anos depois para fixar residência; no ano seguinte, faz nova viagem à Grécia para buscar outras famílias.

Naquela época, a ilha grega que representa o extremo oriental do país era dominada pelo império otomano. Por sua localização geográfica cobiçada, no sudeste do Mar Mediterrâneo entre países da Europa, África e Ásia, Kastelórizo era alvo de constantes disputas entre povos do três continentes. Além disso, a ilha possui uma baía de águas profundas que permite a ancoragem de navios de grande porte, característica valiosa já na época.

A vida de incertezas decorrente das sucessivas guerras foi o que levou muitos habitantes de Meghísti a deixarem a Grécia. Ao chegar a Florianópolis, os gregos se depararam com diferenças que iam do idioma à religião, passando por costumes e meios de subsistência. Como a terra de Kastelórizo era pouco fértil, as principais atividades dos habitantes daquela ilha eram o comércio e a navegação – áreas que passam a desenvolver também aqui.

– Por ser uma ilha, Florianópolis de certa forma se assemelhava com a terra natal. Hoje as mais de 30 famílias que chegaram aqui já estão na sexta geração, somos continuadores dos pioneiros – afirma Déspina.

Entre as inovações promovidas pelo capitão Savas na época estavam o serviço de diligências que ligava Florianópolis a Palhoça e a travessia marítima entre ilha e continente. Com os recursos que adquiriu, Savas também arrendou grandes propriedades de terra, entre elas a então fazenda do Tabuleiro, onde desenvolveu a criação de gado.

Há diferenças entre o pesquisador que se interessa por um tema e aquele que o traz na memória e no cerne de sua família. Déspina Spyrídes Boabaid é filha do casal de gregos Kastelorízo Nicolau e Kyriakí, de quem herdou os costumes, a fluência em grego e inúmeras histórias para contar.

No livro fica clara a intensidade próxima com que a autora recorre à lembrança de seus pais e ao rico passado da Grécia para traçar o contexto da vida em Kastelórizo e depois fora dela.

– Fiz o que pude. Na verdade tive que me obrigar a parar, caso o contrário o livro não teria fim. De agora em diante, o resto não é mais comigo... Meghísti (o livro) é uma colagem de referências que vão desde letras de músicas a listas de provérbios populares, passando pela história bizantina, pelos santos, orações e versos folclóricos. Detalhista e muito preocupada em retratar fidedignamente a trajetória de seus antepassados até chegar a seus contemporâneos, a autora não se atém apenas às ilhas – da Grécia e de Santa Catarina –, mas recorre à Antiguidade e à filosofia grega para esmiuçar toda uma cultura.

– A história de Meghísti é muito longa e muito sofrida. Mas não me detive nessa parte porque ninguém quer ler sobre o sofrimento – revela a escritora. O livro pesado de 386 páginas não está à venda em livrarias, mas é possível adquirir um exemplar entrando em contato com a autora pelo telefone (48) 3222-3179.

Curiosidades sobre a ilha de Kastelórizo

(Meghísti) Meghísti: significa "a maior". Apesar de ter pouco menos de 12 mil quilômetros quadrados, Meghísti é a maior das ilhas do sudeste grego. No final do século 19, a ilha chegou a ter mais de 10 mil habitantes. Hoje a população é de apenas 492 pessoas.

Os habitantes da ilha comemoram o Ano-Novo com uma série de tradições. Em uma delas, a anfitriã joga para o alto uma romã madura para que, ao cair no chão, ela espalhe seus grãos rosados pela casa

Livro:

 
Meghísti – Ilha Grega entre três Continentes, de Déspina Spyrídes Boabaid (2013), Editora Insular, 386 páginas.

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