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 | 31/05/2013 07h31min

Poder público e Associação dos Amigos do Museu do Mar, em São Francisco, discutem regras de gestão da unidade

Durante muito tempo, sociedade civil cuidou do lugar recebendo recursos da Fundação Catarinense de Cultura

De um lado, um grupo de apaixonados cheios de ideias e iniciativas. Do outro, o poder público tentando assumir seu papel de regulador e administrador. No meio, um prédio centenário e o acervo de embarcações mais completo da América Latina, localizado em São Francisco do Sul, batizado de Museu Nacional do Mar (MNM) e unidade sob responsabilidade do Estado de Santa Catarina.

Depois de quase dois anos de discussões, o acerto entre todos os interessados em manter o museu parece estar perto de ser concretizado — ainda que não haja data nem certezas sobre o termo de cooperação técnica, documento que prevê condições de igualdade entre todos os envolvidos na gestão do Museu do Mar e que estava previsto para ser renovado em janeiro deste ano.

O termo significa uma união entre a Associação dos Amigos do Museu Nacional do Mar, o Governo Federal (representado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — Iphan), a Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul, o Governo do Estado (representado pela Fundação Catarinense de Cultura — FCC) e o sócio benemérito do Museu, Amyr Klink.

Ele é, neste ponto, uma ação exclusiva do museu de São Francisco, já que com isso mantém um regime de parceria inédito no Brasil. Durante muito tempo, a Associação dos Amigos do Museu foi a responsável pela administração do prédio, seu acervo e suas atividades.

— A associação foi criada em 1992 para que o Museu do Mar não fosse uma unidade gerida apenas pelo governo, assumindo para si, por exemplo, a responsabilidade da captação de recursos — afirma o presidente da associação, Bruno de Britto.

Agora, eles brigam para evitar o esvaziamento do conselho gestor, formado por representantes de cada uma das entidades citadas acima, e a retirada dos direitos da associação de interferir nas decisões da unidade. Segundo Bruno, essa providência evita que, no futuro, o museu volte a ficar à mercê do desinteresse do Estado.

— Nestes 20 anos, passamos por várias gestões que deixaram o museu esquecido. Se não fossem estas parcerias, quase fechamos as portas várias vezes — lembra Bruno.

A última crise foi em 2011, quando o MNM ficou sem monitores por falta de pagamento — o último repasse da FCC, no valor de R$ 90 mil, havia ocorrido em março daquele ano — e o museu chegou a dezembro sem orçamento para o salário dos funcionários que eram contratados pela associação.

— Em 2011, quando assumimos a fundação, foram nos colocados inúmeros problemas. Entre eles, o maior era o Museu do Mar. Apesar desta herança, não nos esquivamos — afirma o presidente da FCC, Joceli de Souza, referindo-se à contratação de 15 servidores públicos para assumirem as atividades.

No entanto, ele deixa claro que a atual situação não permite que a associação continue fazendo o mesmo trabalho.

— O Estado havia se afastado do museu, mas agora assumimos o papel que nos cabe. Vai, sim, haver uma reorganização das atividades — os servidores não podem se submeter à associação — garante.

Sem segurança para acervo e visitantes

Os efeitos da insegurança provocada pelas mudanças e incertezas no Museu Nacional do Mar já são sentidos, partindo do esvaziamento do Conselho Gestor. O sócio benemérito Amyr Klink, que possui uma sala em sua homenagem com itens como o primeiro barco do navegador e o IAT, a histórica embarcação com a qual ele cruzou o Oceano Atlântico em cem dias, além de objetos pessoais, retirou seu acervo do local motivado por esta insegurança e pelos problemas encontrados na unidade.

O Museu do Mar não possui sistema anti-incêndio, câmeras de segurança nem seguro específico para acervo. Além disso, por estar dentro de um prédio de 1903 localizado ao lado da Baía da Babitonga, precisa de restauros periódicos e mudança no sistema elétrico.

— Todos os dias, inúmeras lâmpadas queimam. Um curto-circuito seria destrutivo — avalia Bruno de Britto.

O que diz a Associação de Amigos do Museu do Mar

— A assinatura do Termo de Cooperação Técnica é prioridade, porque ela delimita obrigações e divide decisões. O que a Fundação Catarinense de Cultura tem que entender é que a sociedade civil não vai sair de dentro do Museu do Mar: com isso, ele seria refém da espera dos recursos do Governo. A atual diretora (Andrea de Oliveira) já não foi empossada via Conselho Gestor — Bruno de Britto, presidente da Associação de Amigos do Museu do Mar.

O que diz a Fundação Catarinense de Cultura

— A forma com a qual o Museu do Mar estava sendo administrada era por amor, mas filho a gente cria para o mundo. A FCC tem um quadro técnico altamente capacitado para desenvolver as atividades museais. Temos que readequá-los ao Instituto Museual, como o Ibram exige, para que possa ascender a recursos. Vamos aceitar todos os parceiros que quiserem ajudar, mas só estará dentro quem estiver dizendo sim às mudanças — Joceli de Souza, presidente da Fundação Catarinense de Cultura

Saiba Mais

O Museu  Nacional do Mar está no ranking da edição 2013 do "Guia Brasil Quatro Rodas" como um dos melhores museus do Brasil. Outro museu catarinese rankeado é o Mundo Ovo de Eli Heil, que fica em Florianópolis.

A NOTÍCIA
Diorgenes Pandini / Agencia RBS

O Museu Nacional do Mar — Embarcações Brasileiras fica à beira da baía da Babitonga, em um prédio de 1903
Foto:  Diorgenes Pandini  /  Agencia RBS


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