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Itapema FM  | 05/10/2010 11h11min

Suzanne Vega lança coleção com sucessos em versões acústicas

Disco tem músicas como "Luka" e "Marlene on the Wall"

TICIANO OSÓRIO

É sempre um choque estético ouvir Suzanne Vega. Quando ela despontou, nos anos 80, nos vimos cantando alegremente sobre aquela criança que morava no segundo andar e apanhava dos pais. Agora, sob o império do ribombo e do saracoteio erigido por Lady Gaga, Beyoncé e Rihanna, ela retoma um formato que há uma década não é mais febre (o unplugged) e, sem tirar a roupa, se desnuda mais do que essas artistas para versar sobre o amor – o curioso é que, letras e melodias à parte, títulos como Bad Romance, Crazy in Love e Rude Boy, para citar três hits das moças, não soariam estranhos neste Love Songs, volume 1 da coleção Close-Up.

Musa por excelência do folk-pop americano, cantora de voz suave mas versos fortes, artista que bem incorporou outros gêneros (jazz, bossa nova, eletrônica), letrista que sabe inventar histórias e inventariar suas próprias histórias, Suzanne, 51 anos, revê sua carreira na série Close-Up. São versões acústicas, despojadas – é ela na voz e violão, Gerry Leonard na guitarra e Michael Visceglia no baixo. Love Songs já chegou ao Brasil, e o segundo CD, Peoples and Places (que trará Luka, o clássico dos anos 80 mencionado no começo deste texto), está saindo nos EUA.

Na comparação com as originais, as versões unplugged não trazem grandes diferenças – tampouco fazem falta o sintetizador oitentista de Marlene On the Wall, seu primeiro hit, ou o clarinete e o trompete da bossanovista Caramel. A economia de instrumentos realça a riqueza lírica. Suzanne é brilhante, com o perdão da rima pobre, em extrair beleza da tristeza. Nas faixas que abrem e fecham o CD, ela canta o amor como uma força aniquilante: “Hoje eu sou / uma coisinha pequena / como uma bolinha de gude / ou um olho / com os joelhos contra minha boca / sou uma esfera perfeita / estou assistindo você”, diz em Small Blue Thing. Bound é uma dor só: “O caminho do mundo / cobrou seu preço / destroçou meu corpo / e corroeu minha alma / estou arruinada pela chuva / desgastada pela chuva / fui invadida / por dentro e por fora / e eu te pergunto / eu estou te perguntando / perguntando se você / me deseja ainda”.

Letra e melodia se tornam ensolaradas em Gypsy, radiantes na autobiográfica Marlene on the Wall (em que um pôster de Marlene Dietrich observa o movimento no quarto de Suzanne à época de seus 20 anos). (I’ll Never Be) Your Maggie May é para ouvir de manhã e sair cantarolando num dia primaveril. Mas depois vem a chuva de novo – o objeto do afeto em Harbor Song é um cara que “bebe por 10 e fuma por 20”, cujo “coração volúvel nunca será verdadeiro”. Em Songs in Red and Gray, o ponto de vista é o da ex-amante de um pai de família: “A censura no belo rosto de sua filha / me faz pensar em como ela pode saber / de uma coisa que aconteceu entre você e eu / há muito mais do que há muito tempo”. É uma canção melancólica, pungente, deliciosamente amarga.

Em entrevista por e-mail a ZH, Suzanne falou sobre a seleção das músicas, sobre o que a inspira e, claro, sobre o amor.

Zero Hora – O formato simples da série Close-Up realça algo que sempre foi uma de suas maiores virtudes: as letras de qualidade literária, as histórias que você canta. Você pode falar um pouco sobre seu processo de criação? As letras sempre vieram antes da melodia? O que inspira você?
Suzanne Vega –
Sou inspirada pela vida cotidiana e pelo acaso. Às vezes as letras vêm primeiro, e às vezes, a melodia – às vezes é uma imagem que surge primeiro.

ZH – No encarte, você diz que “são canções de amor, mas que também falam de atração, flerte e confronto”. Qual sua definição para canção romântica?
Suzanne –
Uma canção de amor é uma canção escrita quando se está apaixonada por alguém.

ZH – Em Caramel, a batida de bossa nova fica mais evidente ainda. Qual sua relação com a música e os ritmos brasileiros?
Suzanne –
Amo a música de Tom Jobim e João Gilberto. Ouvia a música deles quando adolescente e ainda as amo hoje.

ZH – Fale um pouco sobre (I’ll Never Be) Your Maggie May, canção que cita Maggie May, clássico de Rod Stewart dos anos 70. Ele já comentou com você sobre ela?
Suzanne –
Acho que ele nem sabe da canção. Tive um romance com um homem mais jovem por um tempo, e foi isso o que me inspirou.

ZH – Numa entrevista, você afirmou: “Sempre achei que, se eu fosse popular, era porque eu estava fazendo alguma coisa errada”. Como você lidou com esse conceito à época de Luka e Tom’s Diner? E hoje, você se considera uma artista popular?
Suzanne – Em alguns lugares do mundo sou popular. Mas também vejo um monte de gente dizendo: “Sou um novo fã, sua música é nova para mim”. Então há sempre para onde me expandir.

ZH – Com um formato simples, não cogitou gravar músicas inéditas, coisas do passado que não tiveram espaço nos álbuns?
Suzanne – Sim, algumas vão aparecer no Volume 4, Songs of Family.

ZH – Sua maneira de cantar e viver o amor mudou nesses 25 anos de carreira?
Suzanne – Sim. As canções mais antigas são mais inocentes, como Gypsy. As mais recentes, como Bound, já são mais desencantadas.

ZERO HORA
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