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Itapema FM  | 20/08/2010 08h14min

Entrevista: Simple Minds

Banda toca em Porto Alegre neste domingo

Luís Bissigo

Os sempre celebrados anos 1980 voltam à pauta neste domingo (22/8), quando a banda escocesa Simple Minds faz sua estreia em Porto Alegre, no Teatro do Bourbon Country.

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Claro, é uma estreia tardia. O grupo viveu sua fase de maior êxito há 20 e poucos anos, quando emplacou seus dois principais hits - Don’t You (Forget About Me) e Alive and Kicking -, percorreu o mundo, levantou bandeiras políticas - um dos sucessos da época é a engajada Mandela Day, em homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela - e até alimentou a fome de fofocas do rock - o vocalista Jim Kerr foi casado com a líder dos Pretenders, Chrissie Hynde.

Mas o quarteto de veteranos chega à cidade disposto a mostrar um panorama completo de sua história. O repertório vai passar por músicas de todas as fases das três décadas de trajetória - Let There Be Love, Someone Somewhere in Summertime, Love Song e Chelsea Girl deverão ser algumas delas -, incluindo o álbum mais recente, Graffiti Soul, lançado no ano passado.

Falando por telefone de um hotel na Itália, no último dia 10, Jim Kerr, 51 anos, analisou o momento da banda - que, segundo ele, está em “muito boa forma”.

Zero Hora - Neste momento vocês estão em turnê pela Itália? E como está sendo esse giro pela Europa antes de vir ao Brasil?
Jim Kerr -
A banda está em muito boa forma. Faz quase um ano que estamos em turnê, e a opinião geral é que a banda está ficando cada vez mais forte. Acho que isso é um ótimo sinal para o Brasil. Nós estamos na expectativa para ir ao Brasil, não vamos aí faz muito tempo, então nós realmente sentimos a necessidade de provar para vocês ainda mais, e nós sempre dizemos que nós vamos dar mil por cento do que podemos.

ZH - Você lembra quantas vezes estiveram no Brasil?
Kerr -
Foram duas visitas. Uma em 1988, em um grande festival (o Hollywood Rock). E voltamos mais uma vez, acho que foi, eu acho, em meados dos anos 1990, para um show em São Paulo.

ZH - Você lembra alguma situação especial tocando aqui, sobre o público, o som ou a cultura brasileira?
Kerr -
Claro, foi algo muito importante, ainda é. Não conheço ninguém que não seja interessado e fascinado pelo Brasil, por diversos aspectos - a cultura, a música, até pelo futebol. Certamente nós sabemos que o Brasil é bem mais que apenas o Rio de Janeiro, há muitas faces no Brasil, e inclusive nós vemos que o Brasil está avançando enquanto tantos países estão em declínio. É um lugar que parece estar andando para frente.

ZH - Certamente, em vários aspectos isso é correto. Não todos deles, certamente. Certamente não no futebol! (risos)
Kerr -
Bom, eu não quis falar sobre isso, mas você sabe, essas coisas são cíclicas, tenho certeza de que vocês voltarão novamente.

ZH - Falando sobre o sul do Brasil, é muito diferente do Rio. Por exemplo, agora estamos no inverno aqui, e está frio, talvez não tão frio comparando com a Escócia, ou a Europa em geral, mas nós sofremos um pouquinho.
Kerr - Sim, eu posso imaginar! Mas sabe que isso torna interessante, ver as diferentes facetas de diferentes lugares.

ZH - Nesses anos de carreira vocês já devem ter visto diversos países, pessoas muito diferentes, e ter observado reações diferentes das pessoas para sua música. Seria isso uma das coisas mais empolgantes em ter uma banda?
Kerr -
Eu acho que é a coisa mais empolgante. Certamente é ótimo ter um disco nas paradas, ou uma música tocando no rádio. Mas, se você me perguntasse quando eu era criança o que eu gostaria de ser, eu responderia que seria ter uma grande banda e levar essa grande banda para tocar em todo o mundo, e dar às pessoas muita satisfação. E isso é realmente o que estamos tentando fazer, é onde nós gastamos, ainda, a maior parte de nossos esforços. É o que nós estamos tentando fazer, ou de fato fazemos.

ZH - Você mencionou que a banda está em ótima forma nesta turnê. A minha curiosidade é como manter essa empolgação após três décadas. É diferente, por exemplo, ir ao palco agora?
Kerr -
É sempre excitante. Mas estamos muito mais preparados. O tempo também significa que temos um catálogo maior de músicas para tocar, e qualquer coisa que você faça, quanto mais você fizer, melhor será. Mas também há o perigo de você se acomodar, ou ficar entediado, ou perder o amor. O perigo é você de repente achar que esse não é mais o seu estilo de vida. Vi muitas pessoas que não conseguem fazer isso ao longo da vida, noite após noite após noite após noite. Ser capaz de fazer isso (um bom show, por exemplo) é uma coisa. Outra é fazê-lo é noite após noite após noite após noite e ir para o palco sempre como se fosse a única noite na Terra. Isso exige uma mentalidade especial. É não ficar pensando: “Oh, estou tocando esta canção de novo”. Ou, como algumas pessoas dizem: “Não quero mais tocar meus hits”. Você realmente tem que trabalhar, tem que manter as coisas frescas, tem que mudar o repertório, você tem que manter sua própria mentalidade, lembrar o quanto tem sorte, todas essas coisas.

ZH - Como é pra vocês, agora, analisar as músicas que vocês fizeram, especialmente no início da carreira, e ver que hoje elas influenciam outros artistas. Você percebe essa influência em artistas atuais?
Jim Kerr -
Nós sabemos que somos umas das bandas importantes da nossa geração, e sabemos que existe uma série de bandas influenciadas pelas principais bandas da nossa geração. Em entrevistas, as pessoas dizem gostar de uma ou outra banda, é um elogio adorável. Mas, na verdade, eu não me ouço nesse contexto. Algumas vezes eu ouço um guitarrista que talvez soe como o meu guitarrista, mas eu não ouço realmente. É da mesma maneira quando alguém diz: “Olhe para sua filha, ela se parece com você”, mas eu não vejo isso. E as pessoas dizem: “Você tem que enxergar isso, é óbvio”. Mas a questão é que nós mesmos continuamos nos influenciando com os artistas que nos influenciavam. Eu ainda ouço Lou Reed, David Bowie, Patti Smith, Neil Young, Bob Dylan, ainda sou influenciado por eles. Sabe, é bom fazer parte desta linhagem.

ZH - Isso se torna natural?
Kerr -
Sim, acho que sim. Isso acontece em todas as áreas, no design, na arquitetura: as pessoas redescobrem coisas, depois as adaptam, depois fazem suas próprias coisas a partir disso. Às vezes a adaptação não é tão boa, às vezes é um avanço, às vezes é algo que faz surgir um bom híbrido. Às vezes é roubo, mera imitação.

ZH - Qual a sua impressão sobre esse grande novo cenário da comercialização de música, no qual a música flui pela internet e as pessoas ouvem música em todo o lugar em MP3?
Kerr -
Vamos começar pelo lado positivo: mais pessoas estão ouvindo sua música, bem mais que antes. Essa é a parte boa. Eles não têm que ouvir música, eles poderiam estar fazendo outras coisas, mas estão ouvindo música, e isso é bom. Mas elas não estão pagando pela música. Isso causa um grande problema para a indústria musical, para todos nós. Mas… Se eu fosse um guri sem dinheiro e pudesse ter essas coisas, claro que eu iria querer. Talvez quando a banda fosse tocar na minha cidade eu fosse vê-la ao vivo, ou compraria uma camiseta, não sei. Só o que eu sei é que eu amo fazer minha música e que as pessoas ouçam elas. Se as pessoas forem ver o show, contarem para os amigos e ainda comprarem os discos, tanto melhor. É um problema se você começar a se preocupar demais com isso. Essa parte eu deixo para os executivos. Eu só quero fazer as músicas.

ZH - Você acha que é mais difícil ou mais fácil começar uma nova banda agora, em comparação do que era quando você começou? Você acha que é possível comparar?
Kerr -
Eu acho que sempre é difícil. Provavelmente nunca é fácil começar uma banda. Quando eu era novo, era difícil conseguir amplificadores, lugares para ensaiar. Hoje, você pode sentar no seu quarto com fones de ouvido e fazer uma música. Você pode programar coisas no computador, fazer melodias em pequenos teclados, há toda uma tecnologia que impulsiona as pessoas a serem criativas. Mas se você quiser ser um astro mundial, com fãs em toda parte, pode ser fácil ou não. Alguns artistas conseguem vender milhões de discos nos primeiros álbuns, talvez não seja tão difícil, há a televisão e coisas assim. Mas acho que pode ser mais difícil para esses artistas sustentar 25 anos de carreira. E como todo o resto, tudo o que chega no topo rápido, cai rapidamente, daí eu acho que as pessoas chegam, fazem um grande sucesso da noite para o dia, e de repente as pessoas enjoam. E aí, para onde isso vai? Uns anos atrás, se falava que grupos como Keane e Franz Ferdinand seriam as próximas grandes bandas de arena. Eles subiram e depois desceram.

ZH - Talvez haja cada vez mais artistas para muito menos público para cada um.
Kerr -
Talvez você esteja se referindo ao conceito de “cauda longa” (conceito da Estatística que se refere a esse fenômeno: muitos produtos com pequena procura cada um). Eu acho que é difícil agora haver uma música como Don’t You (Forget About Me) ou Alive and Kicking, que se torne um sucesso em todo o mundo. Uma música já não se torna a música de uma geração, ao ponto de as pessoas se casarem ao som dela, crescerem com ela, ouvirem-na no colégio ou na faculdade. As crianças hoje têm 3 mil músicas nos seus iPods. E é apenas mais uma música. Grande coisa…

ZH - Talvez haja muita informação, o que pode ser fantástico, mas também perigoso.
Kerr -
É mais difícil se concentrar em alguma coisa. Você pode saber um pouco de tudo, mas acaba não conhecendo nada por inteiro.

ZH - De onde veio o nome Simple Minds (“mentes simples”, em português)?
Kerr -
Há duas histórias. Nós costumávamos dizer que veio de um verso de uma música do David Bowie, Jean Genie, tem um verso ali que fala em “simple minded” (”Ele tem uma mente tão simples que não consegue dirigir sua espaçonave”, diz a letra). Mas verdade é que veio de uma história budista segundo a qual as mentes simples são na verdade as mais evoluídas _ uma mente simples é a mente pura, porque ela não se envolve no superficial, no desnecessário. E realmente vem disso, mas tínhamos medo de que soasse muito pretensioso, então não dizíamos às pessoas (ri).

ZH - Mas é uma boa ideia.
Kerr -
Sim, eu acredito que é. Na filosofia ocidental, uma pessoa de mente simples é tida como idiota, burra. Na filosofia oriental, uma mente simples é vista como mais evoluída, uma mente de clareza, que não se confunde com dogmas, por exemplo. Acho uma bela ideia.

ZH - E isso se tornou uma meta para a banda?
Kerr -
Realmente, e não é uma meta fácil, mas é o que estamos tentando. Especialmente agora, estou tentando ver a diferença entre as coisas que realmente importam e as que não valem a pena.

ZH - Como deverá ser o show aqui no Brasil?
Kerr -
Vamos tentar manter todo mundo feliz, mas com algumas surpresas. Nós tocaremos as grandes canções que todo mundo espera, claro, mas tocaremos também músicas de todos os períodos. Tocaremos canções que têm 25 anos e outras que têm apenas um mês. Tocaremos algumas músicas interessantes que as pessoas não estão esperando. Vamos mostrar também o que somos hoje, mostrar às pessoas como a banda cria e se apresenta hoje.

ZH - Será algo como umas duas horas?
Kerr -
Algo assim. Você tem que ter certeza de que não vai entediar as pessoas. Você não vai tocar duas horas somente por que pode tocar duas horas.

SIMPLE MINDS
> Domingo, às 20h.
> Duração aproximada: duas horas.
> Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), fone: (51) 3375-3700.
> Capacidade: 2 mil pessoas.
> Onde estacionar: no próprio Bourbon Shopping Country, a R$ 4,50
> Ingressos: R$ 90 (galeria), R$ 110 (mezanino), R$ 120 (plateia alta), R$ 150 (pista) e R$ 200 (camarote).
> À venda na bilheteria do teatro, das 14h às 22h.
> Telentrega: (51) 8401-0555 ou (51) 3299-0800, das 9h às 19h.
> Desconto de 50% para Clube do Assinante nos primeiros cem ingressos pela telentrega e de 10% nos demais bilhetes.

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