Notícias

Itapema FM  | 19/07/2010 08h28min

Jorge Drexler é atração do Festival de Inverno de Porto Alegre

Venda de ingressos começa amanhã

Luís Bissigo

No Festival de Inverno de 2008, o uruguaio Jorge Drexler lotou o Teatro do Bourbon Country em duas noites – com performances eleitas pela equipe do Segundo Caderno como as melhores daquele ano em Porto Alegre. O compositor volta à cidade neste final de semana, novamente na agenda do festival, para mostrar seu novo álbum, Amar la Trama. A venda de ingressos começa nesta terça (20/7), na Usina do Gasômetro.

Por telefone de sua casa em Madri, Drexler falou sobre o disco - e também sobre o público porto-alegrense e sobre o desempenho do Uruguai na última Copa do Mundo.

A seguir, leia e ouça a entrevista:

Zero Hora - Desde seu primeiro show em Porto Alegre, em 1994, se consolidou uma boa relação com a cidade, não?

Jorge Drexler - Sim, muito forte. Porto Alegre é uma das cidades onde me sinto mais apreciado. Adoro esse calor que a cidade tem para nós. Uma vez, depois de um show aí, fomos ao Clube União para ver o show O Malandro, o Poeta e o Mestre (na verdade, O Maestro, o Malandro e o Poeta, espetáculo de tributo a Tom Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes), e a banda ficou louca (risos). Estão todos perguntando se vai ter show de novo. A gente adorou esse ambiente de samba ao vivo e alegria espontânea. Acho que a identidade do Rio Grande do Sul com o Rio da Prata fez muito forte a comunicação entre a identidade da minha música e a identidade gaúcha. E a presença do Vitor Ramil, fazendo (o papel) de tradutor (risos) entre dois mundos de milonga.

ZH - Sempre se fala que a presença dos artistas hispânicos está crescendo aqui no Brasil, especialmente em Porto Alegre. Qual sua impressão sobre isso?

Drexler - Sim, percebo que isso é uma realidade e fico muito orgulhoso de ter inaugurado isso, junto com Vitor Ramil. Acho que o primeiro movimento nessa direção foi feito pelo Vitor Ramil. Eu o conheci antes de ser convidado pelo Paulinho Moska para tocar no Rio de Janeiro. É curioso porque, antes disso, havia uma conexão, mas muito dispersa. Fito Páez às vezes se conectava com Caetano Veloso, os Paralamas do Sucesso às vezes faziam discos em espanhol, mas não havia uma constância nessa relação. Hoje, tenho mais público em Porto Alegre do que em Montevidéu, quase (risos). Mas isso também acontece em Bogotá, Caracas, Lima - tenho o mesmo público nesses lugares do que em Montevidéu. Porto Alegre é incrível, funciona como uma cidade de língua espanhola para o meu repertório. Mas também em São Paulo me sinto muito querido, no Rio já fizemos o Canecão duas vezes. E Florianópolis também… Não conheço uma carreira assim antes do contato que fiz com o Brasil. Vitor Ramil me contatou, o Paulinho Moska também, e eu comecei a trabalhar muito no Brasil. E teve uma coincidência de vários fatores. A entrada da língua espanhola no Brasil - agora, pelo interesse de vinculação regional e política do Brasil, e cultural. O que aconteceu com o Oscar de um filme de diretor brasileiro, o Walter Salles Jr. (de Diários de Motocicleta, de 2004, que rendeu o Oscar de Melhor Canção Original para Al Otro Lado Del Río, de Drexler), isso também tem muito a ver. E a criação do Mercosul, que além das vinculações políticas respondeu a uma realidade de base cultural também - há essa enorme vinculação entre o sul do Brasil e o Uruguai, por exemplo.

ZH - É uma maneira de concretizar o Mercosul por meio da cultura, na medida em que na economia não tem tantos resultados assim? (risos)

Drexler - É muito mais profunda na milonga do que na economia, acho (risos). É o território do mate, da Ilex Paraguariensis (nome científico da erva mate), que eu chamo de Ilexlândia. A terra onde se toma mate tem um vínculo muito mais real com a milonga, é o mesmo território da milonga, do que têm os convênios de comércio.

ZH - Neste disco, você se voltou para outras sonoridades, além da milonga, não?

Drexler - Sim. Mas a milonga está por trás do disco inteiro. A milonga, o candombe e o tango estão o tempo todo, tem várias milongas e pseudomilongas. Só que a instrumentação é mais atípica. É a mesma ideia dos discos italianos do Piazzolla: órgão Hammond e vibrafone. Estou tentando expandir o mundo sonoro da minha região. Também foi importante a dinâmica da gravação, com todos tocando juntos, praticamente sem edição digital. Foi tudo tocado em quatro noites, todas as noites tocamos o repertório inteiro. Foi feito em Madri, é o mais madrilenho dos meus discos. Fala de Madri, foi escrito em Madri, gravado e mixado em Madri.

ZH - Foi uma busca de um som mais orgânico, até como contraste em relação ao Cara B?

Drexler - Por isso mesmo, pelo contraste. O contraste é o alimento do meu trabalho. Odeio o piloto automático, na vida e no trabalho musical. E era a ideia de provar coisas novas, de ver se eu e os músicos lembrávamos de fazer um disco tocando todos juntos. Estamos tão acostumados com discos nos quais todo mundo pensa: “Toque como quiser que depois a gente arruma na edição”. Cut e paste (recortar e colar). Adoro trabalhar assim, já fiz cinco discos assim, e estava com muita vontade de uma mudança, de voltar à comunhão de um grupo de cérebros humanos interagindo em tempo real. Foi muito intenso.

ZH - A inspiração no momento de criar as canções foi diferente também?

Drexler - (Pausa) Foi diferente de outros momentos. Já moro há 15 anos na Espanha. Fiquei 10 anos morando nos arredores de Madri, mas agora voltei. É um disco de reconexão com Madri. Tem parte dessa alegria solar e irresponsável da cidade, que é alegre, ruidosa, irreflexiva, generosa e aberta. Deixei estacionada a nostalgia. A melancolia não consigo estacionar, eu a tenho sempre, mas dei a ela uma saída mais luminosa. É uma melancolia luminosa, diferente da melancolia escura de 12 Segundos de Oscuridad (disco de 2006). Na verdade, o Cara B influiu muito nesse disco, porque o fato de cantar ao vivo… Eu acho que gosto muito mais do jeito que canto diante de uma plateia do que no estúdio. Também por isso, todas as noites convidamos 20 pessoas, no MySpace, para chegar até o estúdio e estarem presentes à gravação, dentro do estúdio. Eles faziam (as vezes) de Diana. Se diz Diana em português? Alvo. Foi pedido para o público não bater palmas e não cantar.

ZH - Como você se sentiu com esse processo - e com o resultado?

Drexler - Muito contente. O disco teve aqui na Espanha um grande sucesso de crítica, e mesmo de vendas - entrei em quarto lugar na lista de mais vendidos do país, nunca tinha acontecido isso. E ainda levou cinco estrelas na Rolling Stone espanhola.

ZH - Aqui, vamos ver isso transposto para o palco?

Drexler - Sim. Agora na turnê estou fazendo o mesmo som do disco, aplicado às canções antigas também. E também estão as canções novas. São mais de duas horas de show, mais da metade são canções antigas refeitas com trio de metais, marimba. Somos oito músicos no palco. É bem diferente do Cara B. É um reposicionamento pendular, no outro extremo do movimento do pêndulo. Não é para o lado intimista do pêndulo - mas tem uma pequena parte Cara B, em que fico só com o violão. Mas a dinâmica é muito ampla, vai do quase silêncio absoluto até a expansão de uma banda grande soando. Muitas partes do show são quase dançáveis.

ZH - Algo mais a ver com o Caribe, por exemplo?

Drexler - Se tem a ver com o Caribe, é com o Caribe mais antigo, do Lecuona (Ernesto Lecuona, pianista cubano, 1895-1963). Tem a ver com o jazz também, mas não é exatamente um disco de jazz. É uma utilização aberta dos metais e da marimba. Já fizemos 25 shows, a banda está tinindo.

ZH - Como foi tua sensação com o Uruguai na Copa do Mundo?

Drexler - Acompanhei absolutamente, vi com muita intensidade o Mundial e estou muito orgulhoso do Uruguai. Na última partida, contra a Alemanha, eu tinha um show naquela noite. O começo do show coincidiu com o final do jogo, e eu levei o computador para o palco e cantei os últimos cinco minutos da partida para o público. Aquele quase gol do Forlán no final… Fiquei muito orgulhoso de o Forlán ter sido escolhido o melhor jogador do campeonato. Foi importante para o futebol do Uruguai. Foi uma alegria muito forte no Uruguai, está sendo ainda.

ZERO HORA
Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009
clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.