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Semana Farroupilha  | 14/09/2010 03h22min

Casos de violência no Acampamento Farroupilha geram discussão sobre a tradição gaúcha

Entre a noite de domingo e a madrugada de ontem, duas pessoas foram vítimas de ataques com faca no parque

Humberto Trezzi  |  humberto.trezzi@zerohora.com.br

O apelido carinhoso do Acampamento Farroupilha em Porto Alegre é Pátria de Bombachas, mas poderia se chamar Recanto das Facas. Lâminas de todos os tipos e tamanhos, para todos os gostos, desfilam guardadas em guaiacas, presas nas botas ou sobre as mesas improvisadas à beira das fogueiras que nunca se apagam, nos piquetes armados no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.

Vez que outra, algumas dessas lâminas acabam desembainhadas para motivos bem menos nobres que lascar um naco de picanha. Foi o que aconteceu no domingo, quando Fabrício Barcelos Nunes, 28 anos, foi esfaqueado numa briga com outro frequentador do parque. A tragédia se repetiu, com gravidade um pouco menor, na madrugada de ontem, quando Elaine Ferreira, 26 anos, foi também apunhalada na barriga ao tentar apartar uma disputa entre dois adolescentes.

A verdade é que instrumentos não faltam, caso alguém queira acertar contas em meio aos festejos. Some-se a isso milhares de litros de cerveja ou outros combustíveis mais fortes e está pronta a receita para confusões. Mas qual será a saída para evitar que bombachudos inebriados por devaneios etílicos e encorajados pelas façanhas declamadas em prosa e verso à beira dos galpões se entreverem em peleias mortais?

Zero Hora consultou especialistas em tradicionalismo e autoridades com ingerência sobre o parque. Predomina a opinião de que é impossível desarmar as pessoas, em meio a uma festa marcada pelo desfile de guaiacas recheadas de adagas. Mas há quem proponha justamente isso: tirar as lâminas de circulação.

– Esse negócio de circular com faca não é cultural, coisa nenhuma. Só porque usa pilcha ninguém tem prerrogativa de andar armado – analisa o historiador e especialista em tradicionalismo Tau Golin.

Representante-mor dos acampados, o prefeito do Acampamento Farroupilha, Nelson Lima dos Santos, acha absurda a ideia de remover as facas da indumentária dos frequentadores do parque. E isso que ele é policial aposentado e cansou de desarmar gente.

– Tu não podes culpar a faca pelo que os seres humanos fazem, ela é parte da indumentária campeira. A culpa é das bebedeiras. Não é questão de lei, é questão de disciplina. Os piquetes têm de controlar seu pessoal. Sempre aparece um querendo ser mais valente, aí tem de acalmar o sujeito – pondera Santos.

BM diz que casos de violência são isolados

Encarregado de presidir inquéritos criminais no parque, o delegado Paulo César Jardim diz que é impossível desarmar dezenas de milhares de visitantes do acampamento. E nem acredita que seja questão de desarmar.

– Na letra fria da lei, não pode andar com faca. Mas não se trata de lei, se trata de bom senso. Como é que tu vais tirar a faca de churrasco de quem nunca fez mal a alguém? Teria de sair prendendo gente de Vacaria ao Chuí. Uma boa saída seria os piquetes restringirem a bebida, a partir de certo horário – sugere.

Responsável pelos 40 PMs que fazem o patrulhamento ostensivo no acampamento, o tenente-coronel Florisvaldo Pereira, do 4º Regimento de Polícia Montada da BM, diz que em 13 anos a violência só existiu em episódios isolados no parque. Ele contabiliza, desde 20 de agosto, apenas 12 casos de lesão corporal (brigas), um de vias de fato (briga sem lesão), nove de resistências a prisões e cinco portes ilegais de armas:

– É pouco, se comparado com a rotina no centro da cidade. A questão é desarmar espíritos, não pessoas.

Os dois incidentes
Entre a noite de domingo e a madrugada de ontem, duas pessoas foram vítimas de ataques com faca no Acampamento Farroupilha:
- Fabrício Barcelos Nunes, 28 anos, foi esfaqueado durante uma briga próximo ao piquete Independente Cabanha Arco Íris, por volta das 19h de domingo. Ele teria trocado ofensas e empurrões com um homem que o feriu na barriga e no peito e depois fugiu. A vítima foi conduzida ao HPS, onde morreu às 19h35min. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios, que já tem um suspeito identificado. O nome ainda não foi divulgado, pois não há mandado de prisão contra ele.
- Pouco antes das 3h45min de ontem, Elaine Ferreira, 26 anos, foi ferida no lado esquerdo da barriga no piquete Desgarrados do Partenon. Conforme informações repassadas por populares que presenciaram a cena, ela teria tentado apartar uma briga entre dois adolescentes e acabou esfaqueada por um deles. Ela foi encaminhada ao HPS, de onde recebeu alta no começo da tarde. A Polícia Civil ainda trabalha para identificar o autor da agressão.

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