Semana Farroupilha | 19/09/2009 05h10min
- E aí, tchê? É o Sandro?
- Sim, quem fala?
A reportagem, então, identifica-se e logo pergunta se o funcionário público paulistano Sandro Amoroso Pacheco, 37 anos, aceita falar sobre a carta "O churrasco e os gaúchos", publicada na página 2 da edição de sexta-feira de Zero Hora, com críticas ácidas ao Rio Grande do Sul.
Sandro, que vive em São Borja há quase três anos, responde que sim. Mas alerta: tudo o que escreveu para o jornal e que iria dizer ao mesmo jornal nos 30 minutos que durariam a conversa pelo telefone é uma defesa, não um ataque.
E faz a frase que, segundo ele, resume todo o seu sentimento:
- Você ama o Rio Grande? Ótimo, que lindo amar sua terra. Só não precisa falar mal de São Paulo sempre que diz
isso. Aliás, pensando bem, falta um pouco dessa paixão a São Paulo.
Sempre em tom de
brincadeira, a reportagem então pede que, por favor, ele evite falar de futebol. Pode tudo, menos falar mal de Grêmio e Inter.
- Ih, então vamos parar por aqui (risos compartilhados).
Você concorda que em São Paulo se come churrasco melhor que no Rio Grande do sul? Dê sua opinião
Confira, a seguir, trechos da entrevista.
Zero Hora - Tu reafirmas o que escreveste na Zero Hora de hoje?
Sandro Amoroso Pacheco - Você sabe
qual é meu projeto de vida? Ir embora daqui. Falo, sim, reafirmo tudo o que escrevi.
ZH - Houve alguma situação
que o tenha desagradado mais especialmente no Estado?
Pacheco - Minha filhinha (ele tem um casal de filhos) era para ter sido convidada a um aniversário na escola, e ela só não foi porque é paulista.
ZH - É um sentimento de xenofobia que existe no Rio Grande do Sul.
Pacheco - Sim. E digo mais: é contra paulistas.
ZH - Teu problema maior, então, é que o pessoal, aqui, fala mal dos paulistas?
Pacheco - Claro. Não tenho nada contra os gaúchos ou contra o Rio Grande do Sul. O que quero que você deixe bem claro é que tudo o que estou dizendo é uma defesa, e não um ataque. Mas vejo gente aqui em São Borja que fala mal de paulista mesmo sem conhecer São Paulo, mesmo sem nunca ter saído da caverna.
ZH - E o paulista tem alguma coisa contra os gaúchos?
Pacheco - Que nada! O paulista recebe bem a todos, do nortista ao gaúcho. É diferente daqui. Aqui, é só dizer que é paulista para ser
maltratado.
ZH - E seus amigos gaúchos?
Pacheco - Ora, são muitos. Não tenho nada contra os gaúchos. Só quero me defender.
ZH - Mas não sobra nada de bom?
Pacheco - No início, quando tudo era novidade, sim. Vim para cá cheio de romantismo. Aí, começou aquela coisa de comparar tudo que tem de ruim aqui com São Paulo. O cara comenta um acidente de trânsito e completa dizendo que aqui está ficando tudo igual a São Paulo. Pô, é muito ruim ser referência de coisas ruins. De Porto Alegre, os paulistas só conhecem o aeroporto. De lá, eles seguem para a Serra. Aí, gostam, claro. Voltam de lá dizendo que tudo é maravilhoso no Rio Grande do Sul.
ZH - E as reações dos gaúchos a sua carta?
Pacheco - O pessoal já anda me xingando. Mas repito: só estou me defendendo. E isso não é uma competição, por mais que algumas
pessoas deem essa impressão.
ZH - E houve reações de quem não é gaúcho?
Pacheco - Aí, sobram elogios. O pessoal concorda com o que escrevi, principalmente quando me refiro ao churrasco (na carta escrita para ZH, Pacheco diz que em São Paulo se encontra churrasco melhor que o servido no Rio Grande do Sul). Me ligaram de Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo...
ZH - Tu só conheceste São Borja nesses quase três anos?
Pacheco - Porto Alegre, Canoas, Erechim, Santa Maria, Passo Fundo, Carazinho, Pelotas, Rio Grande.
ZH - É tudo igual?
Pacheco - Tudo igual. Tudo muito atrasado.
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