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Maria Amabile Mansutti

1. Por que mesmo sendo a 6ª economia do mundo, o Brasil ainda está no 88º lugar no ranking mundial da educação?

Uma razão pode ser reflexo de um passado recente: a democratização do acesso à escola pública no Brasil ocorrida nas décadas de 60 e 70 coincide com um período de baixos investimentos na área educacional. Na ocasião a ausência de políticas efetivas que assegurassem as condições básicas de suporte para o crescimento do ensino público obrigatório gerou fortes impactos, que ainda repercutem na escolaridade do país, tanto em relação ao direito à aprendizagem, quanto no que tange à valorização do professor. É somente a partir da década de 90 que o Estado brasileiro passa a empreender esforços em prol da educação pública de forma mais acentuada, dando início a um processo de expansão do acesso ao Ensino Fundamental, que hoje se encontra praticamente universalizado. A garantia do acesso, no entanto, ainda não se traduziu em garantia de qualidade do ensino. A escolarização no país ainda se ressente da ausência de financiamento público adequado e da não efetivação do regime de colaboração entre os entes federados, da precarização dos cursos de formação de professores e das condições de trabalho docente, entre outras questões. Faltam ao País políticas públicas que reconheçam a centralidade da educação na formulação de um projeto de sociedade. Haja vista a grande disputa recentemente travada nos círculos políticos em prol da destinação de 10% do PIB para a educação.

2. Por que 34,5% dos alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente a sua idade?

O Ensino Médio no Brasil passa por uma crise que já se arrasta há alguns anos e se traduz nos elevados índices de evasão e reprovação e no baixo nível de aprendizado dos alunos, verificado nas avaliações externas. Os resultados do Ideb 2011, divulgados neste mês pelo Ministério da Educação, apontam uma estagnação do indicador relativo a essa etapa do ensino, estacionado na marca dos 3,7 pontos.
Uma primeira questão é que os alunos chegam ao Ensino Médio já com defasagens de aprendizado acumuladas ao longo dos anos finais do Ensino Fundamental, outra etapa que apresenta problemas e pede a formulação de políticas específicas.
Um segundo elemento diz respeito à própria estrutura e grade curricular do Ensino Médio, marcadas por um conteúdo excessivamente fragmentado e extenso, frente ao qual o aluno não consegue estabelecer sentido e conexão com seu projeto de vida - o que resulta em desinteresse pela escola e, em muitos casos, abandono.
Vale destacar que, dado o recente processo de aumento da escolaridade da população brasileira, em muitas famílias essa é primeira geração a cursar o Ensino Médio.
Diante dos resultados do Ideb 2011, o MEC vem se articulando no sentido de induzir mudanças no Ensino Médio (etapa cuja oferta é de atribuição dos estados). Embora já estejam em vigor desde janeiro, as novas diretrizes do Ensino Médio - que, entre outras medidas, propõem a divisão do currículo em quatro áreas do conhecimento - ainda não foram implantadas nas escolas.

3. Por que é importante os pais participarem da vida escolar dos seus filhos?

Cabe à escola favorecer o desenvolvimento de capacidades dos alunos construindo áreas de saber fundamentais para o convívio social, cultural e a prática da cidadania. Cabe à família acolher seus filhos num ambiente estável, provedor e afetivo.
O estreitamento de relações entre escola, família e sociedade é determinante quando se formula um projeto de sociedade que tem na educação um dos principais motores de seu desenvolvimento.
Sistemas educacionais exitosos, de diferentes países, indicam que um ensino de qualidade é assegurado por um conjunto estrutural de medidas, que envolve desde a valorização social do professor e da educação como um todo, passando pelo estabelecimento de uma relação bastante próxima entre escola e família e por um rigoroso processo de seleção e formação docente, até um ensino focado na aprendizagem de todos os alunos, tendo como princípio a valorização da diversidade e a equidade.
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. A demanda por uma educação de qualidade entrou na agenda pública nos últimos anos, mas ainda não se configura como uma reivindicação presente na sociedade, nem mesmo entre as elites, que, em tese, teriam mais condições para avaliá-la. Consequentemente a relação escola-família em nosso País ainda está distante da observada em países, como a Coréia do Sul, onde os pais mantêm um diálogo constante com a escola, ou a Finlândia, onde há uma Associação de Pais fundada há mais de um século.
Em sociedades de democracia consolidada, como a Finlândia e o Canadá, o direito à educação aparece como uma conquista social, algo construído ao longo do tempo pela sociedade.
Para estreitar os vínculos da escola com a família não basta dispor de conselhos, associações de pais e mestres, reuniões na escola, é preciso criar novas estratégias para promover efetivas relações.
Não confundir essa iniciativa com assistência social, burocracia, prestação de contas, entrevistas. É uma iniciativa de aproximação, que parte da escola e do sistema educacional local, com o objetivo de estreitar vínculos, observar condições de vida, acesso das famílias à cultura e serviços, relação que as famílias tem com o bairro e a escola, potencialidades das famílias. Tem sentido e valor eminentemente educativo:
- Identificar no ambiente familiar possíveis causas de dificuldades de aprendizagem
- Esclarecer pais sobre metodologias adotadas pela escola e atividades
- Compreender melhor as condições de vida da família e ajustar metodologias, planejar maneiras mais eficientes de ajudar os alunos a melhorarem seu desempenho
- Conhecer e ouvir as famílias em seus próprios ambientes
- Informar sobre medidas e práticas adotadas pela escola

4. Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?

A falta de atratividade da carreira docente é conseqüência da não valorização ? seja em termos de remuneração, seja em termos de prestígio social ? da profissão, especialmente daqueles que atuam na educação básica.
Estudos indicam que os sistemas educacionais que se sobressaem nos rankings internacionais selecionam seus professores dentre os 30% melhores graduandos. O docente desempenha, portanto, papel decisivo na busca por uma educação de qualidade.
Atrair os melhores alunos para o magistério implica tornar a profissão atraente, isto é, com salário inicial convidativo e um plano de carreira promissor. Embora o MEC tenha instituído um piso nacional para o magistério (atualmente fixado em R$ 1.451), a profissão ainda está longe de se tornar a primeira opção de jovens que ingressam no mercado de trabalho. Falta ainda por parte dos governos estaduais e prefeituras a (re)formulação dos planos de carreira que, em muitos casos, atrelam a ascensão profissional à saída da sala de aula, já que os postos mais altos são vinculados à coordenação pedagógica e direção. Vale mencionar a batalha jurídica travada em torno do piso, cuja constitucionalidade foi questionada por governadores de cinco estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Ceará) ? ação considerada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal em agosto do ano passado. A resistência ao piso serve para ilustrar o espaço e importância atribuídos à educação no conjunto das políticas públicas. De modo geral, na sociedade, a educação, o direito à educação de qualidade, ainda não figura como uma causa que mobiliza. O distanciamento entre escolas e famílias é um sinal claro disso.
A educação também não faz parte de um projeto de nação e não há, portanto, a concepção de que o magistério é uma atividade profissional que pode contribuir para o desenvolvimento do País. O desprestígio social da profissão de professor se insere nesse quadro.
No Brasil, a expansão do acesso ao ensino superior foi acompanhada por um processo de precarização dos cursos de formação inicial de professores. Formam-se, assim, professores despreparados para o trabalho em sala de aula, que não tiveram a oportunidade de ampliação de seu capital cultural.
Apesar desse despreparo, esses docentes são rapidamente absorvidos pelas redes públicas de ensino, que apresentam uma demanda constante por esses profissionais. Nesse contexto de desvalorização do ofício docente, o Brasil já enfrenta um déficit de cerca de 300 mil professores no país, segundo estimativa da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.

5. Por que 89% dos estudantes chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o esperado em matemática?

O comprometimento da aprendizagem em Matemática também é bastante acentuado nos resultados do Ensino Fundamental. Possíveis razões: currículos inadequados, vasta extensão de conteúdos trabalhados superficialmente. Alta porcentagem de professores que estudam a disciplina só até a 8ª série, sobretudo os que ensinam nos anos iniciais do EF. Pouco conhecimento da didática da disciplina, pelos docentes em geral. Grande autonomia de professores dos anos finais do Ensino Fundamental e ou do Ensino Médio na aplicação dos currículos, falta de liderança pedagógica, de capacidade gerencial e de autoridade supervisora de diretores e de coordenadores pedagógicos. A autonomia precisa estar relacionada à alta capacidade docente, que se caracteriza por conhecimento do conteúdo e habilidades em sala de aula (pedagógicas e de gestão). A autonomia é desejada quando os professores possuem capacidade docente para responderem aos diferentes estilos de aprendizagem dos alunos e desenvolvem novas maneiras de ensinar ou de utilizar o currículo e os materiais de apoio. Ao longo da escolaridade os alunos vão acumulando lacunas de aprendizagem em matemática, que nunca são preenchidas porque a escola/professores, muitas vezes, desenvolvem um programa de conteúdos previsto para um determinado momento escolar, sem diagnosticar a base de conhecimentos efetivamente dominados pelos alunos.

6. Por que a maioria dos alunos matriculados no último ano do Ensino Fundamental não aprendem o mínimo considerado adequado?

A resposta aqui é muito parecida com a da questão anterior. Os problemas de aprendizado apresentados no Ensino Médio são conseqüência de problemas não resolvidos e defasagens acumuladas ao longo dos anos finais do Ensino Fundamental, ocasionados pelas questões levantadas acima. A estagnação do Ideb relativo ao Ensino Médio é decorrência do lento avanço do Ideb do segundo ciclo do EF. Não é dada a devida atenção a essa passagem dos anos iniciais para os anos finais, que exige do aluno a adaptação a uma estrutura completamente diferente da vivenciada nos quatro primeiros anos do EF: um professor para cada disciplina (no lugar do professor polivalente), grade curricular fragmentada e ampliada (no lugar de um conteúdo centrado na alfabetização).

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