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José Francisco Soares

1. Por que mesmo sendo a 6ª economia do mundo, o Brasil ainda está no 88º lugar no ranking mundial da educação?

A primeira explicação é histórica e cultural. A idéia de que a educação básica é um direito, embora professada há muito tempo, só foi de fato incorporada na nossa cultura muito recentemente. Em um país que tolerava tantas desigualdades, era natural assumir que a educação devia ser para poucos. Nossa república começou muito tímida na criação de escolas, diferentemente de países vizinhos e parecidos. Depois criou barreiras sociais para a permanência dos alunos nas escolas e hoje é tolerante com o aprendizado apenas superficial com que muitos deixavam as escolas de educação básica. Com isso foram se acumulando déficits educacionais de difícil superação.

O segundo motivo é pedagógico. A adequação das políticas educacionais também precisa ser considerada. Com frequência as políticas são escolhidas sem que sejam submetidas a escrutínio mais completo. Assim temos muitos projetos pedagógicos que as avaliações já mostraram que são ineficazes que continuam em uso.

A posição da economia é explicada pela abundância das riquezas naturais do nosso país, que o colocam economicamente em uma posição de destaque. Mas a debilidade educacional já afeta nossa posição econômica, quando não conseguimos produzir aqui o que se faz facilmente em outros lugares, também pelas fragilidades educacionais do país.

2. Por que 34,5% dos alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente a sua idade?

Desde os anos 90 as três esferas governamentais vêm fazendo esforços para melhorar a oferta e a qualidade da educação básica. No entanto, temos ainda sérios problemas de repetências, abandono e evasão. Abandona o aluno que desiste de frequentar a escola, mas volta no ano seguinte. Evade o aluno que não volta mais. Nossas políticas contra o abandono tem tido pouca eficácia. Assim os alunos gastam mais tempo do que necessário no ensino fundamental. Quando chegam ao ensino médio já estão defasados.

3. Por que é importante os pais participarem da vida escolar dos seus filhos?

Os resultados do trabalho do professor junto aos seus alunos sofrem influência do apoio que estes recebem ou não de suas famílias. A interação escola-família favorece tanto o desempenho do aluno quanto o trabalho executado pela escola. É importante que as famílias conheçam as escolas e as escolas conheçam a família para que essa interação resulte num acompanhamento mais próximo do aluno (considerando suas diversidades) e da qualidade do serviço educacional ofertado.

4. Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?

Este número sintetiza mal uma realidade muito complexa. Como primeira opção poucos desejam ser professores, mas há muitos alunos matriculados em cursos de licenciatura e pedagogia nas universidades. Nas grandes cidades, os concursos para professores têm muitos candidatos. Afinal, apesar de salários modestos, a carga de trabalho compara-se favoravelmente com a de outras ocupações com grau de dificuldade similar.

Mas há problemas sérios. Há muito poucos professores de ciências: física, química, biologia e mesmo de matemática. Afinal quem é capaz de terminar um curso de licenciatura nestas áreas é também capaz de passar em concurso público para outras ocupações, muito mais bem remuneradas. Em outras áreas não há problemas de oferta de professores.

No geral, em relação à questão docente, é preciso uma grande mudança. Instituir planos de ascensão profissional e crescimento na carreira, rever a política salarial, para trazer e manter na educação os mais qualificados. Isso passaria por criar novas carreiras no setor públicos nas quais os professores seriam tratados de forma mais profissional, i.e, foco na obtenção de melhores resultados dos alunos, e em contrapartida melhores salários.

5. Por que 89% dos estudantes chegam ao final do Ensino Médio sem aprender o esperado em matemática?

As metas do movimento "Todos pela Educação" são ambiciosas. Foram criadas, a partir de informações do PISA, o exame internacional pelo qual se mede a qualidade da educação no mundo hoje. Verificou-se qual deveria ser a melhoria no desempenho dos alunos brasileiros para que chegassem ao nível de um país típico da OCDE e baseado nessa diferença as metas foram definidas.

Uma primeira explicação é cultural. É muito difundido no Brasil e aceito por muitos que a matemática é para poucos, pois exige esforço, estudo e dedicação que nem todos estão dispostos a dispender. Estas idéias viraram cultura escolar, dificultando a organização do ensino de matemática na educação básica.

Outra possível explicação é a fragilidade do ensino de matemática nos primeiros anos de escolaridade do aluno. O professor deste nível é polivalente e, com frequência, não enfatiza o aprendizado da matemática. A defasagem criada se mantém até o fim da educação básica.

Finalmente é preciso considerar o fato que a pesquisa pedagógica ainda não conseguiu produzir as formas de ensinar a matemática adequada para os alunos brasileiros que podem contar na sua maioria com pequena ajuda dos pais, que não tiveram experiência escolar completa.

6. Por que a maioria dos alunos matriculados no último ano do Ensino Fundamental não aprendem o mínimo considerado adequado?

Quando se fala em expectativa de aprendizagem, não se deve esperar que todos os alunos tenham o mesmo domínio das diferentes competências. O que se pretende é que as variações naturais e esperadas se deem em níveis que permitam às pessoas funcionarem em socialmente naquelas atividades para as quais a capacidade é importante.

Porém, hoje temos uma variação de carta marcada. Os baixos desempenhos, os que estão sempre na parte de baixo da distribuição têm cor, sexo, origem social. Isso não é desejável. Principalmente porque estamos falando de educação básica e, portanto, falamos de algo que todos devem ter por direito.

Sabemos que essa situação não é a única possível, pois temos muitos exemplos de grandes sucessos em situações sociais as mais diferentes possíveis. Ou seja, podemos, com os recursos e conhecimentos pedagógicos que temos produzir mais aprendizado para mais crianças. Entretanto, temos de ter muita clareza de que a criança que traz pouco de casa exige mais recursos escolares. A sociedade tem de estar ciente que a exclusão social criada gera custos extras para ser superada na escola. Gera mais necessidades. Paradoxalmente, o sistema educacional tem feito o contrário, a criança que traz menos de casa é colocada em escolas que têm menos. Nessas circunstâncias fica difícil superar as dificuldades.

No fundo, a criança não aprende por um problema de estratégia educacional, por uma falha escolar, pedagógica. Não aprende porque não descobrimos ainda a maneira de ensinar para aquela criança. Os aspectos sociais nos dão uma explicação cuja utilidade é limitada, precisa ser seguida pela busca da solução pedagógica.

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