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A Educação Precisa de Respostas  | 23/06/2014 16h03min

Diminui interesse dos adultos pelo ensino supletivo em Caxias do Sul

Dificuldade de relacionamento com adolescentes em sala de aula seria um dos motivos do afastamento

Adriano Duarte  |  adriano.duarte@pioneiro.com

O estudo A Juvenilização da EJA e o Jovem como Sujeito Sociocultural, de autoria dos professores Nilda Stecanela e Mateus Panizzon, é o primeiro trabalho acadêmico a indicar a presença maciça de adolescentes no programa e a profunda divisão entre as gerações nas escolas de Caxias do Sul. A análise abrange os 15 anos da EJA na cidade (1997 a 2012) e se ampara em dados do IBGE e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

A participação maior de adolescentes na modalidade de ensino pode ser positiva se comparada a décadas anteriores. Antes do programa, os jovens abandonavam a escola e só pegavam em livros e cadernos na vida adulta, segundo Nilda. Atualmente, quando o adolescente desiste do ensino regular, o tempo de afastamento é mais curto. Mas há um detalhe oculto na mudança de perfil:

— Evidenciamos como sendo uma assepsia da escola regular, pois logo que completa 15 anos o jovem em defasagem idade-série é encaminhado para a EJA, muitas vezes por estar desajustado ao formato. Por outro lado, porque há escolas com EJA, se permite a iniciação no trabalho simultaneamente aos estudos — diz Nilda.

A diferenciação de gênero também se destaca na avaliação de Nilda e Mateus. Rapazes ocupam mais vagas em relação às garotas, um claro indicativo de que meninas têm maior adesão às regras das instituições de ensino e prolongam seus percursos escolares. Os meninos, por sua vez, teriam posturas resistentes à autoridade de professores.

A partir do cruzamento de informações, os pesquisadores chegaram a outro dado impactante. Caxias do Sul tinha 85 mil pessoas com ensino básico incompleto, segundo o último censo do IBGE (2010). Desse total, apenas 2% frequentava a EJA, algo irrisório para uma cidade cada vez mais exigente por mão de obra qualificada. Para Nilda, uma parcela significativa teve oportunidade de concluir a escolarização e não o fez. Portanto, haveria demandas por mais classes.

— É necessário olhar de modo mais especifico para as necessidades desta população e para o fato de desejarem ou não retornar aos bancos escolares e em que condições: à noite, com horários semelhantes a escola regular, convivendo com as diferentes gerações numa mesma sala? — questiona a professora.

Outro ponto intrigante é o constrangimento dos adultos com a presença de adolescentes na mesma sala. Homens e mulheres percebem os jovens como debochados e sem respeito pela autoridade do professor. Por esse motivo, abandonam a EJA.

Acredita-se, porém, que a diferença pode ser positiva. Os jovens aprenderiam com a experiência dos mais velhos e os adultos podem compreender como os jovens lidam com o acesso à informação e se adaptam com mais facilidade aos novos contextos. Nilda e Mateus não emitem juízo de valor sobre o novo perfil pois a intenção era sistematizar e fundamentar a percepção do senso comum. A professora prevê, porém, a necessidade de adaptações no futuro.

— A EJA é uma modalidade da educação básica e, portanto, do sistema educacional brasileiro. Deste modo, não implica em menor ou maior qualidade. Podemos sim estar vivendo uma crise na educação produzida por vários fatos, mas que nos informa a necessidade de mutação do modelo de escolas — reitera Nilda.

Marcelo Oliveira / Agencia RBS

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Foto:  Marcelo Oliveira  /  Agencia RBS


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