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Vestibular  | 22/04/2014 12h37min

Poemas de Gregório de Matos Guerra foram tema de quatro questões em dois anos na UFRGS

Vertente incendiária é a parte da obra do poeta baiano que mais aparece no vestibular

Bruno Moraes  |  bruno.moraes@zerohora.com.br

A seleção de poemas de Gregório de Matos Guerra já foi tema de quatro questões nos dois últimos vestibulares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). De acordo com o professor de literatura do Grupo Unificado Pedro Gonzaga, o lado satírico da obra do poeta é o que aparece em maior quantidade entre os 25 textos selecionados:

— Por uma questão de tradição da prova da UFRGS e mesmo pelo número de poemas selecionados de cada vertente, o mais provável é uma cobrança da veia satírica, a do Boca do Inferno — projeta.

> Conheça a biografia de Gregório de Matos Guerra

Segundo o professor, a obra satírica de Gregório é complexa como o tempo em que ele viveu, assim como a visão cultural do período Barroco. O riso que os versos provocam não diminuem a força dos ataques às figuras corruptas da Bahia.

— Não se pode esquecer, no entanto, que sua visão não é progressista. A bem da verdade, ele seria hoje um reacionário, ainda que isso não tire a razão de suas críticas. Deve-se cuidar, por fim, o preconceito e o desprezo que ele nutre pelas figuras de negros e mulatos, que de fato ferem nossa sensibilidade moderna e representam a faceta mais atrasada de sua poesia — avalia Gonzaga.

Questões exploram vertentes da obra

Pedro Gonzaga ressalta que as questões cobradas pela UFRGS nos anos anteriores, excetuando a que envolvia mera ordenação das partes dos sonetos, seguiram a divisão tradicional da obra de Gregório em três vertentes (lírica, satírica e religiosa), verificando se o candidato era capaz de reconhecêlas e interpretá-las. O professor as classifica, de modo geral, como acessíveis.

— Há na lista da UFRGS mais de uma dezena de poemas que não foram ainda aproveitados. A recomendação é ler todos com atenção, limpando as dificuldades de vocabulário, e ser capaz de reconhecer as vertentes a que cada poema pertence — recomenda.

Confira as questões sobre Gregório de Matos Guerra que caíram nos últimos dois vestibulares

2014

1) Leia o trecho do Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir.

Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda

Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir — responde por ele o mesmo santo que o arguiu — porque se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? Pequei, que mais vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me perdoar, e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer, e ele dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada:
Cobrai-a, e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos.

I — Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus mediante a segunda pessoa do plural (vós, vos): Gregório argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir que Jó seja perdoado.

II — Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar do perdão.

III — Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira, declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode pôr a perder a glória de Deus.

Quais estão corretas?

(A) Apenas I.

(B) Apenas III.

(C) Apenas I e II.

(D) Apenas II e III.

(E) I, II e III.

2) Assinale a alternativa correta a respeito dos textos.

(A) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento.

(B) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus.

(C) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida a aceitar os argumentos de dois pecadores.

(D) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para Gregório a graça divina não sofre restrições.

(E) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como garantia da glória divina.

2013

3) Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra.

Retrato / Dona Ângela

Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente
Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda
Posto que os anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

Considere as seguintes afirmações sobre o poema.

I — O poeta explora o paralelo entre Anjo e Angélica e revela a condição perecível e doméstica da flor, permitindo que se perceba a uniformização pretendida pelo barroco, a qual estabelece regras poéticas rígidas.

II — A mulher Anjo Luzente, no poema, encarna tanto o anjo protetor que livra "de diabólicos azares", quanto a criatura feminina tentadora que provoca a imaginação e a sensualidade.

III — A associação e o contraste da flor, que seria cortada do verde pé, com o Anjo luzente a ser idolatrado, indica o diálogo do poeta (vós) com o anjo enviado dos céus para proteger os altares de sua esposa.

Quais estão corretas?

(A) Apenas I.

(B) Apenas II.

(C) Apenas I e II.

(D) Apenas I e III.

(E) I, II e III.

4) As duas colunas, abaixo, apresentam versos de alguns poemas de Gregório de Matos Guerra.

Associe adequadamente a coluna da direita à da esquerda, indicando os tercetos que pertencem a cada soneto, cujo quarteto inicial se encontra na coluna da esquerda.

1) Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

2) Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

3) Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.

4) Um soneto começo em vosso gabo:
Contemos esta regra por primeira;
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo,

( ) Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

( ) Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

( ) Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

( ) N'esta vida um soneto já ditei;
Se d'esta agora escapo, nunca mais:
Louvado seja Deus, que o acabei.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

(A) 4 — 2 — 1 — 3.

(B) 3 — 2 — 1 — 4.

(C) 1 — 2 — 3 — 4.

(D) 1 — 4 — 2 — 3.

(E) 2 — 3 — 4 — 1.

Respostas

1) B

2) E

3) B

4) C

ZERO HORA
Leonardo Azevedo / Arte ZH

A sociedade de Salvador em gravura que retrata a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, já no século 19
Foto:  Leonardo Azevedo  /  Arte ZH


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