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Entrevista  | 09/04/2013 18h55min

"Avaliação precisa ser permanente", diz secretário estadual da Educação

Jose Clovis de Azevedo ressalta necessidade de que professores priorizem a aprendizagem

Ângela Ravazzolo, editora de educação  |  angela.ravazzolo@zerohora.com.br

Para o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, é necessário que os professores se convençam de que é preciso priorizar a aprendizagem. Em relação à avaliação emancipatória, processo implantado pelo governo e que tem provocado polêmica, ele reconhece que a recuperação precisaria ser feita ao longo do ano, mas defende a aprovação como um direito do estudante.

Confira trechos de entrevista concedida em 14 de março e complementada na semana passada:

Zero Hora — No ano passado, o concurso para o magistério teve um índice de aprovação muito baixo. Qual a sua expectativa para o próximo concurso, que chegou a ter mais de 80 mil inscritos, com quase 70 mil inscrições homologadas?

Jose Clovis de Azevedo — Fico me perguntando, quando se diz que ninguém mais quer ser professor hoje. Claro que vale a pena. Na minha situação de professor aposentado, eu vou chegar, no ano que vem, incorporando esses 76% (de reajuste), a um salário de quase R$ 6 mil. Como é que não vale a pena uma carreira em que se chega ao final com um salário de R$ 5 mil, R$ 6 mil. Não vai ficar rico, mas é um salário digno, ainda mais considerando que é uma carreira de massa.

ZH — Recentemente, o Todos pela Educação divulgou relatório em que aparecem 226 mil crianças fora da escola no Estado, entre outros números.
Azevedo —
Esse número dos 226 mil não é uma responsabilidade exclusiva do Estado. O Ensino Fundamental é compartilhado com os municípios, e a educação infantil é exclusividade dos municípios. No Ensino Médio, temos em torno de 50 a 60 mil em idade de 15 a 17 anos fora da escola. Não temos nenhum problema para atender esses alunos, só que eles não aparecem.

ZH — Por que o Ensino Médio não consegue segurar ou atrair os jovens?
Jose Clovis de Azevedo —
Porque o Ensino Médio, e o ensino em geral, é muito formal, muito fora da vida, fora da realidade. Essa reforma do Ensino Médio que estamos fazendo tenta encontrar esse caminho. Só que não basta o Estado fazer uma reforma. É preciso que os professores, que as escolas, que as famílias estejam convencidas.

ZH — O senhor conseguiu convencer a comunidade escolar?
Azevedo —
Essas coisas não se conseguem a curto prazo. Os primeiros resultados que estamos tendo no Ensino Médio se traduzem no grande entusiasmo dos alunos, que fazem pesquisa, que descobrem coisas na sociedade. Mas não é na mesma proporção que os professores, com os professores é mais difícil, mais devagar.

ZH — Em relação à avaliação emancipatória, que provocou polêmica, uma das críticas que se faz é por que esse processo de recuperação está sendo feito em março? Não teria de ter sido feito antes, ao longo de todo o ano passado?
Azevedo —
Tem que ser feito ao longo do ano, isso está correto. O processo de avaliação tem que ser permanente e imediato. Se alguém não aprendeu, tenho que saber naquele momento que não aprendeu e criar as condições para que ele avance naquele momento. Só que, enquanto isso não acontecer, nós temos que ter outros mecanismos.

ZH — Mas por que essa recuperação já com o ano letivo rodando?
Azevedo —
Se ela não foi conseguida no ano anterior, ela tem que ser conseguida durante o processo.

ZH — E se não for?
Azevedo —
O problema é de todos nós. Às vezes, o professor fala como se ele não tivesse nada a ver com essa situação. Ele é o principal responsável. Alguém vai dizer: “Está dizendo que o professor é o culpado.” Não existe culpa, existe responsabilidade. Nós, professores, somos especialistas em ensinar. Quando alguém não aprende, o especialista não está conseguindo cumprir a sua tarefa. O objetivo da escola não é reprovar, é garantir a aprendizagem.

ZH — Mas professores dizem que são obrigados a passar um aluno que não foi bem.
Azevedo —
Ele não é obrigado a passar, ele é obrigado a recuperar esse aluno. Pode ser que ele chegue num limite, teve aquele aluno que não pôde ser recuperado, e ele não vai passar. E aí não é um problema só dele, é um problema da escola enquanto instituição, ela tem que se movimentar nesse sentido. As pessoas aprendem em ritmos diferentes. E a escola do século 21 tem que trabalhar nessa perspectiva.

ZH — Em relação à avaliação emancipatória, fala-se que seria uma forma de diminuir os índices de repetência.
Azevedo —
Não tem o menor sentido. Não é isso que vai diminuir substancialmente a repetência, porque vamos continuar tendo, por um bom tempo, um grande número de alunos que vai ser reprovado em mais de uma área. Agora, o interesse do professor e da escola deveria ser de diminuir os índices de repetência. Deveria ser o maior objetivo, não artificialmente, mas pela aprendizagem. A repetência é um fracasso, do aluno, da família, do professor, da escola e do secretário de Educação. Eu me sinto atingido. Assim foi quando eu era professor e hoje sinto da mesma forma. 

ZH — Por que a secretaria resolveu ampliar as possibilidades de aprovação este ano, quando alunos que tiveram nota ruim em mais de uma área farão recuperação e podem passar para o 2º ano?
Azevedo —
O que está se fazendo é uma oportunidade a mais para aqueles alunos que foram mal, não tiveram um bom aproveitamento. Porque nós temos que estar sempre estimulando o aluno a crescer, desafiando o aluno a superar suas dificuldades. Então essa oportunidade fica ao arbítrio da escola. Não significa nenhuma pressão para aprovação de alunos que não têm condições. Não significa em hipótese alguma a aprovação automática, não significa que a escola não tenha autonomia para aprovar ou reprovar esse aluno.

ZH — Mas isso não acaba nivelando para baixo a exigência?
Azevedo —
Não, porque a exigência é a mesma. É a mesma exigência de avaliação que o reprovou durante o semestre, no ano anterior. O tempo de aprendizagem de um aluno não é o ano letivo oficial, o tempo de aprendizagem das pessoas é a sua experiência de vida. É um equívoco essa visão predominante no Brasil de que a escola existe para medir um nível de conhecimento do aluno em determinado momento e a partir daí fazer um julgamento definitivo. A concepção de avaliação emancipatória é essa que aposta nas pessoas. É uma oportunidade a mais. Lembro que fui reprovado em matemática em 1962. E tive a oportunidade de fazer a segunda época em fevereiro. A partir daquela oportunidade, a matemática passou a ser o principal campo de interesse, e eu tirei 10 na prova.

ZH — Mas essas oportunidades precisam ser muito bem feitas para não se correr o risco de empurrar o problema para frente.
Azevedo —
Esse é o papel da escola e do professor, fazer as coisas bem feitas.

ZH — As escolas optaram por metodologias distintas para a recuperação. Não se corre o risco de ter processos com níveis de exigência muito diferentes?
Azevedo —
Se isso acontecer, não será por esse motivo, porque isso acontece sem essa oportunidade de recuperação. As escolas têm níveis de exigência diferentes, e inclusive diferenciado de um professor para outro dentro da mesma escola. Então isso acontece já. O que nós queremos é que a avaliação seja uma coisa séria, e que o aluno para ser aprovado realmente tenha crescimento perceptível. 

ZH — Alguns dos relatos são de que não se teve muitas condições para se fazer essa recuperação.
Azevedo —
Mas aí eu teria que dizer, então, que não podemos dar aula. Porque as condições são as mesmas, para fazer um trabalho de recuperação ou para fazer um trabalho tradicional.

ZH — Os professores estavam preparados para a mudança?
Azevedo —
A gente nunca está preparado para as inovações, a gente se prepara na prática. A educação no Rio Grande do Sul tem sido muito criticada pelos altos índices de evasão e repetência. Não há nenhum motivo para se dizer que o que estava sendo feito era melhor do que o que está se tentando fazer agora.

Saiba mais:

Como era a avaliação
O estudante recebia notas, de zero a 10, calculadas com base no desempenho em testes, trabalhos e outros recursos de avaliação. A nota era dada por disciplina.

Como ficou
O estudante receberá apenas quatro conceitos – um para cada área em que as disciplinas tradicionais foram agrupadas: linguagens (língua portuguesa e estrangeira, literatura, educação física e artes), matemática, ciências da natureza (biologia, física e química) e ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia). 

Se o aluno apresentar desempenho insatisfatório em apenas uma área, poderá passar de ano, na situação de Progressão Parcial. Se receber conceito insatisfatório em pelo menos duas áreas, é reprovado – neste ano, no entanto, os reprovados receberam uma chance de passar de ano depois de recuperação.

ZERO HORA
Claudio Fachel / Palácio Piratini/Divulgação

Jose Clovis de Azevedo defende a aprovação como um direito do estudante
Foto:  Claudio Fachel  /  Palácio Piratini/Divulgação


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