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Entrevista  | 21/01/2013 12h54min

Entrevista com Justin Reeves, jornalista americano que trabalha pela valorização da educação das mulheres em países em desenvolvimento

Diretor da campanha 10x10 participou da produção de documentário sobre meninas que, mesmo com dificuldades, não deixam os estudos de lado

Diogo Figueiredo  |  diogo.figueiredo@gruporbs.com.br

Trabalhar em benefício de mulheres desfavorecidas está no DNA de Justin Reeves. O diretor de parcerias com organizações não governamentais da 10x10, campanha que busca valorizar a educação de meninas ao redor do mundo, tem experiência de quase uma década em países da África, América Latina e Ásia. Em recente passagem pelo Brasil, o jornalista norte-americano falou sobre o documentário Girl Rising, carro-chefe da campanha em que ele esteve envolvido, garimpando ao redor do mundo as nove histórias selecionadas para a edição definitiva do filme.

O documentário, que terá trechos exibidos hoje (21) no festival americano de Sundance tem, estreia prevista para março. Confira a seguir partes da entrevista em que Reeves fala sobre sua carreira e sobre a importância de incluir as mulheres na educação.

Como começou o seu trabalho com ONGs?

Justin Reeves  Mesmo sendo jornalista, eu sempre tive interessado neste tipo de trabalho. Para mim, é importante tentar fazer alguma diferença no lugar em que vivo, e o envolvimento com esse tipo de organização sempre foi um alternativa interessante, principalmente porque através dele eu tenho a oportunidade de auxiliar pessoas que normalmente que estariam à margem justamente pela falta de assistência. Inicialmente meu trabalhos não estavam voltados à educação. Eu trabalhei na América Latina por muitos anos com mulheres e crianças portadoras de HIV, um problema grave em países em desenvolvimento. Hoje eu vejo a importância da educação em prevenir as muitas barreiras que meninas e mulheres enfrentam.

>> Assista à palestra de Justin Reeves no TEDx Unisinos 2012.

As escolas de países em desenvolvimento sofrem de problemas estruturais, sendo que algumas delas sequer possuem banheiro. Você chegou a presenciar esse tipo de situação?

Reeves  Sim, esse tipo de problema infelizmente não é raro, e eles implicam diretamente no aprendizado, especialmente em relação às meninas. Às vezes a gente pensa que o problema está apenas no conteúdo, mas ele vai além disso. É fundamental possuir uma infraestrutura que estimule o aprendizado, e que não contribua para a evasão, como às vezes ocorre. Quando as garotas não vão à escola elas ficam sujeitas a muitos problemas que têm um profundo impacto negativo em suas vidas e nas suas comunidades. A lista é longa, mas eu poderia citar a gravidez precoce, sexo sem prevenção, morte durante a gravidez, violência doméstica e tráfico humano.

Uma vez que elas vão para a escola e recebem uma boa educação, como elas podem melhorar a sua comunidade?

Reeves  Há uma série de benefícios, a começar pelo bem que a educação faz para elas mesmas. Mulheres com um bom nível de educação casam-se mais tarde e têm menos chances de contrair HIV ou AIDS. Isso obviamente tem reflexos diretos na sociedade. Quando o número de garotas que vai à escola cresce 10%, o PIB do país cresce cerca de 3%. Nós podemos ver cada vez mais que garotas com uma boa educação se tornam mulheres preocupadas com o ensino de seus filhos, quebrando longos ciclos de pobreza. Além disso, há estudos que afirmam que, quando empregadas, as mulheres investem cerca de 90% de seus salários na própria família. Esses são dados de certa forma questionáveis, e que não podem ser generalizados, mas é inquestionável o fato de que a inclusão das mulheres no sistema de ensino traz reflexos positivos para a sua comunidade.

No Brasil, cerca de 80% dos professores da Educação Básica são mulheres, o que se explica em parte pelos baixos salários pagos. Isso acontece em outros países?

Reeves  Isso acontece no mundo todo, mas felizmente a realidade está mudando. Em Uganda, por exemplo, a maioria das professores são mulheres, mas há homens nos setores administrativos, e alguns deles dentro de sala de aula. A carreira de professor é atrativa, mesmo com os seus conhecidos problemas. Hoje se pode dizer que, quantos mais os homens estudam, mais eles querem se tornar professores. As ideias sobre se trabalhar com educação estão mudando, felizmente.

Como é o trabalho de convencer empresas e pessoas físicas a se comprometerem com a educação?

Reeves — Não é difícil, já que esses problemas não são exclusivos de países em desenvolvimento. Ainda que eles sejam mais comuns em nações que sofrem de dificuldades econômicas, a falta de recursos e a aplicação inadequada do dinheiro também está presente nos países mais ricos. Eu posso dizer que quem colabora conosco entende o valor da educação, seja ela em Nova Iorque ou na Etiópia.

Como surgiu a ideia de fazer o documentário Girl Rising?

Reeves _ Veio da necessidade de se dar voz às pessoas, de colocar elas em primeiro plano. Era importante mostrar como é possível superar obstáculos, por mais difíceis que eles sejam. Esse trabalho foi feito por Richard Robbins, diretor do filme. O meu trabalho, em parceria com as ONGs, foi identificar as garotas que tiveram suas histórias contadas pelo documentário. Ao todo, nós apresentamos jovens da Índia, Peru, Haiti, Etiópia, Camboja, Nepal, Afeganistão, Egito, Serra Leoa e Uganda. Ao todos, são contadas nove histórias reais de garotas de nove países. Essas histórias foram escritas por nove escritoras locais, e posteriormente narradas por nove atrizes, incluindo Meryl Streep e Selena Gomez.

Quais dessas histórias mais chamou a sua atenção?

Reeves  É uma pergunta difícil. Todas essas garotas são incríveis, mas acho que me senti mais ligado com Senna, do Peru. Eu passei algum tempo na casa dela e de sua família acima de uma geleira no Peru, a 5100 metros de altura, em condições absolutamente insalubres. Eu vi essa garota inspirar todos à sua volta graças às suas atitudes, sua poesia e seu sorriso. Ela irá fazer muitas coisas incríveis no futuro, e eu fico muito feliz por ter feito parte da vida de todas elas.


Mario Espinoza / Divulgação

Documentário Girl Rising, com estreia prevista para 7 de março, terá sneak peek e trailer exibidos durante o festival de Sundance, em Utah
Foto:  Mario Espinoza  /  Divulgação


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