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Ensino Médio  | 15/09/2012 18h54min

Por que 34,5% dos alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente à sua idade?

Número aponta que país ainda tem grandes desafios no campo da educação

Marcelo Gonzatto  |  marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

As deficiências registradas na educação brasileira, como baixa aprendizagem, alta reprovação e abandono escolar, começam a se acumular nas primeiras séries do nível Fundamental. Mas é ao final da Educação Básica, no Ensino Médio, que a onda de falhas pedagógicas, estruturais e de gestão rebenta com maior força.

Um dos principais indicadores da maré negativa enfrentada por esse ciclo escolar é a gigantesca defasagem entre a idade dos alunos e o nível que estão cursando. Pouco mais de um terço dos estudantes matriculados nos colégios brasileiros, nessa fase, estão fora do cronograma previsto devido a razões que começam pela repetência – amplificada pela inadequação do atual currículo e pela falta de apoio adequado aos secundaristas em dificuldade.

Alunos mais velhos do que o recomendado para a seriação em que se encontram têm maior risco de desistir dos estudos e registrar desempenho inferior aos demais, além de indicar desperdício de recursos públicos. Conforme um estudo da Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica (OCDE), o país desperdiça até R$ 14 bilhões por ano com a alta taxa de repetência – cerca de 13% da verba disponível para a Educação Básica.

– O Ensino Médio vem se tornando um gargalo para a expansão da Educação Superior no Brasil. Os dados mostram que no ano 2000 tivemos um número de concluintes que se manteve praticamente o mesmo 10 anos depois – alerta o sociólogo Bruno Morche, pesquisador do Grupo de Estudos sobre Universidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador visitante no Institute of Education da University of London.

Conheça, algumas das razões para explicar a distorção idade-série no Ensino Médio do país.

1 - Formação deficiente na Pré-Escola

Uma das razões para o alto índice de defasagem verificado no Ensino Médio tem origem uma década antes. Uma das avaliações de especialistas é de que a falta da pré-escola dificulta a aprendizagem nos anos seguintes – principalmente no caso de crianças sem acesso a materiais como livros em casa. Um estudo divulgado no mês passado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que 1,4 milhão de crianças de quatro ou cinco anos estão fora das salas de aula no Brasil.

– A escola tem uma cultura própria que começa a ser aprendida na pré-escola, como copiar do quadro, ficar mais tempo sentado, fazer exercícios. Também envolve manejar livros, relacionar a letra com o som. Muitas crianças que não passam pela Educação Infantil têm dificuldade em fazer essa adaptação, o que atrapalha a aprendizagem nos primeiros anos do Fundamental – afirma a professora da Faculdade de Educação da UFRGS e especialista em Educação Infantil Maria Carmen Silveira Barbosa.

Se essa dificuldade resulta em reprovação, compromete o fluxo escolar do estudante. Esse é um problema que afeta especialmente o Rio Grande do Sul – enquanto o país registra 80,1% de crianças de quatro ou cinco anos matriculadas na pré-escola, o Estado fica com a segunda pior cobertura nacional, atrás apenas de Rondônia, com 58,6%.

2 - Gargalo do Ensino Fundamental

Se o estudante conseguir superar os primeiros obstáculos encontrados nas séries iniciais do Ensino Fundamental – já que apenas um terço chega ao 5º ano do Fundamental com o aprendizado considerado adequado – vai encontrar outro gargalo no caminho rumo ao Ensino Médio.

No 6º ano, quando o aluno deixa de ter uma única professora e passa a ter diversos educadores que lecionam disciplinas específicas, há uma explosão na repetência e no abandono. Se o aluno reprovado seguir na escola, e se o aluno desistente retornar à sala de aula, chegarão ao Ensino Médio com pelo menos um ano de atraso.

Os dados compilados pelo Ministério da Educação são alarmantes: nessa série, o índice de repetência praticamente dobra no país. O Rio Grande do Sul segue a mesma tendência. As taxas de abandono também se multiplicam, saltando de 1,6% para 4,2%, e sugerem que a perspectiva de perder o ano acaba afastando estudantes da escola.

– Até o 5º ano, quando tem uma professora como referência, o currículo trabalha o lúdico, a criança gosta de ir para a escola. Depois disso, começa a confusão, vários professores com estilos diferentes, que não conversam entre si. Muitos alunos não conseguem acompanhar – afirma a professora da Faculdade de Educação da PUCRS Helena Sporleder Côrtes.

3- Currículo anacrônico

O excessivo número de estudantes reprovados no país ajuda a revelar outro problema crucial da educação brasileira, e que também permite explicar a alta distorção entre idade e série: a falta de interesse dos jovens no currículo atual do Ensino Médio. Essa falta de sintonia se revela de diversas maneiras: repetência, abandono escolar e até a decisão de não cursar essa modalidade.

Uma das críticas mais comuns ao atual formato desse ciclo é o excessivo número de disciplinas, apresentadas geralmente de forma isolada umas das outras e com pouca vinculação com o mundo real dos estudantes. Em algumas escolas, a quantidade de matérias pode chegar a 16, por exemplo.

– O Ensino Médio acaba sendo desmotivante para um aluno que precisa muitas vezes trabalhar para aumentar sua renda e não vê utilidade nas matérias científicas e preparatórias para o exame vestibular. Neste sentido, se um estudante que já foi reprovado uma vez no Ensino Fundamental é reprovado no início de um Ensino Médio desmotivante e pouco articulado às suas necessidades, ele tende a abandonar e fazer um EJA dois anos mais tarde apenas para obter o diploma de conclusão. O atraso série-idade constitui-se, assim, em causa e também consequência das deficiências do sistema educacional – avalia o sociólogo Bruno Morche, pesquisador do Grupo de Estudos sobre Universidade da UFRGS.

4 - Reprovação no Brasil

Embora concentrada no 6º ano do Fundamental e na 1ª série do Ensino Médio, a repetência é um problema abrangente da educação brasileira. Enquanto países de destaque nos rankings mundiais da educação, como a Coreia do Sul, aliaram ensino de qualidade à decisão de eliminar a repetência, e outros registram índices muito baixos de reprovação, no Brasil 40% dos estudantes com 15 anos já rodaram pelo menos uma vez.

No Ensino Médio, onde a situação é ainda mais grave do que no Fundamental, em todo o país 13,1% dos estudantes precisam repetir o ano – na 1ª série, porém, esse índice chega a 18%. O Rio Grande do Sul é o recordista nacional de reprovações no Médio, onde um em cada cinco estudantes não consegue passar paraa série seguinte. As razões para isso incluem excesso de rigor na avaliação, currículo sem interesse para o aluno, falta de apoio complementar aos estudantes, falhas na formação do magistério, entre outras hipóteses cogitadas pelos especialistas.

– A necessidade de trabalhar, principalmente na zona rural, também contribui para elevar os índices de repetência e de abandono – avalia Helena Sporleder Côrtes.

5 - Falta de estratégia

Um dos mecanismos mais utilizados por países com bons índices de aprovação e baixa defasagem escolar é o monitoramento do desempenho dos estudantes e a intervenção ao primeiro sinal de problema por meio de reforço pedagógico. Com frequência, crianças e adolescentes com dificuldade são encaminhados para aulas de reforço no turno inverso, por exemplo.

Em países no topo do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), esse tipo de ação é uma das principais estratégias de ensino. No Brasil, iniciativas semelhantes costumam depender de iniciativas particulares e esporádicas de escolas. O resultado é um pior desempenho e elevação das taxas de repetência e distorção idade-série.

– Não temos condições de infraestrutura ou de recursos humanos para prover esse reforço. O ideal seria termos professores capacitados para esse tipo de serviço, disponíveis no turno inverso – avalia Helena Côrtes.

A especialista afirma que muitos estudantes de Pedagogia que estagiam em escolas públicas por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) são solicitados a fazer esse tipo de trabalho de maneira improvisada.

– É um indício da carência que as escolas sentem nessa área – afirma a educadora.

Júlio Cordeiro / Agencia RBS

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Foto:  Júlio Cordeiro  /  Agencia RBS


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