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Ideb  | 13/09/2012 05h11min

RS de Extremos: Vista Alegre do Prata tem o Ideb mais alto, Três Palmeiras, o menor

Nesta série de reportagens, ZH mostra cidades nos extremos dos principais indicadores sociais e econômicos

Fernanda da Costa e Marielise Ferreira  |  fernandadacosta@zerohora.com.br e marielise.ferreira@zerohora.com.br

Na quarta reportagem da série RS de Extremos, Zero Hora mostra os municípios com o mais alto e o mais baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica no Rio Grande do Sul.

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Em Três Palmeiras, faltam mais recursos para a educação

FOTO: Marielise Ferreira

A rodovia que servia de caminho em meio à mata para os tropeiros paulistas, e hoje corta ao meio a cidade de Três Palmeiras, separa os indígenas da Reserva de Serrinha dos brancos do pequeno município. A disparidade cultural influencia para que Três Palmeiras registre o pior índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), no Rio Grande do Sul.

Centro de disputa por terras entre índios e brancos, a cidade emancipada em 1988 tem economia baseada na agricultura. As famílias se formaram com a união de indígenas e brancos de ascendência alemã, italiana e polonesa. Apesar disso, indígenas não buscam vagas de trabalho no comércio e nas cinco pequenas indústrias da cidade. A integração acontece mesmo nas nove escolas da cidade, duas delas municipais. Nelas, indígenas como Gilvano, que aos 13 anos ainda frequenta o quinto ano na Escola de Ensino Fundamental Alberto Pasqualini, e repetiu três vezes a mesma série, têm as mesmas dificuldades de brancos como seu colega Bruno, na mesma situação. Em breve, a idade os fará sentirem-se deslocados, transformando-se em candidatos à evasão escolar.

Turno inverso, com atividades extraclasse e horários especiais para reforço, são uma tentativa do município para mudar esta realidade.

Mas mesmo depois de cinco anos na escola, alunos como Gilvano precisam de ajuda do professor para identificar algumas letras no quadro negro. A maior dificuldade está na aprendizagem da língua portuguesa — eles convivem também com inglês e a língua-mãe, o caingangue. Na localidade de Caneleira, dentro da reserva, a Escola Fág Ror vive em dobro as dificuldades da escola central. São 138 alunos, todos de origem indígena. Em salas pobres, com carteiras enfileiradas ao fundo, os alunos têm só um caderno e um lápis para guardar o que aprenderam.

De uma gentileza e educação impecáveis, os pequenos caingangues esbanjam carinho com os professores, e reproduzem danças, músicas e comidas típicas, para manter viva a sua cultura. As professoras se esforçam para atrair as famílias à escola, sem resultado.

— Os pais vêm, mas se recusam a falar português, e não entendemos caingangue — conta a diretora Noemi Catarina Gomes.

Nômades, é normal que os alunos indígenas perambulem pelo Estado para a venda de artesanato. Chegar ao fim do Ensino Fundamental também é uma façanha entre os integrantes da etnia. A evasão atinge principalmente as meninas – muitas engravidam e deixam a escola ainda no quinto ano.

— A Prova Brasil não é veículo adequado para avaliar a educação em cidades com esta realidade diferenciada — diz a secretária Ivanilda Casagrande.

Com os problemas na educação, o analfabetismo chega a 10% da população. A Associação Comercial e Industrial e o Sebrae realizam cursos para melhorar a qualificação dos trabalhadores, mas o êxodo para municípios maiores costuma ocorrer.

O que o futuro prefeito pode fazer

O doutor em educação Arnaldo Nogaro avalia que a diferença cultural dos indígenas contribui para o baixo índice, mas não é determinante. Para ele, o novo prefeito precisa investir maciçamente na qualificação dos professores, manter mestres com formação específica em cada disciplina e dotar as escolas com recursos didáticos multimeios, para atrair o aluno. O professor é responsável por motivá-los para a aprendizagem, alerta. Serviços de apoio e melhorias da merenda escolar também estão na lista do especialista, que avisa: nada disso basta para melhorar o quadro sem o apoio familiar.

— É preciso mobilizar as famílias e trazê-las à escola, para que incentivem seus filhos e continuem em casa o trabalho do colégio — salienta Nogaro.

 

Em Vista Alegre do Prata, investimento é acima do exigido

FOTO: Fernanda Pimentel

Entre o colorido das casas da Avenida Alberto Pasqualini, a principal via de Vista Alegre do Prata, próxima a Guaporé, na Serra, uma faixa exibe em letras vermelhas o motivo da comemoração geral: a cidade é líder em educação no Estado. Há cerca de um mês, a boa nota da única escola municipal nas séries iniciais encheu de orgulho os 1.569 habitantes. Até quem não tem filhos em idade escolar comemorou o índice.

O reflexo da boa educação do município está na qualidade de vida da população e na manutenção das mais de 400 propriedades familiares com um bom nível de renda. Os empresários do setor de serviços costumam ter de investir acima do nível de mercado para encontrar profissionais.

— Para conseguir um funcionário eu tenho que pagar mais do que pagam em Guaporé, que é aqui do lado — comenta Nedio Concari, 35 anos, proprietário de uma oficina mecânica.

Mesmo assim, Concari pretende continuar morando no município, e até investe na construção de uma oficina maior, motivado pela segurança de Vista Alegre do Prata e pela qualidade da educação que a filha Ângela, de cinco anos, recebe.

— Este foi o primeiro ano da Ângela na escola, e em uma semana ela aprendeu a escrever o nome. Sabíamos que era uma boa escola, mas nunca imaginamos que seria a melhor. É uma tranquilidade para todos os pais — comenta a mulher de Nedio, Silvana Baldissera Concari, 32 anos.

A escola Giuseppe Tonus foi construída há 12 anos para centralizar o ensino das séries iniciais, realizado até então em pequenas escolas na zona rural.

O segredo do bom desempenho, segundo a diretora Valdete Gusberti Cortelini, é resultado da aplicação de recursos nos professores e nos alunos. Atualmente com 102 estudantes, a Giuseppe recebe a maior parte do investimento em educação do município, que direcionou 28% do orçamento da cidade, em 2012, para a área.

— Nunca investimos apenas os 25% obrigatórios por lei. Já chegamos a aplicar 30% do orçamento em educação — afirma a secretária de Educação, Rosa Rigo Treviso.

Todos os estudantes recebem uniformes, mochila, tênis e transporte escolar de boa qualidade. Já os professores ganham um apoio financeiro de 60% do transporte e de 70% do valor da mensalidade para a primeira graduação. Dos 10 educadores da Giuseppe, nove possuem curso superior.

Sem usar livros didáticos, os docentes produzem materiais de ensino voltados à realidade do município. As práticas pedagógicas também são relacionadas com temas escolhidos pelos alunos em uma votação no início do ano.

O currículo da Giuseppe integra aulas de inglês, italiano, música, hora do conto, recreação e informática. Para os alunos do 1º ao 5º ano, a escola também promove viagens anuais para destinos como Missões e Rio Grande. Em 2011, a Giuseppe obteve índices de evasão e repetência zero.

O que o futuro prefeito pode fazer

Segundo Edemilson Brandão, doutor em Ciências da Educação e professor do curso de Pedagogia da Universidade de Passo Fundo, quando o professor passa a ser autor de seu material didático, produz voltado para a realidade local. O investimento na educação deve seguir esta linha.

— Quando trabalhamos na perspectiva regional, temos espaço para a nossa cultura. No caso desta escola da Serra, aparecem questões como as etnias e o homem no campo. A criança está em seu contexto — afirma.

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