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O X da Educação  | 03/08/2009 14h47min

"Brasil deve ser mais ambicioso"

Entrevista: Andreas Schleicher, responsável pelo Programa Internacional de Avaliação Comparada (Pisa)

Responsável por um dos mais respeitados indicadores educacionais do planeta, o Programa Internacional de Avaliação Comparada (Pisa), o físico alemão Andreas Schleicher, 45 anos, desembarcou sábado na Capital gaúcha. Há oito anos, ele acompanha uma prova aplicada a estudantes de 15 anos de países desenvolvidos, em uma iniciativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No ranking, os brasileiros estão na lanterna. Ocupam a 53ª posição em matemática (entre 57 países) e a 48ª em leitura (entre 56). Para Schleicher, na Capital para abrir o 10º Congresso da Escola Particular, na quarta-feira, o Brasil poderia ter “metas muito mais audaciosas de ensino”. Sábado à tarde, ele conversou com Zero Hora. Acompanhe parte da entrevista:

Zero Hora – Qual é a importância de uma prova para melhorar o ensino?

Andreas Schleicher – Você não pode melhorar o que não pode medir. Se os professores não souberem como estão indo seus alunos, se as escolas não se compararem, é difícil melhorar.

ZH – Como é a prova do Pisa?

Schleicher – Queremos ver se o aluno consegue entender a matemática e a sabe usar como ferramenta para entender o mundo, resolver problemas, pensar de forma criativa e imaginativa. Se ele pode usar o conhecimento para ir além, em novas situações. O Pisa não testa se o aluno consegue replicar o que aprendeu na aula. A competência é que é avaliada.

ZH – Os estudantes brasileiros estão entre os piores nessa avaliação internacional. O que pode ser feito para melhorar esse quadro?

Schleicher – No Brasil, existe muita ênfase em reprodução de conteúdo. Os alunos têm uma imensa quantidade de conhecimento, mas não se dá a eles as ferramentas de como aplicar esses conhecimentos de forma prática. As coisas fáceis de ensinar não tornarão o cidadão competitivo. O Brasil poderia ter metas muito mais audaciosas. Precisa mudar o foco do conteúdo para competência. Também há expectativas diferentes em escolas pobres, há tolerância e baixo padrão de exigência. Isso é um grande equívoco e vai reforçar as disparidades sociais.

ZH – O Brasil investe 5% do PIB na educação. Isso não é pouco?

Schleicher – Em termos absolutos, pode ser pouco, mas relacionado ao PIB está na média dos países da OCDE, que é de 5,5%. Os sistemas de ensino mais caros não são necessariamente os melhores. A Coreia do Sul era muito mais pobre que o Brasil na década de 60. Tinha pouquíssimo dinheiro para gastar com educação, mas investiu de forma muito inteligente e produtiva. Agora, seu sistema de ensino tem uma das melhores performances do mundo. Em duas gerações, eles subiram todas as posições.

ZH – No Brasil, a carreira de professor não atrai os alunos mais brilhantes, sobretudo pelos salários oferecidos. Como melhorar a educação se os melhores estudantes buscam outras profissões?

Schleicher – Essa é uma questão interessante e vários países a enfrentam. Não tem a ver com salários, mas com o ambiente. Para atrair jovens brilhantes, é preciso oferecer oportunidade de carreira, recompensar a boa performance. Pessoas brilhantes querem criar algo, e se você não der a elas essa oportunidade, elas ficam desmotivadas e vão para outra área.

ZH – O senhor diz que os professores ainda seguem linhas pedagógicas motivadas por crenças pessoais e deixam de observar o que as pesquisas apontam como eficaz no aprendizado. Por que isso?

Schleicher – Os professores tendem a ensinar como foram ensinados e não como foram ensinados a ensinar. Se você é médico, todos os dias buscará novas pesquisas, novos tratamentos, novos métodos. Na educação, não existe essa prática. Às vezes, o professor está sozinho na sala, com problema gigantescos e sem nenhum suporte. Não há tradição de gerenciamento de conhecimento no sistema de ensino. Isso acontece em outros setores, como a medicina, mas não no ensino.

ZH – O Brasil tem investido em avaliação nos últimos 10 anos, e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) valoriza a competência. Como o senhor vê o futuro da educação no Brasil?

Schleicher – Os resultados ainda são baixos, mas é o Brasil é o único país da América Latina em que houve melhora. O Enem é um bom instrumento. Eu conheço a prova. Na América do Sul, as melhores avaliações são do Brasil e da Colômbia.

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Comentários

Gisele Rodrigues dos Santos  - 

Denuncie este comentário14/09/2009 10:20

É preciso alguém do exterior vir para perceber algo quase nunca comentado sobre a formação de novos professore. Há muita gente cursando licenciatura às custas do Governo meramente para obter um diploma, enquanto isso outros alunos menos privilegiados, mas com vocação e interesse não poderão deixar um emprego em outra área para participar de atividades enriquecedoras como pesquisa e estágios na sua área de formação em virtude das remunerações oferecidas que são insuficientes. Outro tópico muito bem abordado nessa matéria trata da forma defazada e fora da realidade como as universidades ensinam seus alunos e futuros professores, perde-se tempo ensinando conteúdos inúteis.


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