clicRBS
Nova busca - outros

Notícias

Pecuária  | 30/05/2011 07h13min

"A população dissocia o animal que está consumindo do animal vivo"

Entrevista com Charli Lüdtke, gerente de animais de produção da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA Brasil) e coordenadora do Programa Nacional de Abate Humanitário (Steps)

Pedro Moreira  |  pedro.moreira@zerohora.com.br

Nosso Mundo Sustentável - Os produtores brasileiros se preocupam com o bem-estar dos animais de produção?
Charli Lüdtke -
É muito variado. Acredito que havia muita falta de conhecimento até pouco tempo. O produtor não sabia o que podia ocorrer. Hoje, tem-se divulgado muito a relação do bem-estar animal com a produção. Se um animal não tem bem-estar, ele fica com as defesas baixas. Ainda existem produtores que têm uma cultura resistente, que acham que o animal deve ser tratado com brutalidade. A ciência mostra exatamente o contrário. Se você tiver uma boa interação, conhecimento e respeitar o comportamento do animal, não é preciso utilizar violência.

Nosso Mundo - Em que ponto está a discussão sobre o abate humanitário?
Charli -
Essa é uma preocupação geral. eu também integro a comissão de Bem-Estar da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), e a organização lançou um guia com recomendações sobre abate humanitário, que é uma preocupação mundial. Isso começou na Europa e refletiu nos países de outros continentes, que vendem carne aos europeus. Com isso, os produtores acabaram vendo que ganham muito com essas práticas. Mas há problemas. No Brasil, há situações caóticas, mas há frigoríficos que estão no padrão europeu. A preocupação do bem-estar tem de estar inserida em todo o processo, é a questão da qualidade ética.

Nosso Mundo - O que é a qualidade ética?
Charli -
Temos de associar não só a qualidade da carne, mas também a qualidade ética. A carne que estou consumindo, que pelo menos seja de um animal que teve bem-estar na criação e um manejo pré-abate adequado, sem dor. Também envolve questões de sustentabilidade dos sistemas de produção, questões ambientais e sociais, é uma demanda ampla.

Nosso Mundo - O Brasil está à frente dos EUA em relação ao bem-estar dos animais de produção?
Charli -
Estamos bem melhor. De maneira geral, os EUA não têm uma preocupação com isso. É uma produção muito intensivista, em larga escala. Há o problema do custo da mão de obra lá, que faz com que quase tudo seja automatizado. Aqui também ainda temos pequenos produtores, que se envolvem mais e acabam tendo um cuidado maior.

Nosso Mundo - A sociedade tem consciência da necessidade do bem-estar do animal de produção?
Charli -
Quando se fala em larga escala, altos volumes, milhões, bilhões, as pessoas acabam vendo o animal como um número, vão perdendo a sensibilidade. Esse resgate precisa ser feito, de ver o animal como um ser senciente. A população dissocia o animal que está consumindo do animal vivo. Tudo vem fragmentado em bandejinhas, coloridinhas, com bichinhos felizes. Tem muita gente que se preocupa, mas o consumidor não sabe questionar o que está comendo. Há um desconhecimento de que uma carne barata pode ter vindo de um abate clandestino e cruel, e quem incentiva isso é o próprio consumidor. O ideal é que tivéssemos os produtos certificados nas prateleiras dos mercados, como ocorre com orgânicos.

Curta o Nosso Mundo no Facebook

NOSSO MUNDO SUSTENTÁVEL
Divulgação / 

"Tem muita gente que se preocupa, mas o consumidor não sabe questionar o que está comendo"
Foto:  Divulgação


Comente esta matéria

Notícias Relacionadas

30/05/2011 07h13min
O abate humanitário
30/05/2011 07h13min
Em busca do bem-estar animal
 

Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2011 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.