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Economia  | 15/03/2011 08h14min

A falsa promessa dos empregos verdes

Em artigo, Bjørn Lomborg fala sobre economia e empregos verdes

"A retórica política se afastou da necessidade de responder ao 'desafio da geração' das mudanças climáticas. Investimentos em tecnologias de energias alternativas como solar e eólica já não são mais exigidas por razões ambientais. Em vez disso, estamos sendo informados sobre as alegadas recompensas econômicas, principalmente sobre a promessa dos chamados 'empregos verdes'. Infelizmente, isso não se encaixa na realidade econômica.

O Centro de Consenso de Copenhague pediu a Gürcan Gülen, um economista sênior no Center for Energy Economics, Bureau of Economic Geology na Universidade do Texas, em Austin (EUA), para avaliar o 'estado da ciência' em definir, medir e prever a criação de empregos verdes.

Gülen concluiu que a criação de postos de trabalho 'não pode ser defendida como outro benefício' das políticas verdes bem-intencionadas. Na verdade, o número de empregos que essas políticas criam provavelmente é compensado - ou pior - pelo número de empregos que destroem.

Em face disso, a criação de empregos verdes parece óbvia. Implantar mais turbinas de vento e painéis solares cria a necessidade de mais construtores, técnicos, comerciantes e funcionários especializados.

Voilà: ao simplesmente investir em políticas verdes, não apenas ajudamos o clima, como também diminuímos o desemprego. Realmente, essa é a essência de muitos estudos que políticos estão citando avidamente. Então onde essas análises erraram?

Em alguns casos, Gülen descobre que proponentes de empregos verdes não distinguiram entre trabalhos na construção civil (erigir as turbinas de vento), que são temporários, e empregos operacionais de maior prazo (manter as turbinas de vento funcionando), que são mais permanentes.

Além disso, às vezes advogados assumem, sem justificativa, que novos postos de trabalho pagariam mais do que carreiras no setor energético convencional.

Em outros casos, a definição de emprego 'verde' é tão vaga que se torna virtualmente inútil. Se um consultor de sustentabilidade pede demissão de uma fábrica de concreto e, em vez disso, vai trabalhar em um projeto de energia renovável, podemos mesmo concluir que o número de empregos verdes aumentou de verdade?

Mais perturbadora é a constatação de Gülen de que algumas alegações de criação de empregos têm sido baseadas em suposições de produção de energia verde que vão muito além das estimativas respeitáveis. Claro, se você supor que vastas áreas da zona rural serão cobertas por turbinas de vento e painéis solares, irá inevitavelmente prever que um grande número de empregos de construção serão requeridos.

Porém, o maior problema nessas análises é que elas costumam deixar de reconhecer os custos elevados ou a perda de empregos que essas políticas vão causar. Fontes de energia alternativa como a solar e a eólica criam combustível e eletricidade significativamente mais caros do que as formas de energia tradicionais.

Aumentar o custo da eletricidade e combustível vai prejudicar a produtividade, reduzir o número de postos de trabalho e reduzir a quantidade de renda que as pessoas têm à disposição. Ainda assim, muitos estudos utilizados por defensores dos empregos verdes não têm levado em conta esses custos - deixando de notar tanto os custos dos investimentos quanto a elevação de preços enfrentados pelos usuários.

As empresas que pedem intervenção política para a criação de empregos verdes tendem a ser aquelas que exigem ganhar subsídios e tarifas. Porém, como essas políticas aumentam os custos de combustíveis e eletricidade, elas implicam demissões em outros lugares, em muitos outros setores econômicos.

No momento em que esses efeitos são levados em conta, o pretenso aumento de empregos é tipicamente eliminado, e alguns modelos econômicos mostram uma empregabilidade menor. Os esforços do governo para criar empregos verdes podem acabar resultando em perda de postos de trabalho.

Mesmo que isso seja verdade, os proponentes podem argumentar, investimento em empregos verdes é, todavia, uma boa maneira de estimular uma economia lenta. Mas Gülen mostra que há muitos outros setores econômicos, como saúde, que poderiam realmente criar mais postos de trabalho com a mesma quantidade de investimento governamental.

Além da criação de empregos, alguns pesquisadores têm alegremente alegado que todos os tipos de outros benefícios econômicos serão acumulados a partir de investimento em energia alternativa, incluindo a elevada produtividade, maior disponibilidade de rendimentos e menores custos operacionais para empresas.

Aqui, também, Gülen conclui que as afirmações 'não estão apoiadas por qualquer evidência e são inconsistentes com a realidade das tecnologias verdes e mercados de energia'.

O problema fundamental é que tecnologias de energia verde ainda são muitos ineficientes e caras comparadas a combustíveis fósseis. Implantando fontes de energia alternativa menos eficientes e mais caras vai prejudicar empresas e consumidores, não os ajudar.

Para que todo o planeta possa fazer uma mudança sustentável para longe dos combustíveis fósseis, precisamos fazer energia de baixa carbono mais baratas e eficientes. Isso requer um aumento substancial em pesquisa e desenvolvimento de alternativas de energia verde da próxima geração. Atualmente, os orçamentos para pesquisa são muito pequenos, e isso precisa mudar desesperadamente.

Enquanto isso, o público deve ser cauteloso com políticos afirmando que implantar a tecnologia ineficiente e cara da atualidade vai resultar em benefícios excepcionais sem qualquer custo."

Bjørn Lomborg é autor de O Ambientalista Cético e Cool It - Muita Calma Nessa Hora, diretor do Centro de Consenso de Copenhague e professor adjunto da Copenhagen Business School

 

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