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Itapema FM  | 02/08/2010 10h35min

Bebeto Alves lança três CDs diferentes ao mesmo tempo

LUÍS BISSIGO  |  luis.bissigo@zerohora.com.br

Não é título de filme: Bebeto Alves em 3D é o nome do novo disco do cantor e compositor uruguaianense. E não é apenas um disco, mas um pacote com três trabalhos distintos: um álbum de canções inéditas, uma coletânea de trilhas sonoras e um CD duplo gravado ao vivo.

De saída, este triplo lançamento chama atenção pelo tamanho: são três horas e sete minutos de música, produzidas pelo dono de uma das trajetórias mais importantes e provocativas do cenário musical gaúcho. Uma história que está contemplada no pacote – o duplo Bebeto Alves e os Blackbagual traz versões ao vivo de músicas de diferentes épocas, incluindo algumas de suas melodias mais conhecidas, como Pegadas, Notícia Urgente e Mais uma Canção.

Mas Bebeto Alves em 3D vai além da maratona sonora e realmente permite acesso a diferentes dimensões da obra do músico de 55 anos. Um bom exemplo é o álbum Cenas, em que predominam temas instrumentais criados para TV, cinema e teatro, nos quais a diversidade é a ordem, passando por climas exóticos, efeitos eletrônicos e ares milongueiros de violão.

O toque acústico é determinante mesmo em O Maravilhoso Mundo Perdido, disco em que praticamente todas as 15 músicas são composições inéditas e recentes da lavra de Bebeto, gravadas em arranjos mínimos, privilegiando violão e voz com eventuais intervenções de cordas e percussão.

Para explicar tudo isso ao mesmo tempo agora, Bebeto tem uma frase igualmente minimalista:

– Não posso ter isso dentro de mim por muito tempo, se não explodo.

Volta aos mundos
Lançar três discos simultaneamente é a nova ousadia de Bebeto Alves. Até houve projetos semelhantes na música brasileira em anos recentes – artistas como Maria Bethânia e Marisa Monte chegaram a lançar dois discos diferentes ao mesmo tempo, e Ana Carolina (com Dois Quartos, de 2006) e Moska (com Muito Pouco, deste ano) produziram álbuns duplos que também funcionam como dois discos separados. Mas, no caso de Bebeto Alves em 3D, o pacote inclui três títulos independentes – em proposta, conteúdo e história.

E o projeto não é só musical. O lançamento triplo se completa com a edição de uma publicação em formato tabloide, com 16 páginas, reunindo textos de jornalistas e amigos de Bebeto, além de artigos do próprio compositor. A trajetória de Bebeto e as particularidades do projeto 3D são alguns dos assuntos do jornal, que será distribuído gratuitamente.

– É para contextualizar o trabalho. Hoje, ninguém mais sabe a história de ninguém – comenta o compositor.

BEBETO ALVES EM 3D
Pacote com três álbuns. Bank 7, R$ 40 em média.

Canções desnudadas
Bebeto Alves em 3D é um projeto aparentado com uma quarta obra: o documentário Mais uma Canção. Ainda sem data prevista para lançamento, o filme terá a trajetória musical de Bebeto como ponto de partida para uma reflexão sobre as origens da cultura musical do compositor. O que envolveu até uma viagem de pesquisa, realizada no ano passado, com escalas em Marrocos, Espanha e Portugal.

– Encontramos lá uma preocupação semelhante com essa busca de identidade. Em um ônibus em Sevilha, por exemplo, havia uma TV exibindo um programa sobre música, explicando a origem muçulmana do canto flamenco – relata o músico.

Um pouco dessa viagem aparece no álbum de inéditas O Maravilhoso Mundo Perdido. Instrumentos marroquinos como o bendir – espécie de pandeiro com tamanho duplicado – aparecem em certos pontos do álbum, complementando o voz-e-violão predominante. O som intencionalmente cru visa, segundo Bebeto, a “aproximar as pessoas do processo de criação” das canções.

A proposta foi levada ao extremo em Poema para Cao Trein, homenagem ao amigo e compositor, parceiro de Bebeto em Amarelua, música do LP Notícia Urgente (1983), falecido no ano passado. A letra foi escrita a caminho do funeral, no início da manhã, a bordo do Trensurb – e a música brotou no instante da gravação, com altos teores de dramaticidade, reforçados pelo violino de Ricardo Frota.

– Eu disse (para os técnicos do estúdio): “Liga aí que eu vou cantar”. E a música foi feita ali – conta Bebeto.

Outros momentos fortes são a balada Quero Mais, o tango Tá Bem, o samba alegre Mar de Gente e a abertura Carretera – evidências de que os mundos musicais de Bebeto são mesmo muitos.

O MARAVILHOSO MUNDO PERDIDO
Canções inéditas, 15 faixas.

Na trilha dos timbres
Mais famoso pelo trabalho como autor de canções – vide exemplos como Pegadas, Rasa Calamidade e Depois da Chuva –, Bebeto Alves também tem suas aventuras pela música instrumental. Mais especificamente, pela música instrumental criada como trilha sonora para imagens de cinema, movimentos de dança ou passagens cênicas de teatro. E é essa vertente o mote de Cenas, um dos álbuns que formam a caixa Bebeto Alves em 3D.

As 13 faixas do CD formam um mosaico de formatos, timbres e também épocas. Estão no repertório músicas escritas para espetáculos tão diversos quanto Mehrda Presidentas (de Werner Schwab, dirigida por Camilo de Lélis), Deslocamentos (de Renata de Lélis) e A Salamanca do Jarau (da Cia de Teatro Lumbra, incluindo uma releitura eletrônica para o Boi Barroso de Barbosa Lessa). Ou para TV – Secret Song e Suspensão foram feitas a pedido de Laura Finocchiaro para o arquivo de trilhas do SBT. Há ainda uma trilha cinematográfica: Milonga de Guerra, incluída no filme Netto Perde sua Alma (2001), de Tabajara Ruas e Beto Souza.

Em particular, a Milonga de Guerra mostra o quanto o regionalismo gaúcho é parte essencial da musicalidade de Bebeto – a exemplo de tantas outras experiências dele, o tema começa com uma harmonia milongueira tradicional, conduzida no violão, e segue aditivado por efeitos de sintetizador e vocalises com um pé na cultura árabe. Climas que irão aparecer em outros momentos, nos quais instrumentos digitais e analógicos estão lado a lado: beats, cordas, bandoneons, guitarras. Nas trilhas para espetáculos de dança, a ênfase rítmica é naturalmente mais forte – Desconjunto, com um pé no tango e outro na canção francesa, e Chão, mais voltada ao pop, são bons exemplos.

– Quando não tenho nada para fazer, fico criando coisas como essas. Fico buscando sons diferentes – explica o compositor.

CENAS
Trilhas sonoras de cinema, TV e teatro. 13 faixas.

Arena das fusões
Se dependesse do plano original, o CD duplo Bebeto Alves e Os Blackbagual nem iria existir. O registro de som e imagem de duas noites de shows no Teatro de Arena, em junho do ano passado, foi idealizado como parte do documentário Mais uma Canção – mas o resultado sonoro da gravação acabou rendendo também um álbum com identidade própria.

É nada menos que um resumo da trajetória de Bebeto. As 20 músicas cobrem desde o primeiro LP do compositor, lançado em 1981, até o disco anterior ao projeto 3D, Devoragem, de 2008. Tudo tocado com a excelência e a versatilidade da banda Os Blackbagual – o baixista Rodrigo Rheinheimer, o baterista Luke Faro e o guitarrista Marcelo Corsetti, produtor do disco Blackbagualnegovéio (2004), que inspirou o nome do grupo e do espetáculo.

A colaboração de Bebeto e Corsetti, aliás, faz pleno sentido – o guitarrista e produtor também costuma explorar a música regional gaúcha e suas possibilidades de fusão com gêneros como o jazz e o rock. Assim, canções como Festa dos Caranguejos (do disco Y La Milonga Nova, de 2000) e Tum Tum Tum (de Paisagem, de 1993) são exploradas com a (des)medida certa de intensidade instrumental e liberdade estilística.

O registro inclui as participações de dois convidados especiais. Um é o jornalista e compositor Jimi Joe – que dividiu com Bebeto um programa semanal de rádio em São Leopoldo no ano passado e aparece para cantar um clássico do rock gaúcho, Sandina. Outro é o cantor e compositor Oly Jr. – novo nome do cenário sulista, também interessado na busca de novos rumos para a sonoridade regional, que canta a faixa-título de seu ótimo álbum Milonga Blues.

– O bacana é que as pessoas estão sendo honestas e esclarecendo esse processo evolutivo – comenta Bebeto.

BEBETO ALVES E OS BLACKBAGUAL
Disco ao vivo, 20 músicas (CD duplo).

ZERO HORA
Fernando Gomes / 

Bebeto Alves
Foto:  Fernando Gomes


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