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 | 18/11/2008 18h54min

O adeus ao criador do silêncio

Aleco Mendes*

Falando no "criador do silêncio" (Zero Hora de hoje), o nosso querido Arthur Dallegrave realmente usava o "minuto de silêncio" como respeito e homenagem em memória aos colorados importantes recém falecidos e sem deixar de utilizar de seu bom humor.

Além de ser assessor de imprensa, coordenador da cabine de comunicação (placar eletrônico e alto-falantes do Estádio), tenho outra pequena e simples tarefa, sou o responsável por redigir o minuto de silêncio, repassar oficialmente para a arbitragem, imprensa e ao locutor do serviço de som do Beira-Rio, o Dallegrave sempre era a minha fonte principal e fidedigna.

Eu poderia ficar despreocupado, pois caso viesse a falecer alguém importante defensor da causa colorada, o "presidente" me ligaria avisando: "Aleeeco (carinhosamente), anota aí o minuto de silêncio para a partida..."

Certa vez, em 2007, quando já não exercia mais o cargo de 1º vice-presidente eleito da gestão de Fernando Carvalho, o "presidente" Dallegrave me ligou três vezes consecutivas para passar três nomes diferentes para o minuto de silêncio. Na terceira ligação, ele usou de seu refinado bom humor: "Aleeeeco, sabe quem eu sou?" Então pensei no que ia dizer, certamente em algo que ele quisesse ouvir. "O senhor é o nosso eterno presidente"!

Mas outra vez ele surpreendeu, sem vergonha nenhuma, dizendo "Sou o vice-presidente do minuto de silêncio"! Contei em voz alta na Assessoria de Imprensa do clube e caímos todos na gargalhada. Ele dizia também que devíamos ajudar ele em outra tarefa diária, ficar sempre atentos ao obituário dos jornais.

O Arthur Dallegrave marcou muito para quem convivia com ele. A memória deste senhor de 78 anos era incrível, certamente a maior enciclopédia viva de qualquer fato da centenária história colorada. A fonte de histórias interessantes do Arthur Dallegrave era inesgotável. Na ocasião da produção e do lançamento do livro Histórias Coloradas, em 2004, onde estariam 100 histórias de 100 personagens colorados diferentes, resolvemos abrir uma exceção e colocar duas histórias do Dallegrave. A idéia surgiu a partir do momento em que fui entrevistá-lo para escrever o relato para o livro, quando ele me sugeriu várias histórias e perguntou qual eu preferia publicar.

Já em 2008, há poucos meses, o "presidente" me chamou para uma conversa:

— Aleeeeco, tu é o meu contador de histórias preferido, quero que tu sejas meu porta-voz. Quero lançar minha biografia como colorado, as minhas histórias, eu narro e quero que tu escrevas para mim. Vou fazer um roteiro para seguirmos e te chamo para uma nova reunião.

Fiquei extremamente lisonjeado e feliz com a lembrança e reconhecimento, mas infelizmente não conseguimos produzir em tempo a obra. Talvez o título seria "Arthur Dallegrave — Alma de Campeão", um slogan que ele gostava muito e, inclusive, usou na sua campanha para deputado em 2006.

Dallegrave sempre gostou muito da elegância, respeito, ter boas relações e as tinha com personalidades importantes do mundo do futebol, como a amizade com o presidente da Conmebol Nicolas Leoz. Além disso, fazia questão de organizar recepções aos diretores dos times adversários em Porto Alegre, principalmente para as equipes da América Latina, o que até possibilitaria praticar seu espanhol, algo que sempre gostou e também usava em simples cumprimentos nos corredores do Beira-Rio em seu dia-a-dia.

Apesar da importância histórica dele para o Sport Club Internacional, a simplicidade era uma de suas marcas, cumprimentava e mantinha boas relações desde a equipe da limpeza e segurança do Complexo Beira-Rio até o presidente da entidade máxima do futebol sul-americano, como citado anteriormente, Nicolas Leoz.

Não era só uma personalidade colorada, porém uma pessoa especial, capaz de situações inusitadas e surpreendentes, por exemplo dizer que era o vice-presidente do minuto de silêncio. Nos últimos dias, Dallegrave protagonizou algo comovente. Na sexta-feira, último dia 4, já no hospital, ligou para alguns de seus entes queridos para avisar que estava à caminho da sala de cirurgia, na verdade para dizer um 'torçam por mim, logo estarei de volta'.

Fui um dos agraciados com sua lembrança. Com certeza, aos 78 anos, Arthur Dallegrave ainda tinha vários planos, como a perfeita organização dos festejos do centenário colorado. Para esta quarta-feira, antes da partida Inter x Chivas, o mínimo que poderá ser feito é o minuto de silêncio em homenagem ao "presidente" e, como já mencionou o também eterno presidente Fernando Carvalho, desta vez vai ser difícil impedir a salva de palmas ecoando num Gigante lotado pela maior e melhor torcida do Rio Grande. Um presente à altura da grandeza do inesquecível Arthur Dallegrave.

*Aleco Mendes é jornalista e assessor de imprensa do Inter

 
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