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 | 14/01/2010 00h20min

"A missão de vida não acaba nunca", diz irmã de Zilda Arns

Médica catarinense, que morreu no Haiti, costumava viajar à cidade-natal duas vezes ao ano

Ana Paula Cardoso  |  ana.cardoso@diario.com.br

A notícia da morte de Zilda Arns assustou e chocou as irmãs Maria Hilda, 83 anos, Maria Gabriela, 89, e Maria Helena, 85 anos, que moram em Forquilhinha, na sede regional da Pastoral da Criança, no Sul de Santa Catarina. Elas souberam da perda da irmã na manhã desta quarta-feira, pela sobrinha Heloísa (filha de Zilda), que telefonou de Curitiba (PR) após ser comunicada pelo gabinete da Presidência da República.

— A vida de Zilda sempre esteve nas mãos de Deus, mas não imaginávamos que ela poderia estar lá (no Haiti). A missão de vida não acaba nunca, para ninguém — ensina a Irmã Maria Helena.

Para Maria Hilda, o acidente foi a confirmação de um mau pressentimento. Na tarde de terça-feira ela caminhava pelo jardim da casa e sentiu uma "inquietação" no coração, não sabia o que era. Pensou que fosse porque era aniversário da morte de outra irmã, Ida, falecida há cerca de três anos. Quando soube da morte de Zilda, no Haiti, teve a dúvida esclarecida.

— A perda já é fato. Difícil é encarar a surpresa, o choque. É complicado de assimilar porque ela estava sempre presente. Estamos unidas na fé para superar — afirma Maria Hilda.

Confira o vídeo das irmãs de Zilda Arns

Missionária

Maria Hilda considera a irmã uma grande missionária:

— Assim como Jesus, que salvava crianças, e Zilda deu a vida por elas em um dos países mais pobres da América Latina.

As irmãs terão as melhores lembranças da guerreira que foi Zilda. Sua alegria, bom humor e uma série de histórias e aventuras que passou pelos países onde ela mantinha "braços" do trabalho solidário. Elas contam que a irmã nasceu no dia 25 de agosto, Dia do Soldado, não havia data melhor para ela.

— Mulher férrea, não tinha medo de enfrentar nada porque sempre quis uma vida mais digna para si e para os outros. Para nós, saber que ela está viva na eternidade é um grande consolo — resumem.

A maior recordação que a coordenadora da Casa Mãe Helena — Centro Regional de Treinamento da Pastoral da Criança, e sobrinha de Zilda, Lilian Arns Topanotti, leva da tia é a semelhança física a cor dos cabelos, os olhos claros e o formato do nariz.

Liliam precisou conter a emoção para atender a todas as ligações à procura de informações sobre a morte de Zilda. Entre uma ligação e outra, recordou que a tia brincava com a semelhança.

— Ela dizia que eu era mais parecida com ela do que os próprios filhos, que são morenos e eu loira. E que olhando para ela eu me veria na velhice. Se for mesmo ficarei muito feliz, um grande espelho — disse.

Presença viva nos corações

Zilda deixou de morar em Forquilhinha aos 11 anos, quando se mudou para Curitiba (PR), mas desde que passou a trabalhar pela pastoral levou o nome do município onde fosse. Os moradores ficaram chocados com a notícia da perda da filha ilustre.

O prefeito Vanderlei Alexandre decretou luto oficial de três dias, e a população, consternada, puxava na memória recordações sobre Zilda Arns.

A comerciante Sandra Arns, 45 anos, teve a emoção aflorada com a morte da sanitarista. Para Sandra, sua morte foi uma grande perda para Forquilhinha, que esteve em todos os lugares do mundo nas palavras de Zilda. Para vida, o principal ensinamento da líder que Sandra leva é o do amor ao próximo:

— Não tem como esquecê-la. Me emocionei com a morte, chorei muito. Quando me contaram me arrepiei. Ela é abençoada, é diferente só de olhar. Vai fazer muita falta — afirma a comerciante, que presenciou palestras e depoimentos dados por Zilda nas missas em que participava em Forquilhinha.

Apesar da ausência de Zilda daqui para frente na pastoral, o comerciante Nelson Dassoler, 61 anos, acredita que os companheiros dela conseguirão dar continuidade ao trabalho espalhado pelo mundo.

— Fiquei triste pela forma como ela morreu, mas foi em missão, fazendo o que mais gostava, com amor e carinho. Ela cumpriu seu papel — resume Dassoler.

Zilda costumava ir a Forquilhinha duas vezes ao ano, uma por semestre, apenas para visitar as irmãs. Poucas vezes os moradores da cidade a viam. E não deverão ter a oportunidade de ser despedirem da conterrânea pessoalmente, apenas em orações.

Os parentes residentes em Forquilhinha acreditam que Zilda terá o corpo velado e sepultado em Curitiba (PR), onde já estão sepultados o marido e uma filha.

Morada preservada

Enquanto morou em Forquilhinha, a família de Zilda mudou-se três vezes. A última casa, na área central, é mantida pela família. No mesmo terreno moram os sobrinhos Maria Margarete Arns, 38 anos, e o marido Eduardo Arns, 39. A casa, construída em meados de 1945, é preservada até com a cor e os detalhes originais — exceto móveis e utensílios — pela atual moradora, a mãe de Eduardo, Lídia Maurícia Michels Arns.

De acordo com Maria Margarete, nessa casa Zilda teria morado pouco, era onde passava alguns finais de semana e as férias porque estudava em Curitiba (PR). Na quarta-feira, levou a filha recém-nascida — chamada Helena em homenagem à mãe de Zilda — para acalentar Maria Hilda, Maria Helena e Maria Gabriela, esta que está doente.

— No início não acreditei na morte dela porque não sabia que ela estava lá. Faz tempo que não a vejo. Hoje (quarta-feira) viemos na pastoral para ajudar a acalmar minhas tias e saber mais notícias — afirma Maria Margarete.

Legado da família

A Casa Mãe Helena, onde se concentra o trabalho de Zilda Arns, é o seu legado, também uma homenagem a sua mãe. A irmã Maria Hilda conta que quando surgiu a ideia de construir a casa Zilda cederia o terreno com duas condições: que a casa tivesse estilo alemão e levasse o nome da mãe.

— Zilda era a xereta da mamãe. Era em frente a esse terreno que mamãe passava diariamente para ir à igreja. Ela era líder pastoral na época sem saber, quando não se falava nesse assunto, Zilda herdou isso - diz Maria Hilda orgulhosa.

Todos os esforços da sanitarista eram para manter a pastoral. Na sede regional que construiu em Forquilhinha ocorre a capacitação de lideranças comunitárias que fazem atendimentos mensais nas casas das famílias cadastradas na região - 25 municípios. A tarefa é acompanhar o desenvolvimento e crescimento das crianças e das gestantes.

— No início pensei que os pobres não chegariam na casa porque ela é muito bonita, mas não. Atendemos a todo tipo de pessoa dia e noite. Aqui fazemos também a multimistura para combater a desnutrição — esclarece a irmã.

Por mês são atendidas na Casa Mãe Helena — Centro Regional de Treinamento da Pastoral da Criança, 13 mil crianças e 800 gestantes.

 
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