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Festival de Cinema  | 09/08/2011 17h09min

Roger Lerina comenta os longas "Las Malas Intenciones" e "País do Desejo"

Filmes foram exibidos na segunda-feira durante o Festival de Cinema de Gramado

Roger Lerina  |  roger.lerina@zerohora.com.br

Las Malas Intenciones


Foto: Divulgação

Os problemas com a qualidade da projeção dos filmes voltaram na segunda-feira a perturbar a competição de longas estrangeiros. Se no domingo o mexicano A Tiro de Piedra teve que ser exibido em um DVD de serviço, com um texto em marca d’água permanentemente na tela — a distribuidora não teria enviado a cópia em 35mm a tempo —, o peruano Las Malas Intenciones (2010) também sofreu o mesmo problema de atraso e foi projetado em um vídeo com baixíssima qualidade. A história da diretora Rosario Garcia-Montero driblou o problema e prendeu o público — mas a fotografia de Rodrigo Pulpeiro certamente não resistiu à imagem lavada.

Coprodução com Alemanha e Argentina, Las Malas Intenciones acompanha a história de uma garotinha peruana esperta e inquieta que usa a imaginação para lidar com a ausência dos pais e a conturbada situação do país — a trama é ambientada em 1982, período em que o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso promovia ações de sabotagem como a derrubada de estações de energia elétrica. Cayetana (a graciosa menina Fatima Buntinx) mora em uma confortável casa afastada da cidade — mas as constantes viagens da mãe e do padrasto obrigam-na a conviver mais com os empregados do que com a família. A pequena preenche seus momentos de solidão fantasiando episódios com os heróis nacionais que descobre nos livros da escola. Essa frágil tranquilidade existencial é abalada com o anúncio de que Cayetana vai ganhar um irmãozinho — e a protagonista imagina então que irá morrer no dia em que o bebê nascer.

Las Malas Intenciones lembra um pouco o filme francês O Pequeno Nicolau (2009), em que um garoto também teme que o nascimento do irmão vai roubar-lhe o amor dos pais — o clima do drama peruano, porém, é mais melancólico e cinzento. Apesar do ritmo excessivamente lento em certos momentos, o filme se sobressai como retrato tocante de uma infância marcada pela dor muda do desamparo emocional e da falta de referências.


País do Desejo


Foto: Divulgação

Realizador de ótimos longas como Baile Perfumado (1997), codirigido com Lírio Ferreira, e Deserto Feliz (2007), Paulo Caldas é um dos nomes de destaque da empolgante turma de cineastas pernambucanos que despontou em meados da década de 1990. País do Desejo (2011), exibido segunda-feira na competição de longas brasileiros, foge totalmente do estilo das produções anteriores de Caldas — opção ousada e louvável. No seu novo filme, o diretor arrisca-se no melodrama, que privilegia as ações grandiloquentes e os sentimentos arrebatados. Trata-se sempre de um desafio ao artista embrenhar-se por esse gênero em busca de um tom maior para sua história. Infelizmente, País do Desejo sucumbe no meio do caminho aos perigos desse tipo de drama descabelado.

Na história, a pianista Roberta (Maria Padilha) luta contra uma grave doença renal ao mesmo tempo em que insiste em seguir com a carreira de concertista. Depois de desmaiar durante uma apresentação, a solista acaba conhecendo o médico César (Gabriel Braga Nunes) e seu irmão, o padre José (Fábio Assunção). Roberta e José apaixonam-se, enquanto o sacerdote confronta a Igreja ao colocar-se contra a excomunhão de uma menina de 12 anos, sua mãe e os médicos que realizaram um aborto na garota, estuprada pelo tio. (O episódio é inspirado em um fato semelhante ocorrido em Pernambuco em 2009.) Disposto a salvar a vida de seu novo amor, o padre decide doar um rim a Roberta.

O roteiro de País do Desejo não dá conta de articular o registro melodramático de maneira a seduzir o espectador: a despeito do caráter impetuoso do casal de personagens, o súbito enamoramento de Roberta e José e os eventos detonados por esse amor proibido são apresentados afoitamente — negando ao público um desenvolvimento narrativo que poderia levá-lo a compreender melhor essa paixão. Ao mesmo tempo, a fotografia e a direção de arte apresentam Olinda e Recife de maneira asséptica e quase desbotada, em contradição com o calor do romance encenado — sem, no entanto, afirmar-se como um contraponto visual crítico da história. Já o que é apresentado como um elemento de transgressão em País do Desejo — a provocante e jovem enfermeira japa que chega de minissaia na residência da família da elite pernambucana para cuidar da matriarca em coma — termina não exercendo nenhuma função dramática na trama e tornando-se uma presença constrangedoramente gratuita.

 

ZERO HORA
 

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