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 | 20/11/2009 09h34min

Agricultor cego é exemplo de superação no RS

Antônio Svolinski prospera no cultivo de frutas e é referência em produtividade

Marielise Ferreira

Todos os dias seriam noites na vida de Antônio Svolinski, 30 anos, não fosse sua imensa vontade de fazer diferente. Cego desde os 16 anos, ele transformou campos ociosos em pomares cheios de frutas. Usando uma taquara de um metro e meio como instrumento de trabalho, superou a média de produtividade da região de Erval Grande, no norte do Rio Grande do Sul.

A cegueira de Antônio teve início aos cinco anos de idade, numa série de acidentes e doenças. Por conta disso, ele só conseguiu estudar até a terceira série do Ensino Fundamental. Ajudou os irmãos no cultivo de milho e fumo na propriedade de 22 hectares e descobriu sua vocação nos frutos.

– No começo, eu ajudei e, aos poucos, ele assumiu tudo sozinho – conta o pai, Ambrósio Svolinski, 64 anos.

Munido de botas de borracha para evitar acidentes, Antônio circula pela propriedade com a taquara sempre à frente vistoriando o caminho. Com os outros sentidos aguçados, é capaz de intuir a presença de pessoas e animais. No começo da atividade, pensou em treinar um cão para ser seu guia na propriedade, mas desistiu da ideia.

– Se estou sozinho, consigo ouvir o rastejar de uma cobra, mas, se o cão está junto, posso confundir o barulho – justifica.

É com uma batida da taquara nos pés de frutas que o agricultor identifica a espécie. O toque nas folhas revela a variedade da fruta. Só de laranjas, são 2 mil pés, de quatro variedades. Antônio também cultiva 500 pés de ameixa e 300 de nectarina, que terão este ano a primeira produção. Para aproveitar o espaço entre as árvores, plantou moranga cabotiá.

O trabalho cresceu tanto que neste ano o produtor precisou contratar peões para auxiliar na colheita da laranja: 55 toneladas. Como boa parte dos pés são novos, a produção vai aumentar na próxima safra.

– Este ano, meu lucro vai ser perto dos R$ 7 mil. Escolhi esta área porque é muito rentável – conta Antônio.

Dedicado, o produtor não passa um único dia sem vistoriar os pomares. Passando a mão nos troncos, ele percebe se a árvore está doente. Ao tocar as folhas, identifica a presença de pragas. Quando não consegue descobrir o problema da planta, corta um galho e leva ao escritório da Emater de Erval Grande. A propriedade dos Svolinski fica a 11 quilômetros do centro de Erval, no fundo de um vale ao qual só se tem acesso por uma estrada que em alguns pontos não passa de uma trilha em meio à mata. Mas o sucesso de Antônio o fez conhecido na região.

– Ele discute as técnicas de produção e conhece a história de cada pé de fruta que plantou – afirma Nilton Cipriano Dutra de Souza, assistente técnico regional da Emater.

Antônio escolheu o controle fitossanitário para suas plantas. O resultado são frutas bonitas, com boa aceitação no mercado. Com pomares novos, ele já produz a média da região para pomares antigos, com 25 toneladas de laranja por hectare.

Mas nem tudo é trabalho na vida de Antônio. Ele reserva no seu dia tempo para o lazer, seja assistindo às missas, jogando bocha e até tocando gaita para animar a família. E também tem planos além do pomar:

– Sei que os cegos dão excelentes massagistas, meu sonho é fazer um curso para ajudar os outros nas horas extras.

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