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54ª Feira do Livro  | 13/11/2008 07h30min

Edição de "Veias Abertas da América Latina" completa 30 anos no Brasil

Eduardo Galeano vem hoje a Porto Alegre ainda gozando do sucesso de seu livro mais famoso

O livreiro carioca Marcus Gasparian era pequeno, mas lembra bem de um amigo de seu pai que vez por outra visitava a casa da família, no início dos anos 70. Eduardo Galeano era assíduo colaborador do jornal Opinião e da revista Argumento, duas publicações que Fernando Gasparian, o pai de Marcus, tentava manter em ambiente hostil, próximos às nuvens da ditadura militar.

Foi neste contexto, numa relação de parceria, que o escritor uruguaio vendeu ao amigo a publicação da edição brasileira de Veias Abertas da América Latina, livro que faria a cabeça de várias gerações de brasileiros.

Marcus, que hoje dirige a editora do pai, falecido em 2006, explica que aqueles tempos eram difíceis, mas também mais simples, inclusive no mundo editorial, que ainda não estava tão acostumado aos leilões para disputa de direitos de tradução entre outros macetes do mercado profissional:

- Naquela época a coisa era mais romântica e bonita. Havia muito mais contato pessoal, reuniões políticas, você era apresentado a um autor e outro. Logo que foi publicado já se tornou um best-seller. Temos uma dívida de gratidão com  Galeano.  

As Veias Abertas da América Latina (Paz e Terra, 307 páginas, R$ 50) foi publicado em português em 1978 - sete anos depois da publicação original - e até hoje representa um dos carros-chefes das vendas da Paz e Terra. O livro está em sua 48ª edição brasileira, e anualmente ganha de duas a quatro tiragens novas, cada uma delas de 3mil a 5 mil exemplares.

- O público leitor ainda é o mesmo de 30 anos atrás, que é basicamente de estudantes, professores, jornalistas e políticos - conta Gasparian.

A primeira tradução do livro, feita por Galeno de Freitas, sofreu poucos reparos ao longos dos anos. No final dos anos 1980, a edição ganhou prefácio de Isabel Allende. Galeano publicou vários livros desde então, o mais recente é Espelhos - Uma História Quase Universal (L&PM, 376 páginas, R$ 42), que fala sobre a história da humanidade do ponto de vista dos desvalidos, e que terá sessão de autógrafos hoje, dentro da programação da Feira do Livro (leia o serviço ao lado).

Mas As Veias Abertas da América Latina se firmou como referência do imaginário latino-americano, quase como a imagem de Che Guevara ou o seriado Chaves e Chapolim. Virou até letra da música no rock da banda argentina Los Fabulosos Cadillacs. Do ponto de vista acadêmico, retirada de seu contexto original, segundo especialistas, a obra já não se sustenta com tanta autonomia. Como um documento histórico, desperta novos leitores e também lembranças nos antigos. O jornalista e escritor Flávio Tavares é um deles:

- Eu li esse livro no exílio no México, nos anos 70. Encontrei Galeano em 1964, em Brasília, ele se hospedou na minha casa. Eu era colunista da Última Hora e, como não podíamos escrever aqui, eu dei para ele tudo que se sabia do golpe.

Galeano publicou num semanário do Uruguai. Nessa série de reportagens dele se chamou pela primeira vez o Marechal Castelo Branco de "ditador de plantão".

O que eles dizem sobre As Veias Abertas da América Latina

"Nós vivíamos num período ditatorial, este foi um dos primeiros livros que realmente rompeu essa censura. Foi um tipo de revelação. Eu tinha voltado da França, e a luta naquele momento era em duas frentes: uma era frente internacional, sobre o Vietnã. A outra, que sempre foi a que nos dominou, era a da própria América. Isso coexistiu com a morte do Guevara, que destruiu muitos sonhos. Nos sobraram os versos do Pablo Neruda e Galeano. As Veias Abertas contribuíram para nos reforçar a confiança na ideologia latino-americana. Ele fez um bem enorme num momento dificílimo, numa crise ideológica. A obra está intacta. As veias continuam abertas." Alcy Cheuiche, escritor.

"Este processo de pilhagem que ocorreu nos países da América Latina em função da cultura de colonialismo até um passado recente era relevante. num mundo hoje em dia mais globalizado, não diria que seja tão relevante essa questão. No mundo globalizado, mudou a sistemática como um todo. Na época em que o livro foi escrito, e aí lembrando que os regimes políticos eram diferenciados, você tinha ditaduras militares, tinha visão mais acirrada entre norte e sul, tinha resquícios de Guerra Fria. Contextualizado para a época, foi altamente relevante. Hoje em dia escrever e tentar analisar o atual contexto econômico e social sob a ótima dos anos 70, eu diria que não. Historicamente é muito relevante, recomendo para meus alunos." Fernando Ferrari Filho, professor de Economia da UFRGS.

"Não é apenas uma reinterpretação da história da América Latina, o livro é uma obra nova sobre a dominação e sobre a própria história. Mais do que uma revisão, acrescentou e foi uma espécie de sol, desculpe o lugar comum. O Galeano entrou, mesmo não sendo um historiador, em labirintos desconhecidos pela história oficial. As Veias Abertas têm mais de 30 anos e são ainda um documento mais do que atual, para entender o futuro." Flávio Tavares, jornalista e escritor.

Serviço
14h30min - Tenda de Pasárgada - Contação de história baseada na obra de Eduardo Galeano. Com Luciane Panisson.
19h30min - Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa - Ruy Carlos Ostermann entrevista Eduardo Galeano
20h30min - Auditório Dante Barone da Assembléia Legislativa - Eduardo Galeano autografa Espelhos - Uma História Quase Universal
> Veja a programação completa no hagah

GABRIEL BRUST, ZERO HORA
Reprodução  / 

Edição da obra na Brasil completa 30 anos
Foto:  Reprodução


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