Festival de Cinema | 14/08/2008 07h39min
Evandro Elias, 21 anos, viveu na noite de terça-feira a realização de um sonho. Sozinho, mas sorridente e com um olhar determinado, ele atravessou o tapete vermelho rumo ao Palácio dos Festivais. A noite era de estréia de seu mais importante trabalho como ator, o longa Netto e o Domador de Cavalos, de Tabajara Ruas, um dos indicados ao troféu Kikito. Evandro teve a honra de interpretar, no filme que se passa no período inicial da Guerra dos Farrapos, um dos personagens mais tradicionais da cultura gaúcha, o Negrinho do Pastoreio.
No trajeto rumo ao cinema, o público que enfrentava a chuva e se aglomerava na Rua Coberta ficou em dúvida sobre quem seria aquele jovem ator negro.
– Acerola! Laranjinha! Rocco! – foram alguns dos gritos que Evandro ouviu pelo caminho.
Ser confundido com outros atores não incomodou o jovem que, coincidentemente, saiu da Vila Farrapos, em Porto Alegre. Filho de empregada doméstica, Evandro descobriu a arte da atuação quando buscava um local onde pudesse fazer aulas de canto.
– Queria ser músico, mas não tinha condições de pagar uma aula. Em 2003, descobri que a entidade Congregação da Missão Província do Sul oferecia cursos gratuitos de canto, teatro e expressão corporal para adolescentes da Zona Norte e comecei a participar.
Nas aulas, percebeu-se que Evandro levava mais jeito para a atuação.
– Montamos uma adaptação de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Nunca vou esquecer o dia da apresentação, 19 de abril de 2005, no Teatro Renascença. A primeira vez que pisei em um palco.
Logo, deu início a um curso de interpretação com o ator Artur Pinto.
– Fiquei só um mês e depois não tive mais como bancar. Mas rendeu a indicação para um teste em Netto.
Aprovado para o papel, Evandro buscou inspiração na bisavó Eva Soares, 90 anos, filha de escravos, para compor o personagem. As filmagens ocorreram no final de 2005.
– Para viver o Negrinho, lembrava da emoção de minha bisavó ao me contar aquelas histórias de sofrimento do povo negro e também do que eu sentia quando as ouvia. Naqueles momentos, era como se eu fosse um escravo. Além disso, sou espírita e me identifico com este lado religioso da escravidão – relembra o jovem ator.
Interpretar o Negrinho foi o pontapé inicial da carreira de Evandro, que integrou recentemente o elenco da peça Bailei na Curva e atuou no curta Por Que te Convém, de Thelmo Corrêa.
– No curta, interpreto um cara que é preso ao roubar um terno. Ele precisava do traje para participar de uma entrevista de emprego.
A música, razão pela qual tudo começou, continua na vida de Evandro:
– Divulga o nome da minha banda, a Academia do Pagode. Sou o vocalista e fazemos shows em Porto Alegre.
Evandro Elias começou curso de interpretação, mas precisou desistir pois não tinha como pagar as aulas
Foto:
Jefferson Botega
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