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Educar ou...

Flávio Tavares*

A vida tem três estágios, "passado, presente e futuro" e, se algum deles falha, tudo pode vir abaixo. Lembro-me disto em função da campanha que este jornal e demais meios de comunicação da RBS lançaram no Rio Grande e em Santa Catarina, "A Educação Precisa de Respostas". O lema obriga a indagar e a sonhar. Nunca é demais despertar para os sonhos e, neles, pensar e raciocinar para que o sonhado vire caminho para a realidade. Não há respostas, porém, sem debater e esmiuçar, concordar e discordar, opor opiniões, dissecar números. E, mais ainda, observar com isenção, sem preconceitos, para o novo não virar velho.

A ditadura da unanimidade, que ama o aplauso e odeia o debate, não tem resposta para nada. Menos ainda na educação, processo lento, iniciado ao nascer e que só se conclui na morte. Aprendemos sempre, em maior ou menor grau, até o suspiro final.

Sim, pois a educação não está apenas na sala de aula. A escola é o fundamento e, durante séculos, foi a educação em si. A "instrução" abarcava o mundo do saber. Mas o mundo era tímido. As viagens, lentas, em ferrovia ou barco. O telégrafo era a rapidez máxima. Não havia a ansiosa comunicação instantânea atual. Até a fala era comedida. Fora da escola, só as religiões formavam consciências. E sem exigir pagamento...

Este era o mundo de quando minha avó paterna, Malvina Hailliot, rebelou-se em Porto Alegre contra a palmatória na escola e a mandaram para o interior de Lajeado, "de castigo". Ou de quando, em Estrela, minha tia-avó materna, Idalina Porto, falava alemão para alfabetizar os alunos em português. Meio século após, em 1963, quando fui lecionar na Universidade de Brasília, o mundo começava a mudar.

Hoje, a educação entra casa adentro, em cores, pela TV. Em vez de ideias ou conceitos, traz sons estridentes, música sem melodia, gritaria por aberrações ou escândalos. Ensina a beber cerveja e refrigerante. Anárquica mas direta, suplanta a escola convencional.

Em palestras em universidades, pergunto sempre quem é o ministro da Educação. Chovem nomes e ninguém acerta! Todos riem quando digo que os "ministros" são o Sílvio Santos, a Xuxa, o Bial, o Faustão, a Gimenez, o Gugu e outros. E, além de todos, o Ratinho, que, ao ter voz, é mais grotesco que o brutal MMA de socos e pontapés.

A extravagância manda. Educa-se para o espetáculo grosseiro do gesto, fala ou ato.O absurdo da invencionice domina a internet e leva os jovens a propagar a mentira. Que poder tem a palavra do professor em aula, comparado ao ardor das futricas do Facebook e similares?

A resposta estará em levar o computador à escola fundamental para "competir" com a internet? Só dotar o ensino de novas tecnologias não difere muito de entregar um automóvel a uma criança de oito anos. Ou de considerá-la apta para casar-se ou se iniciar sexualmente só por ter os órgãos genitais perfeitos e no lugar onde devem estar. O computador é um instrumento para quem sabe, não um fim em si. Primeiro, é preciso saber. Einstein não teve computador. Nem Steve Jobs ou Bill Gates, quando guris.

Ontem, hoje e amanhã: "educar ou perecer"! Busquemos as respostas.

  • * Jornalista e escritor

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Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho

Prêmio RBS de Educação

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