Um plano para defender o Rio Grande
Dione Kuhn |
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O amargo regresso de Jango / O acordo / Rio Grande se prepara para repelir ataque / Crise tirou dinheiro de circulação no Estado | |||||||||
Motim impede bombardeio
Uma ordem expedida pela Aeronáutica, na madrugada do dia 28 de agosto, para que aviões fizessem rasantes sobre o Palácio Piratini provocou uma rebelião de sargentos e suboficiais na Base Aérea de Canoas. No quarto dia da série sobre a Legalidade, Zero Hora reconstitui o episódio. O avião Caravelle pousou
no Aeroporto Salgado Filho às 20h20min do dia 1º de setembro
trazendo um futuro presidente da República decidido a governar
com poderes limitados. |
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O acordo
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Rio Grande se prepara para repelir ataque
As informações cada vez mais desencontradas que chegavam ao Palácio Piratini e ao Quartel-General (QG) do Exército indicavam o deslocamento de tropas federais para o Estado. A Brigada Militar, por meio de seu comandante, coronel Diomário Moojen, havia pedido ao general Machado Lopes que colocasse os soldados da sua corporação no ponto mais nevrálgico do Estado. A posição assumida pelo 3º Exército levou o ministro da Guerra, Odílio Denys, a nomear o general Cordeiro de Farias para o lugar de Machado Lopes. O oficial não chegou a entrar em solo gaúcho, pois soube antes que seria preso. O 3º Exército temia a entrada da Marinha - principalmente do 5º Distrito Naval, com base em Santa Catarina - e da quase totalidade da Aeronáutica. O governador do Estado vizinho, Celso Ramos, estava acuado. As Forças Armadas pressionavam o governo catarinense a se declarar contra a posse de João Goulart na Presidência. Uma das principais frentes militares foi deslocada para o Litoral Norte. Batalhões da Brigada Militar ficaram guarnecendo a região de Torres, próximo ao Rio Mampituba, e o Exército alcançou a fronteira com Santa Catarina. Sob chuva intensa, os soldados passaram 10 dias abrindo trincheiras para manter a tropa em movimento. As notícias indicavam a aproximação do temido porta-aviões Minas Gerais. - Estávamos ali com a coragem, não mais do que isso. Se inventassem de nos atacar, nossas trincheirinhas iriam pelos ares. Hoje sabemos disso - lembra o coronel da reserva Leovaldo Rodrigues Nunes, 64 anos. Numa dessas noites de vigília chegou a notícia de que finalmente chegara o momento do confronto entre legalistas e forças federais. Pelas informações obtidas pelo comando militar da Legalidade, "mar estava grosso", ou seja, apinhado de fuzileiros navais. - A invasão não veio, mas entrou para história da BM como sendo a Lenda do Mar Grosso - conta o tenente-coronel reformado Antônio Silveira da Silva. No regresso da missão, os soldados da Brigada Militar foram homenageados em Porto Alegre pelas autoridades com um desfile pela Avenida Borges de Medeiros. |
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Crise tirou dinheiro de circulação no Estado O Rio Grande do Sul viveu tempos de guerra durante a Campanha da Legalidade. As relações deterioradas com o governo provisório de Ranieri Mazzilli, sustentado pela cúpula das Forças Armadas, deixou o Estado em meio à crise, com escassa reserva financeira. O dinheiro depositado nos cofres das instituições federais - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Delegacia Fiscal - foi transportado para Brasília. A escassez de moeda levou o governo gaúcho a se utilizar de uma lei sancionada pelo próprio Brizola, em 1959, que autorizou o Executivo estadual a emitir Letras do Tesouro. Era um sistema de títulos de curto prazo e que valia para pagamento de impostos, taxas e dívidas fiscais com o Estado. Numa reunião no Palácio Piratini com representantes da associação comercial, das federações rural e da indústria, da Assembléia Legislativa, do Judiciário e da Igreja ficou decidido que as letras passariam a ser impressas em maior número e aceitas como moeda no Estado. Só poderiam ser utilizadas, porém, para pagamento à vista. Quando chegou a Montevidéu, Jango pediu por telefone a Brizola que trouxesse o banqueiro e ex-embaixador nos Estados Unidos Walther Moreira Salles a Porto Alegre. Tão logo o banqueiro desembarcou na Capital, Brizola pediu-lhe que fosse mandado de volta o dinheiro retirado dos bancos federais, medida tomada logo após a posse de Jango. A indicação de Moreira Salles para o Ministério da Fazenda era uma tentativa de acalmar o mercado internacional, que acompanhava sobressaltado a crise desde a renúncia de Jânio Quadros. Os Estados Unidos viam com preocupação a parcela esquerdista da frente política que apoiava a posse de Jango e a defesa do vice-presidente feita pelos governos soviético e cubano. |
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