eleições 2008

 

 
6 de maio de 2024
 

Interior | 11/09/2008 | 00h44min

Ivan Naatz, candidato a prefeito de Blumenau, fala sobre suas propostas

Político do PV falou aos jornalistas do Santa

O candidato do Partido Verde (PV), Ivan Naatz, gosta do confronto. Na entrevista concedida ao Santa dia 22 de agosto, partiu para o combate apresentando propostas, mas também alfinetando os adversários. Como não poderia deixar de ser, elegeu a questão ambiental como plataforma central de seu discurso.

Naatz concilia a campanha eleitoral com o trabalho no escritório de advocacia. Chegou meia hora atrasado na entrevista porque estava em uma audiência. Não deu tempo nem de passar no escritório para trazer as anotações que havia preparado para a entrevista. Não precisou.

Falou de sua rápida atuação na Assembléia Legislativa, criticou a baixa representatividade que o Vale do Itajaí tem no parlamento, esclareceu o programa de governo do PV e derreteu-se em elogios ao candidato a vice-prefeito Angelo Roncáglio (PPS). Sobre a ousadia de tentar chegar à prefeitura, quando uma cadeira na Câmara de Vereadores estaria mais ao alcance, respondeu: 

— Acho que a vereança seria frustrante pra mim.

Giovana Pietrzacka - Uma pesquisa do Instituto Mapa, encomendada pelo Santa, mostrou que a saúde é a grande preocupação do eleitorado. O que o senhor pretende fazer para acabar com a falta de médicos?

Ivan Naatz - Nós temos conversado com muitos médicos. A gente já sabia, tinha essa informação por pesquisas particulares que tivemos acesso. A saúde é o maior gargalo do município. E dois problemas são crônicos nessa administração. O primeiro, diz respeito à gerência política. O nosso corpo clínico entende que devíamos ter uma gerência técnica. É uma reclamação muito grande dos médicos de que a gerência hoje é política. Não há descentralização da saúde. O segundo ponto, segundo os médicos, diz respeito à falta de uma estrutura de trabalho específica. Eu, uma vez por outra, tô reformando. Quem conhece meu escritório, sabe. Tô botando vidro, quebrando, arrumando... para ver se a gente tem algo mais prazeroso no trabalho. Vocês também. Os médicos, não. Ou não têm caneta ou não têm papel. Manda fazer o exame e o exame demora tanto que, quando ele vem, não sabe mais nem o que o cara tinha. Então, é uma frustração da classe médica nesse sentido. E o terceiro ponto é relativo ao salário. É o maior gargalo. O médico contratado da rede inicia a carreira com R$ 1,4 mil para trabalhar lá no final da Velha, lá no final da Vila Itoupava, entende? Não tem ninguém que agüenta.


Vather Ostermann - Vinte horas dá meio expediente.

Naatz - Meio expediente. É que na verdade não fazem 20 horas, fazem aquele atendimento de 10 pessoas, né?


Valther - E caem fora..

Naatz - Caem fora, né? O cara ganha R$ 1,4 mil reais. No primeiro mês ele vai, no segundo mês ele acha que aquilo é um absurdo e nos 45 dias ele não vai mais. Resultado: falta médico no posto A. O posto A não tem médico. Chega lá no posto B: sobrecarregado. O médico sobrecarrega, pega atestado, não vem mais. E assim é uma cadeia. O secretário sempre tá filiado a uma partido, a um grupo, a um time...


Valther - No seu governo não estará...

Naatz - Olha, nosso desejo é que a administração fosse técnica. Até porque nós não temos compromisso com nenhuma legenda partidária, nenhum grupo de médicos, nenhuma entidade.


Valther - O problema salarial também não seria uma dificuldade para trazer um técnico?
Naatz - Não, porque o secretário ganha mais. O técnico seria o secretário e o secretário ganha R$ 7 mil reais, que também é pouco.


Francisco Fresard - Mas hoje não tem uma médica na Secretaria de Saúde?

Naatz - Tem uma médica, mas é filiada a um partido político e tem militância partidária. Esse é o problema. E depois, só pra concluir a questão da saúde, é uma vergonha Blumenau não ter hospital regional. Isso é uma vergonha pra classe política desse município. Nós pagamos a conta de Timbó, de Indaial, de Pomerode, de Benedito Novo, de Gaspar, de Ilhota...


Valther - E o hospital universitário, que tá lá?

Naatz - O universitário, vocês mesmo já noticiaram, ficou um ano e meio um aparelho de mamografia parado lá, dentro de uma caixa. A Furb quer fazer, não há incentivo para a construção. Nossa representação política, e eu fui deputado agora, é zero. Somos zero em representação política tanto na Assembléia quanto nos outros órgão federais. Não temos força política nenhuma. Quando se junta aquela bancada do Sul do Estado, não tem ninguém que segura. Arrasa. Vocês conhecem o Juarez Ponticelli, do PP, e o (Manoel) Motta, do PMDB. Não se falam. É uma representação por quebra de decoro por mês, um contra o outro. Eles se acusam, eu vi. Agora, se for pra fazer uma ponte lá em Urussanga...

Maicon Tenfen - Eles se abraçam.


Giovana - Por que o Vale não consegue ter isso também? Teve 12 deputados recentemente...

Naatz - Primeiro, pela questão de suplência. Tu sabes que o período é muito curto. Não dá pra você nem respirar. É até uma injustiça essa colocação. Não tem como, por mais que você tente fazer. E depois, quem manda na bancada é o governo.

Valther - Isso não distorce a representatividade?


Naatz - Isso não tem como, se tu tá com bancada no governo...

Valther - Não tem saída.

Naatz - Não tem saída. Se você tem empregados no governo, você é empregado do governo, tem um monte de filiados no governo, esses cabos eleitorais, esses comissionados. Quem diz o que um deputado do governo vai fazer é o governo.


Clóvis Reis - Qual é a lição que o senhor traz dessa breve passagem pela Assembléia?

Naatz - Olha, eu posso dizer que é muito prazeroso. Eu tive orgulho. Aí eu queria fazer uma crítica a vocês aqui do Santa. Eu consegui trazer para o Hospital Santa Isabel R$ 1,98 milhão dividido em quatro parcelas. Então, eu tenho orgulho de ter esse documento comigo. Lamentavelmente, nós não vimos nenhuma vírgula desse documento no jornal. E se eu mandar pra cá, vocês não vão publicar porque agora é época de campanha. Não tem como.


Giovana - Qual projeto marcou esse período na Assembléia?

Naatz - Foi o projeto que a gente apresentou... não tenho o nome agora... que regulamenta as licitações do Estado de Santa Catarina em questões ambientais. Por exemplo, hoje quando você contrata uma empresa, ela pode ter sido condenada por crime ambiental, seus diretores podem ter condenação por crime ambiental.


Valther - É uma espécie de ficha suja da...

Naatz - Da questão ambiental, né? É a licitação ambiental. Nesse projeto, nós proibimos a utilização de madeira de mogno, de qualquer produto que esteja na lista de extinção. Nós não teremos mais madeira nos órgãos públicos, por exemplo.


Francisco - Ou madeira de reflorestamento.

Naatz - De reflorestamento. É um projeto muito bacana. Quero registrar aqui que não fui eu que fiz, tá? É um projeto que a gente trouxe do Estado do Ceará, que é exemplo brasileiro em termos de legislação ambiental.


Francisco - Aproveitando que entraste nessa seara da legislação ambiental. Recentemente eu publiquei na coluna (Mercado Aberto) um impasse que existe na cidade com relação a Ministério Público/Ibama e prefeitura. Ou seja, a prefeitura dá licença para construções em uma área de...

Naatz - Não condiz com o Código das Águas.


Francisco - Exatamente. Há um impasse entre legislação municipal e o Código das Águas de 1965, que ainda está sendo levado em conta...

Naatz - Quando cheguei na Assembléia, e eu cheguei na Semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, tinha a notícia de que o governador iria apresentar o Código Ambiental do Estado naquela semana, dia 5 de junho. Lamentavelmente, eu saí da Assembléia e o governador não apresentou ainda. Seria a oportunidade ímpar de corrigir alguns equívocos. Mas nós precisamos saber se o governo do Estado, se o município, tem legitimidade pra enfrentar a lei federal. Nós vamos entrar numa discussão jurídica. Agora, que é preciso refletir sobre umas ações... não dá mais, um município como Blumenau, (construir a) 100 metros do rio inviabilizaria toda a cidade.


Francisco - Mas há abusos também, né?

Naatz - Sim.


Valther - Mas o que tá feito, tá feito...

Naatz - Eu desci o Ribeirão Garcia de caiaque duas vezes. E quem gosta de esporte, eu recomendo para qualquer um. Do lado da captação de água da Samae, a água vem praticamente limpa, pura pra consumir. Cem metros pra frente nós temos o primeiro foco de esgoto. Dali, a cada 100 metros tem um foco de esgoto. Quando chega no Canto do Rio, a água é cristalina, todavia, contaminada. E isso me deixa muito, muito triste. Agora, não é só isso. Descendo o Ribeirão Garcia de caiaque, eu pude deparar com paredões dentro da água. Paredões. O rio bate na parede da casa do sujeito, no muro, faz aquele contorno, como se fosse...


Valther - Intromissão no leito natural.

Naatz - Isso não é uma, nem duas, nem três. São várias. Dentro do rio. Onde tá o poder de polícia?


Valther - Mas nessa condição, tanto o município quanto qualquer lei autoriza a derrubada.

Naatz - Tem que meter o trator e derrubar. Ah, se eu fosse prefeito! Vocês sabem, eu sou meio maluco, eu mando derrubar. (risos) Então, e olha só a experiência! Você encontra marreca d'água, marreco da água, marrequinha, garça. Você encontra peixe, muito peixe, muita tilápia.


Valther - E as nossa capivaras, né?

Naatz - Nossos animais... cutia. E aí vem uma saracura, que não entra na água nem voa. O que acontece: ela chega no paredão, não tem como seguir. Então ela não pode circular onde o resto do alimento dela está. Isso é um crime, que a gente faz contra todos os animais. Vocês deviam ter a experiência. Devia ter a condição de filmar para vocês verem. Então são coisas que nós precisamos corrigir no Código Ambiental. O cidadão construiu em cima do rio, tem que arrebentar o muro dele. Sabe por quê? Para termos o que a gente chama de punição pedagógica. Hoje o cara constrói em cima de ribeirão, vai morar dentro e ponto final. Não acontece nada.


Clóvis - Você tem uma candidatura que é um páreo duríssimo, né? Por outro lado, se você saísse a vereador teria uma eleição praticamente garantida. Por que tu fizeste a opção de sair candidato a prefeito?

Naatz - Primeiro, porque meu escritório de advocacia tem uma clientela muito boa, eu ganho bastante dinheiro lá. Acho que a vereança seria frustrante pra mim. Eu não conseguiria implantar o que eu desejaria fazer. Então seriam dois aspectos: primeiro, não dá para ser vereador sem deixar meu escritório de advocacia. Ele exige muito. Segundo, porque seria frustrante, eu não conseguiria seguir adiante do nível da nossa Câmara de Vereadores. Eu não quero ser mais do que ninguém, mas não é novidade que a nossa Câmara de Vereadores não é muito...


Clóvis - Vais continuar com o escritório de advocacia até o fim da campanha?

Naatz - Com certeza. Cheguei atrasado aqui porque eu tava numa audiência na Justiça do Trabalho.


Francisco - E se for eleito?

Naatz - Se for eleito, vou ter que me afastar.


Clóvis - Porque prefeito ganha um pouquinho mais que vereador, né? (risos)

Naatz - Não é nem pela questão financeira. É que daí teria outra missão. Uma nova carreira.


Valther - E a arrecadação da campanha? Eu sei que não está sendo fácil pra ninguém. Hoje a coisa mudou muito em relação a outras eleições.

Naatz - Bom, nós estamos aqui no meio de pessoas cultas. Nós sabemos de onde vem o dinheiro deles. Todos aqui sabem de onde vem, tanto do candidato azul quanto do candidato vermelho. Os recursos de campanha são meus e do vereador Angelo Roncáglio (candidato a vice). A gente não pede nada pra ninguém.


Francisco - Mas vocês já receberam algo.

Naatz - Recebemos, mas não pedimos nada. Algumas gráficas estão cedendo para todos os candidatos material impresso. Até porque... já não temos dinheiro, vamos rejeitar o que é dado? (risos)


Clóvis - Como está essa parceria com o Angelo Roncáglio. É um vereador que não é do seu partido...

Naatz - Muito boa, eu acho que juntou a fome com a vontade de comer. Vocês não fazem idéia como a gente combina. Duas pessoas que nunca se falaram, mas a gente combina. Eu queria que vocês o conhecessem, é um cara fantástico, uma inteligência extraordinária. Olha, tô muito feliz. A gente é panela e tampa. É incrível. Ele é guerreiro, bocudo, eu também sou, então... (risos)


Francisco - Um endossa o outro. (risos)

Naatz - Eu tenho que segurar ele, ele tem que me segurar. Nossa campanha é de casa em casa. Nossa campanha não é de ir na Rua XV.


Maicon - Eu lembro de uma entrevista que você deu há quatro anos. Você disse o seguinte: "quando eu entrar na prefeitura vai sair gente voando pela janela". Qual é a sua visão hoje sobre cargos comissionados?

Naatz - No meu governo nós vamos enxugar a máquina. Nós vamos acabar com essa história. O jornal de vocês noticiou recentemente: "governo abre três secretarias para acomodar PMDB". Eu tenho tudo, tenho arquivado dos últimos 12 anos, todas as manchetes de política, todas. Nosso desejo é fazer uma máquina enxuta. Eu tenho o desejo de privatizar ao máximo aquilo que só consome recursos. O Aeroporto Quero-Quero será privatizado no nosso governo. Não sei se vou vender, se vou entregar para iniciativa privada...


Clóvis - Para explorar.

Naatz - Para explorar, que seria talvez o mais racional. Ou então, nem uma coisa nem outra. Se a comunidade chegar e dizer: "Naatz, fecha aquilo lá e vamos fazer um galpão para microempresário", uma coisa é certa: ou ampliamos ou fechamos. Não tem mais essa história de ficar 20 anos esperando o que vão fazer. A história do Aeroporto Quero-Quero é a seguinte: eles querem transformar em aeroporto de carga. Não tem nada a ver com passageiros. Nós não temos mais o vôo das 6h30min de Navegantes porque não tem demanda. Desde quando vão abrir o Aeroporto Quero-Quero aqui e vai ter demanda? Empresário manda o funcionário onde é mais barato. Eu, que uso aeroporto, vou onde é mais barato. Como é que eu vou deixar de ir por R$ 180 lá por Navegantes para ir por R$ 400 aqui? Ninguém vai.


Clóvis - Ô, candidato...

Naatz - Só para falar da privatização. Então, vamos nos livrar desse pepino, essa história de querer usar verba pública pra beneficiar meia dúzia. Esse município não engana mais ninguém. Segundo ponto: privatização da Vila Germânica. O desejo nosso: entregar a exploração da Vila Germânica para a iniciativa privada. Eu acho que essa história de fazer turismo em Blumenau não é verdadeira. Os dois grandes hotéis - eu tenho amigos meus que trabalham lá - estão com as ocupações ferradas. No que que nós transformamos a Vila Germânica? A Vila Germânica se transformou numa feira de eventos. Com exceção do Brasil-Alemanha, nenhuma outra que não tinha sido produzida na antiga Proeb. Mas tá ali, é bonito. Mas o que que o turista de eventos vê? Ele chega no aeroporto de manhã, vem pra feira, passa o dia na feira...


Valther - E hotel.

Naatz - Para o hotel. De manhã, vai pra São Paulo, entende? Ou vocês vêem turistas de feira caminhando na Rua XV fazendo compras? Eu não vejo. Esse é o turista que não gasta nada. Então entrega a exploração da Vila Germânica para a iniciativa privada, com o compromisso de manter a Oktoberfest, Festitália, talvez um ou outro... é compromisso nosso entregar pra iniciativa privada o que for necessário, inclusive no projeto da Creche Social. Eu vou entregar a construção de creches para a iniciativa privada, para que ela construa creches e venda vagas para o município. Isso já é no Chile, na Argentina... a secretaria cuida do projeto pedagógico, mas quem constrói creche é a iniciativa privada. O nosso desejo é o seguinte: se os azuis vencerem...


Valther - É tudo por cor.

Naatz - Se os azuis vencerem, os vermelhos estarão contra, certo? Isso é praxe. Hoje, os azuis fazem os negócios e os vermelhos são contra. Se no governo dos vermelhos os vermelhos faziam, os azuis eram contra. E assim vai acontecer com qualquer um dos dois ganhando as eleições. No nosso governo, nós vamos fazer azul, vermelho, amarelo, cor-de-rosa e verde.

Clóvis - É um arco-íris, queres fazer um governo... (risos)

Cao - Um governo gay! (risos)

Naatz - O nosso desejo é que a gente faça um governo de coalizão.


Fabrício Cardoso - Só para emendar, eu vejo que você fala muito na tua propaganda de blumenauense nascido aqui e tal... de fato é uma benção. Mas o que um blumenauense adotado, como eu, deve pensar? Somos menos capazes?

Naatz - Tu é um cara inteligente. Sabe que o recado não é pra ti.


Fabrício - Não, eu sei... mas tem muita gente que pode não entender.

Naatz - A gente não pode querer agradar a todos. A gente está passando um recado pra eles. O Vilson Kleinübing veio aqui nos usou e foi embora, com dois anos de governo. E nós ficamos com o pepino aqui. Décio Lima foi embora pra Itajaí. Nós temos exemplos que não têm ramificação aqui. Não têm compromisso com essa terra. Eu, esses dias, encontrei o Victor Fernando Sasse. Faz 16 anos que foi prefeito dessa cidade, tá aí dando explicação. Se foi bom prefeito, se não foi bom prefeito, tá aí. A gente encontra ele. A gente encontra o Dalto para dar explicação da administração dele. A gente encontra, vez por outra, o Renato Vianna. Quando eu digo que nós temos que valorizar os filhos daqui, eu quero dizer que nós vamos ficar aqui para dar explicação. E que essas pessoas têm nos usado, têm nos abandonado. Vinte e três anos e a Via Expressa não vai ser concluída. Faltam as alças de acesso, falta o viaduto para a BR-470. Isso é um crime. A prefeitura vai se responsabilizar se inaugurar uma obra do jeito que está fazendo. Mete o trânsito todo da Via Expressa na BR-470...


Valther - Vai afunilar. Há 23 anos se chama Via Expressa... imagina se fosse outro nome (risos).

Naatz - Quando eu digo isso, quero dizer que eles não tem compromisso conosco. Então, é coisa de bairrista mesmo.


Francisco - Qual a postura da administração municipal no seu comando com relação a incentivos fiscais?

Naatz - Blumenau concedeu insenção fiscal para os amigos do poder numa quantia absurda. Nós vamos inverter a política de isenção fiscal. Nós não vamos fazer como fazem hoje, que é dar atenção aos grandes e excluir os pequenos. Segundo me falou a Ampe, 64% das pequenas empresas que abrem fecham até os dois primeiros anos de vida. É falta de incentivo. Nós vamos fazer uma inversão. Até porque, eu penso o seguinte: onde ficam os lucros da Coteminas? Para onde vão? Agora, os lucros da minha empresa ficam aqui.


Valther - Aí inclui o microcrédito?

Naatz - Microcrédito, o cooperativismo, que é a coisa mais moderna. Inclusive a Ampe vai abrir sua cooperativa. Já comprei duas cotas.


Maicon - Eu queria fazer uma pergunta no aspecto ideológico. Desde a falência das utopias de esquerda, houve uma abertura da relação capital-trabalho, dando abertura para outras áreas, como o movimento feminista, o meio ambiente. Mas eu percebo, às vezes, um certo radicalismo de causa... algumas posturas autoritárias. Eu senti no teu discurso um certo radicalismo. Ou eu tô enganado?

Naatz - Você está enganado. Porque não se pode confundir Partido Verde com ONG. Esse é o erro cometido por todos. Precisamos corrigi isso. Partido Verde não tem nada a ver com ONG. Não pode achar que o Partido Verde é o S.O.S. Mata Atlântica, WWF, Greenpace. Pelo amor de Deus, não tem nada a ver uma coisa com a outra! Tanto que os ambientalistas convidados a fazer parte do nosso projeto político não se engajam. Eu leio o Santa, tinha uma reportagem há um ano e meio atrás onde o (ambientalista) Lauro Bacca dizia que não se deve pegar um pau na floresta porque aquele pau tem microorganismo. Muito bem. Eles não estão conosco. Porque nós entendemos diferente. Eu fui em três conferências mundiais do Partido Verde, na Espanha, na Alemanha e em Roma. O Partido Verde entende que é preciso equilibrar. Para cada agressão, uma ação, entende? Se é preciso romper com uma área de interesse ambiental, ela tem que ser compensada. Talvez esse paradigma o partido precise quebrar, porque ele encontra resistências nisso. Não vou impedir o crescimento econômico.


Francisco - Qual é a visão que o senhor tem do meio cultural de Blumenau?

Naatz - O artista é um cara muito complexo. (risos)

Valther - Nós temos dois aqui (aponta Cao e Maicon), eles são muito complexos. (risos)


Naatz - Querido, o cara solda duas porcas, uma em cima da outra, e quer viver daquilo! (risos) Não dá pra entender. Eu fui perguntado na reunião do conselho (de Cultura) o seguinte: "eu queria que o senhor citasse o nome de alguém que foi beneficiado com o projeto da Fundação Cultural". Eu nem fui atrás, eu não quero saber. O cara ficou indignado: "mas como que o senhor não sabe o nome"? Eu lá tenho obrigação de saber o nome de alguém que foi beneficiado com o projeto da Fundação Cultural?


Francisco - Sendo o artista uma pessoa complicada, como lidar com isso?

Naatz - Precisamos aprender (risos). Primeiro, ensinar as pessoas...


Cao Hering - Com chicote. (risos)

Naatz - A valorizar a cultura. A pessoa não sabe, os chilenos aprenderam a valorizar todo o tipo de cultura... arte, livro, música, teatro.


Clóvis - Puxando o saco do outro ali (Francisco)... só porque é chileno. (risos)

Naatz - Mas é verdade. Os argentinos, a mesma coisa. Tem mais bibliotecas na capital argentina que no Brasil todo. Então, eles aprenderam essa coisa de valorizar a cultura. Tu anda em Milão, toda a calçada tem uma obra exposta. Os Clubes de Caça e Tiro, a questão germânica... eu tenho ido muito em clubes de caça e tiro.


Clóvis - Eu quero fazer uma pergunta: tu não tens preocupação com essa voz rouca, tu cuidas da voz?

Naatz - Eu tenho um negócio aqui na garganta, como é que é? Tenho um negócio que tá crescendo a cada ano aqui dentro. Tenho acompanhado... por enquanto não tem problema, mas vou ter que tirar. Problema é que, para tirar, precisa ficar 30 dias sem falar. Eu vivo da advocacia. Vou fazer advocacia como?


Maicon - Você está muito sério na entrevista. Só pra descontrair um pouco... na campanha de quatro anos atrás, o que me chamou a atenção foi o jingle. Como é que um cara que demonstra inteligência foi permitir um jingle daqueles?

Naatz - A questão é que se passaram quatro anos e 50% da população canta o jingle (risos). Naquela campanha o jingle custou 50 reais, e surtiu todo o efeito. Eu ando por aí, às vezes na cancha de bocha, os cara estão lá: "é hora da mudança, Ivan Naatz vem aí". (risos).


Valther - O senhor sabe cantar o hino nacional?

Naatz - Um pedaço. (risos)


Valther - Qual teu time de futebol?

Naatz - Eu sou vascaíno e o Angelo é flamenguista.


Valther - E o futebol de Blumenau?

Naatz - Quem me conhece sabe que eu sou apaixonado por futebol. Eu, por exemplo, já vi esse ano seis jogos do campeonato brasileiro.


Maicon - Essa pergunta não foi planejada, mas eu acabei fazendo pra todos os candidatos. Um livro que você leu, que marcou, e que você indicaria.

Naatz - Olha, eu leio muito, até por causa da minha profissão. Mas eu gosto muito de História. Eu conheço, estudei muito. Eu terminei de ler agora 1808, que é um livro que eu recomendo para qualquer um. Quem quiser conhecer o Brasil tem que ler esse livro. Parece grande, assustador, mas é fantástico. Ele vai explicar porque que a gente não tem saneamento básico, por exemplo. Tô lendo agora Desenvolvimento Sustentável, escrito pelo (Sérgio) Grando, que traz um apanhado de desenvolvimento sustentável de Santa Catarina. Gosto muito dele, ele escreve muito bem e gosto também de ler essas questões de auto-ajuda, como convencer os outros, como ser simpático. (risos)


Valther - Muito prático nessa época. (risos)

Naatz - Como ganhar uma eleição... (risos) quem tem que ganhar a eleição são eles. Por isso eu tô muito tranqüilo. Para terminar: a revitalização do Rio Itajaí-Açu. Vamos apresentar um projeto que vai ser a continuação da Beira-Rio, só que numa pista de caminhada e de bicicleta, entre o rio e a calçada.


Francisco - Mas não vai degradar a mata ciliar?

Naatz - Não, porque nós vamos fazer um projeto integrado... mata, caminhada, natureza, pista de bicicleta. Vamos fazer ali no Morro do Boa Vista um centro de referência ambiental. Ciclovias, que vão ligar a margem direita com a margem esquerda, com custo baixíssimo. Nosso desejo é trazer um teleférico, na área onde é a Unimed, que vai levar a pessoa ao Museu da Água. Lá, nós vamos ceder o espaço para construção de um restaurante típico. Precisamos demolir o Edifício América, derrubar aquele troço lá, e trazer uma ponte, não para carregar caminhão, uma ponde de escoamento. E na parte de baixo da ponte vamos instituir um boulevard blumenauense, um centro de cultura, exposições artistas... e trazer para Blumenau o turista de compras.

 

JORNAL DE SANTA CATARINA

 

Comentários

tania regina mendonça  - 

Denuncie este comentário21/09/2008 19:48

Oi Ivan tudo bem , estou feliz por voce,lenbro de quando disputavamos as eleiçoes para o sindicato e voce falava das eleiçoes de 2008, hoje é realidade e estou torcendo e votando em voce, abraço

Artur Moser / 

Ivan Naatz falou sobre sua rápida atuação na Assembléia Legislativa

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