eleições 2008

 

 
6 de maio de 2024
 

Interior | 10/09/2008 | 00h14min

Kleinübing fala sobre sua administração e propostas para reeleição em Blumenau

Candidato falou a jornalistas e colunistas do Jornal de Santa Catarina

Entre uma e outra proposta de solução para temas importantes, como saúde e trânsito, o candidato à prefeitura de Blumenau João Paulo Kleinübing (DEM) recorre com freqüência a inspirações do passado. Formado em História, ele não esconde que, quando jovem, sonhava em seguir carreira na academia. Nesta entrevista concedida ao Santa dia 20 de agosto, Kleinübing fala de grandes líderes do passado, da recuperação econômica de Blumenau e da necessidade de planejar o futuro do município.

A conversa descontraída gerou risos e até gargalhadas. O candidato, que está licenciado da prefeitura para se dedicar à campanha, chegou a pedir que o gravador fosse desligado para contar uma piada. Em praticamente todas as respostas, busca exemplificar os pontos de vista em ações da atual administração e em projetos para um possível segundo mandato. Aliás, Kleinübing garante que, se reeleito, não deixará o cargo para disputar eleições estaduais, em 2010.

Evandro de Assis - Bem-vindo candidato, obrigado por aceitar nosso convite. A pesquisa do Instituto Mapa, encomendada pelo Santa, mostrou que a saúde é a grande preocupação do eleitorado. O Santa já mostrou várias vezes que o problema da saúde começa nos postos e vai terminar nos hospitais. É um dominó. O que vai ser feito para dar um basta na falta de médicos?

João Paulo Kleinübing - Primeiro, vamos voltar um pouco anos atrás. O problema da saúde não é um problema, de agora, né? Não é um problema exclusivo da nossa cidade. A solução do problema passa pela prevenção, passa pelo investimento em infra-estrutura e pela capacitação das pessoas que atendem nas unidades de saúde. Infelizmente, nós ainda estamos tratando mais a doença das pessoas do que efetivamente promovendo a saúde. Isso passa, entre outras coisas, pela ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF). Foram criados, nestes três anos e meio, 18 novas unidades do PSF na cidade. Nós praticamente dobramos o atendimento. Depois, investimento em infra-estrutura. Ou seja, muitas das unidades existentes tinham estrutura deficitária, muitas não tinham nem ar-condicionado para dar conforto para o paciente e para o médico. Faltava medidor de pressão, faltava geladeira pra acondicionar vacinas e outros tipos de medicamentos. Então nós investimos aí aproximadamente R$ 2 milhões neste período. E o investimento em capacitação está previsto no novo Plano de Carreira, no novo Estatuto dos Servidores. Já realizamos algumas capacitações com médicos em áreas específicas, como, por exemplo, ortopedia. O número de médicos que trabalhavam na prefeitura quando nós entramos tava em torno de 180. Hoje são 240 médicos, 250 médicos trabalhando. Além disso...

Evandro - Há uma rotatividade de médicos nos postos. A gente nota que os médicos não ficam muito tempo nos postos de saúde. Como o senhor vai resolver este problema específico?

Kleinübing - Falta profissional, né? Falta... a carreira ser mais atrativa. Então, hoje...

Valther Ostermann - Salário.

Kleinübing - (pensa um pouco antes de responder). Acho que não só salário. Acho que salário talvez seja um deles, embora, eu já falei, o médico do PSF ganhe em torno de R$ 5,7 mil e o médico que trabalha nos ambulatórios pode ganhar isso ou até mais se buscar a extensão da jornada fazendo atendimento naquilo que a gente chama de livre demanda, né? Então, hoje nós já temos 32 médicos que aderiram a este programa. São 20 mil novas consultas que foram oferecidas a mais nesses sete meses. Hoje, o município oferece aproximadamente 800 mil consultas por ano. A isso que eu quero chegar.

Valther - Quase três por habitante.

Kleinübing - Dá quase três por habitante. A média recomendada pela Organização Mundial de Saúde é duas consultas por habitante por ano. E aí vem aquilo que eu falava antes, da necessidade de investimento em prevenção. A lei diz que o município de Blumenau deveria investir 15% do orçamento em saúde. É a mesma lei que diz que o governo federal deveria investir 10% do orçamento em saúde, e ele não investe. Está investindo aproximadamente 7%. O município de Blumenau, historicamente, sempre investiu 18% do seu orçamento em saúde. Nesses quatro anos que eu tô na prefeitura, nós vamos ter investimento médio de 22%. Este trabalho de investimento na prevenção, ele é um trabalho que não vai apresentar resultados de hoje pra amanhã, né?

Valther - Mas não vai resolver nunca, porque Blumenau tem 100 mil habitantes, depois tem 200 mil, depois tem 300 mil, e é natural que a administração esteja sempre correndo atrás. Então, solução mesmo nunca terá.

Kleinübing - Mas... nós vamos atender da melhor forma possível, né? Através do investimento... a prevenção não é só o posto de saúde, não.

Valther - Aí que eu queria chegar....

Kleinübing - O saneamento básico é prevenção.

Valther - Não passamos de 3% ..

Kleinübing - 2,7%, para ser preciso, em 2005...

Valther - De esgoto tratado..?

Kleinübing - Canalizado e tratado. A nossa meta é 25%. Blumenau ficou 10 anos sem investir em saneamento. Estes 2% foram concluídos lá por 1996, aproximadamente...

Valther - Tem uma brincadeira que diz assim: se você tiver um amigo que more no Garcia, vá usar o banheiro dele, que pelo menos seu dejeto será tratado. (risos)

Francisco - Candidato, em quanto é possível expandir a rede até o final do segundo mandato, se for o caso?

Kleinübing - Vai depender da escolha que a cidade fizer, né? Acredito que, com o recurso público exclusivamente, nós levaremos ainda um bom tempo. Nós falávamos há quatro anos atrás de 70% em 10 anos. Mas é possível, né? Através de parcerias com a iniciativa privada, de você naturalmente reduzir este investimento. Parcerias público-privadas específicas para o esgoto, não envolvendo a questão da água, já que o atendimento é bom, é de qualidade. Uma parceria público-privada para tratar o esgoto, entendo que essa seja a solução.

Francisco Fresard - Mudando um pouco de assunto, mas aproveitando o gancho dos quatro anos. Muito se falou, quando o senhor ganhou a eleição, que o senhor cumpriria o primeiro mandato e depois partiria para uma candidatura ao governo do Estado...

Kleinübing - Falaram, né?

Francisco - Muito se falou na época. Ou seja, ficar os quatro anos, pleitear a reeleição e se candidatar a governador. Qual é a decisão do senhor, ou seja, qual o seu projeto político a partir de agora?

Kleinübing - Meu projeto político é servir a minha cidade e ser prefeito até 31 de dezembro de 2012.

Francisco - A sua vontade é esta?

Kleinübing -Pode deixar gravado, e guardar esta fita para a posteridade.

Valther - Porque esse era o projeto que todo mundo tinha como certo...

Kleinübing - Que os outros tinham.

Francisco - João, mas eu ouvi de gente do Democratas, de gente muito próxima do senhor.

Kleinübing - Os outros tinham, eu nunca tive.

Clóvis Reis - Ainda na seara dos problemas. Começamos com a saúde... como resolver o problema de trânsito em Blumenau, com esta enxurrada de carros que entra todo o dia na cidade e a gente vivendo este problema nos horários de pico cada vez mais visível?

Kleinübing - Com planejamento, coragem e investimento. Os problemas que a cidade sofre hoje são justamente por falta de planejamento do passado. Quais foram as novas soluções que foram implantadas, aí, nos nos últimos anos? Pavimentação de rua existente não resolve o o problema do trânsito. Nós temos um exemplo disto, tá aqui próximo (da sede do Santa), no sistema de rótulas que está sendo implantado aqui, na saída da Ponte do Salto. Este projeto tem 10 anos. O projeto não foi feito por nós. Este projeto tem 10 anos na gaveta da prefeitura. Porque ele não foi implantado antes? Ele não era prioridade antes? Faltou planejamento e visão para não ser implantado antes? Então, agora está sendo feito. Há quanto tempo se fala no binário da Rua Paris? A própria Via Expressa está em construção desde 1989. Vamos abrir, finalmente, a Via Expressa depois de quase 20 anos de espera por parte da comunidade. E precisamos evitar que isso se repita no futuro. Aí vem o Blumenau 2050, que vai muito além do planejamento viário da cidade, mas tá preocupado em agir hoje. Se o número de carros em circulação tem aumentado, é preciso diminuir o número de carros em circulação. Você diminuiu o número de carros em circulação estimulando o uso do transporte coletivo. Então, o transporte coletivo tem que ser seguro, confortável e, acima de tudo, mais rápido do que o carro. Se eu for da minha casa ao meu trabalho de ônibus mais rápido do que eu chego de carro, certamente eu vou optar pelo ônibus e vou deixar o meu carro em casa.

Giovana Pietrzacka - Só que hoje isto não acontece. Demora muito...

Kleinübing - Hoje demora muito, então onde é que tá a solução? É você privilegiar no planejamento o transporte coletivo. Daí vem a necessidade de implantação dos corredores exclusivos, que vão ser implantados tanto na Rua 2 de Setembro quanto na Rua 7 de setembro. Porque não é feito isto hoje? Porque a 2 de setembro da forma como está não permite essa implantação. Com a implantação do binário (da Rua Paris), que vai acontecer até o final do ano, nós teremos a possibilidade de, numa das pistas da 2 de setembro, poder fazer circulação exclusiva ou preferencial, de ônibus. O que vai fazer com que essa linha de ligação do Terminal Aterro para o Terminal da Proeb e para o Terminal da Fonte, que é a linha de maior movimento da cidade, ganhe em velocidade. Ainda dentro da linha do planejamento, é preciso discutir outras formas de transporte, que é o caso do VLT, o veículo leve sobre trilhos, que ainda é uma modalidade de transporte muito cara no Brasil. Um exemplo: a cidade de Estrasburgo, na França, que hoje tem um dos grandes exemplos de sistema como esse, discutiu durante 10 anos a implantação do VLT.

Giovana - Nós estamos começando agora...

Cao Hering - O Renato Vianna também falou muito disto, né? Mas a execução não aconteceu nunca.

Kleinübing - O que nosso planejamento propunha é fazer essa discussão, né? Para implantar em 2009, certamente não. Mas a discussão precisa começar já. A Ponte do Badenfurt, por exemplo. Eu escuto falar nela há 20 anos. Agora, em 2008, é que a Ponte do Badenfurt vai ter projeto definitivo de engenharia, vai ter traçado definitivo aprovado pela comunidade em audiência pública e vai ter licenciamento ambiental. Tendo o licenciamento ambiental da ponte, é o básico para você se apresentar para qualquer programa de financiamento, seja com recurso da União, seja através de órgãos financiadores. A primeira pergunta que vão te fazer: "tem licenciamento ambiental?" Se tiver, vai adiante. Se não tiver, não vai. Até hoje não tinha.

Valther - Estamos falando aqui em prioridades: saúde, transporte coletivo... segurança, daqui a pouco alguém aborda. Em vista disso, qual é a sua visão a respeito, por exemplo, da privatização da Vila Germânica e do aeroporto, que não são funções prioritárias da administração pública?

Kleinübing - Eu acho que privatizar, no sentido de vender o patrimônio, eu sou contra. Inclusive eu já respondi isso nunca pergunta do Santa recentemente. Acho que não é o caso de vender o patrimônio.

Valther - De terceirizar.

Kleinübing - Não terceirizar. Você eventualmente buscar parceria para a operação desses equipamentos, acho possível. Acho que na Proeb não faz sentido. Acho que hoje o município tem um estrutura enxuta na Proeb. A Proeb é rentável, é viável, então acho que não é o caso. Não vejo qual é o ganho que você vai ter nessa questão. Mas é algo que se poderia até discutir. Na questão do aeroporto, acho possível, sim, nós discutirmos uma eventual... vamos buscar uma parceria para tocar o aeroporto.

Cao - Uma questão ainda dentro desse aeroporto. Será que a grande solução não seria a duplicação da BR-470 pra se chegar em poucos minutos a Navegantes e usar o aeroporto de lá?

Kleinübing - Eu acho que o aeroporto de Blumenau tem uma função a cumprir. Você não pode ver o Aeroporto de Navegantes e o Aeroporto de Blumenau como excludentes, ou como se um substituísse o outro. Eles são aeroportos diferentes, com capacidades diferentes, com funções diferentes. Agora, qual é o futuro de Blumenau, para onde Blumenau tá caminhando? Qual vai ser a cidade daqui a 10 anos? Esta é a primeira pergunta que a gente tem que responder. O que eu vejo da cidade daqui 10 ou daqui a 20 anos é uma cidade que ainda vai ter uma vocação industrial muito forte, mas que cada vez mais a cidade parte do comércio pro serviço, pro turismo, ele é o centro. A cidade redescobriu, com o Parque Vila Germânica, a sua vocação turística com o turismo de eventos, né? Ou seja, o turismo em Blumenau, não adianta nós pensarmos que nós vamos competir com a praia no turismo de lazer. Não dá, né? É bobagem investir nisso. O que que nós fazemos que a praia não não consegue fazer? Organizar evento. É essa a nossa competência. E dentro desse centro promotor de eventos não ter um aeroporto regional... vamos ser falhos, de novo. O sujeito que teve aí recentemente, em Florianópolis...

Francisco - Jean Claude Baumgarten.

Kleinübing - Jean Claude Baumgarten. Ele deixou muito clara a necessidade do aeroporto para qualquer centro turístico digno deste mundo.

Cao - Teremos aeronaves menores, então...

Kleinübing - O futuro da aviação no Brasil, pode ter certeza, é regional. Com o crescimento da economia brasileira, com o crescimento do interior brasileiro, a aviação regional tende a explodir, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, que também é um país de grandes dimensões. Esses novos jatos da Embraer são o futuro da aviação brasileira. Nós precisamos ter um aeroporto que esteja pronto para receber este tipo de aeronave.

Valther - E essa necessidade de investimento, de aparelhamento, de lá-lá-lá, é onde encaixa a parceria público-privada?

Kleinübing - Sim, exatamente.

Fabrício Cardoso - As pessoas, me parece, que reclamam da falta de aeroporto em Blumenau são as mesmas vão para Europa e andam 60 quilômetros para chegar a uma capital. Não seria uma contradição? Porque se vai a Paris...

Kleinübing - Eu não reclamo. O Aeroporto de Milão fica a 70 quilômetros do Centro da cidade...

Fabrício - Porque aqui no Brasil se exige isto. Parece que o aeroporto regional...

Kleinübing - Mas Milão tem o seu aeroporto regional próximo do Centro. Blumenau precisa ter o seu aeroporto. Não quero dizer que Navegantes não é necessário. Navegantes deve ser encarado como aeroporto regional, o aeroporto do Vale do Itajaí.

Valther - Eu já fui de manhã a São Paulo e voltei no final do dia a Blumenau, foi um conforto total. É muito prático neste aspecto.

Francisco - Quem tem de estar em São Paulo hoje, no começo do dia, tem que ir a Florianópolis embarcar.

Kleinübing - O primeiro vôo aqui (Navegantes) é 9h.

Clóvis - Falando em aeroporto, em saneamento básico, Ponte do Badenfurt... são, na minha opinião, os grandes temas da cidade. Eu diria, estratégicos. Por outro lado, são temas que talvez possam ter a pecha de interessar só a uma determinada camada da população...

Kleinübing - Vamos voltar quatro anos atrás. Qual era a principal preocupação do blumenauense? Emprego. O tema da eleição há quatro anos atrás era o emprego. Era o sentimento do blumenauense de que o emprego tinha ido embora da cidade, de que a economia de Blumenau estava enfraquecendo. Havia uma desesperança muito grande. O que não existe mais hoje. A construção dessa cidade, que hoje está melhor, que está atraindo emprego, que se sente com mais esperança, isso só aconteceu por causa desse tipo de discussão. Da discussão do aeroporto, do investimento do Parque Vila Germânica, de uma nova postura com relação à promoção da cidade. Mas assim como tem esse tipo de investimento, nós também temos o investimento na regularização fundiária, que é talvez um dos maiores programas de inclusão que o município já realizou. Porque você tem duas cidades. Tem essa cidade oficial, da placa verde, e tu tens a cidade não-oficial, da placa amarela. Você tem comunidades como a Vila União, Vila Jensen, como o Morro da Garuva, por exemplo, que não tinham água, que não tinham luz, que não tinham iluminação pública, viviam de rabicho. Hoje, as 100 famílias da Vila União têm água, têm luz, toda a Vila União tem iluminação pública.

Giovana - O senhor tem alguma frustração com o projeto da Guarda Municipal? Pretende retomá-lo caso reeleito?

Kleinübing - Eu quero, eu quero, sim. Eu acho que é necessário a gente retomar a discussão com a Câmara de Vereadores, com a sociedade, né? É preciso ter consenso. Não houve consenso, à época. O projeto foi retirado para aguardar um novo momento em que a sociedade esteja pronta para fazer essa...

Clóvis - Tem outra frustração além desta prefeito?

Kleinübing - Não, acho que tem isso, acho que a questão da fábrica de medicamentos... que é uma idéia que deveria ser implantada junto com a Furb, e acabamos não viabilizando economicamente. Embora a entrega dos medicamentos esteja acontecendo, né? Parte foi realizado, mas a parte da produção não, não foi possível. A própria questão da saúde, apesar de todos os investimentos que já foram realizados. O Hospital Santo Antônio é o grande exemplo. Avançamos em todas as áreas. Nas vagas das creches, por exemplo, muito. Nós tivemos aí 3,5 mil novas vagas nas creches, até a metade desse ano, e vamos chegar a 4,3 mil até o final desse ano. São 1,1 mil vagas por ano, aproximadamente. Se pegar os dados do Ministério da Educação de 2001 a 2004, que são os dados que o ministério tem, de 2000 pra cá foram criadas apenas 666 vagas nas creches municipais.

Valther - Número cabalístico, esse... (risos)

Maicon Tenfen - É o demo, o demo, Democratas...

Kleinübing - (Kleinübing é interrompido pela brincadeira e pelos risos, mas permanece sério). Na verdade é o demo, demo grego, que é povo. Diabo, em grego, é diabolos, que quer dizer adversário. (risos gerais)

Clóvis - É um historiador...

Kleinübing - Inclusive a Bíblia fala muito do adversário, que, em grego, é diabolos.

Valter - Vocês tiveram que estudar muito isto para escolher o nome. (risos)

Maicon - Eu tenho, nos últimos 10 anos, visitado várias escolas da região para fazer palestras sobre leitura. Sempre me pareceu muito claro que nós temos em Blumenau algumas escolas que são referências nacionais em termos de educação básica. No entanto, nós temos também escolas que estão praticamente abandonadas, e nos diretores e professores a expressão deste abandono. Caso for eleito, quais são os planos para a educação?

Kleinübing - A avaliação que tu fazes é profundamente correta. Nós temos escolas que tinham problemas seríssimos de manutenção, deficiência de infra-estrutura. A solução da educação é a mesma da saúde. Capacitação e valorização do profissional, investimento em infra-estrutura — você não pode oferecer uma boa qualidade de ensino se o telhado tá caindo, se o aluno não tem uma boa carteira, se o professor não tem condições mínimas para poder dar uma aula — e também investimento na questão pedagógica. O que nós fizemos ao longo desses quatro anos: primeiro, do ponto de vista pedagógico, foi o fim da Escola Sem Fronteiras. Ela causou um grande mal para a cidade, né? Na minha opinião, foi uma irresponsabilidade o que se fez com as crianças, com a implantação de um modelo que não deu certo. Nós sabíamos desde o começo e ficou oito anos em funcionamento. Segundo: investimento em infra-estrutura. Nós encontramos muitas das nossas escolas em situação realmente de manutenção muito, muito precária. Não resolvemos todos, mas fizemos muitos investimentos. Nossa prioridade era estrutura, telhado e parte elétrica das nossas escolas. Várias tiveram reformas estruturais neste sentido, parte elétrica e de telhado. Algumas escolas como a Almirante Tamandaré, por exemplo, foram totalmente reformadas. Além do investimento em manutenção, nós criamos um programa que ainda, que ainda tá caminhando e precisa ser ampliado e melhorado, que é o Programa Dinheiro Direto na Escola. Ou seja, o diretor da escola não tem recursos, muitas vezes, para pequenas manutenções que a escola precisa. Há APPs que têm mais dinheiro e APPs que têm menos recursos, né? Por vários motivos. Então, o dinheiro que vai pra escola é este dinheiro da pequena manutenção, da história da vidraça quebrada. Ou seja, se o diretor tiver R$ 400 a R$ 500 reais por mês para comprar tinta, pintar de vez em quando a sua escola, quando quebra um torneira... hoje ele não tem, né? Hoje, se quebra um trinco de uma porta, pela licitação que o município tem, é obrigado a chamar o prestador de serviço que conserta os trincos de todas as portas de todas as escolas. O cara vem amanhã, vem dois dias depois, e custa muito mais caro. O serviço é ineficiente. Então, o Dinheiro Direto na Escola visa justamente isso. E a valorização do professor, do sujeito, do profissional que está dentro da sala de aula. O novo plano de carreira e o novo estatuto do magistério, que foram aprovados no final do ano passado, o foco deles foi justamente na valorização de quem está dentro da sala de aula. Do ponto de vista salarial, hoje um professor em sala de aula, com as gratificações e com 40 horas, tem um salário de aproximadamente R$ 1,8 mil no município, que é quase o dobro do piso nacional do Ensino Fundamental aprovado recentemente, que é de R$ 950.

Além disso, o município vai investir na jornada ampliada, na escola de ensino integral. Isso também tem que ser programado com tempo, com investimento. A idéia é você ir trabalhando por série.

Giovana - Prefeito, eu queria fazer uma pergunta em relação ao caso dos gerentes, que nós noticiamos em maio. Três pessoas que estavam fora dos locais para os quais foram contratadas. O senhor já leu o relatório do caso?

Kleinübing - Não, não vi o relatório, o relatório ainda não chegou pra mim. independente se for eu ou se for o vice-prefeito Edson Brunsfeld, nós vamos avaliar o relatório e tomar as medidas necessárias, no caso daquilo que foi apontado no relatório.

Clóvis - Vou fazer uma pergunta sacana. Vejo o senhor com muito mais entusiasmo mais recentemente. Teve uma época do governo em que o senhor estava mais abalado, talvez expressando a dificuldade de realizar algumas coisas. Estes quatro anos foram bons para o senhor?

Kleinübing - Foram (risos). Foram muito bons. Com todas as dificuldades, como o meu visível envelhecimento nesses quatro anos (fala apontando para os cabelos grisalhos) (risos). Mas foram...

Valther - Foi bom para você? Esta é a pergunta.

Kleinübing - Foram muito bons. Tivemos momentos, especialmente no início do governo, de extrema dificuldade, né? Em função da situação em que a prefeitura se encontrava, das dificuldades financeiras, do ajuste necessário que a prefeitura teve que passar. Eu brinquei, acho que no final do ano passado, que a carta de alforria só veio em 18 de dezembro de 2007, que é quando o município recuperou a sua capacidade de financiamento.

Francisco - O senhor contou muito com a ajuda do colegiado, principalmente esta parte de administração, de gestão, ela é muito técnica. O (secretário de Administração, Fernando) Lenzi é doutorando em Administração, o Marcel Hugo (secretário de Orçamento e Gestão) é especialista na área. Enfim, vai ser possível manter essa característica no segundo mandato?

Kleinübing - Certamente.

Francisco - Mesmo com essa coligação que foi feita? Porque a gente sabe que, na realidade, o partido, claro, vai comungar de uma unidade de filosofia, mas quer também representação.

Kleinübing - Os partidos que hoje compõem a coligação já participam do governo. Já participam da administração. Então, nós não perdemos o perfil evidentemente técnico das pessoas que compõem. Todos os partidos têm boas pessoas a oferecer. Acho que nós construímos este mandato em cima de pessoas que eram comprometidas, capacitadas nas suas áreas. Que representam eventualmente os seus partidos políticos, mas que têm, acima de tudo, compromisso com a cidade.

Valther - Porque afinidade, afinidade, não é bem o caso. O PMDB, que hoje tá aqui, já tava do lado de lá.

Evandro - É a primeira eleição que os dois partidos estão juntos.

Kleinübing - Eu posso fazer um parêntese? (muda de assunto para fazer uma piada e pede para desligar o gravador)

Clóvis - Qual é o grande estadista, governante, que inspira o senhor? Além do seu próprio pai.

Kleinübing - Esta também é uma pergunta difícil. (risos)

Maicon - Aproveita também e cita um grande livro que você leu e que indicaria.

Kleinübing - Eu vou te indicar...

Cao - O Alquimista (risos).

Kleinübing - Vou te indicar, vou te indicar. Falando de estadista, né? Acho que, existem três nomes marcantes para qualquer pessoa que queira estudar: no dia 8 de maio de 1945 a Alemanha se rendeu, Churchill foi para frente da sede do governo comemorar com a população o fim da guerra. Ele deu um discurso agradecendo a população da Inglaterra pela vitória. As pessoas, em coro, devolveram a ele dizendo que a vitória era dele, Churchill, que tinha liderado o povo na vitória. Dia 25 de julho de 1945 teve eleição para primeiro-ministro. Ele perdeu a eleição.

Valter - O inglês também é um povinho chato... (risos)

Kleinübing - Isso é um ensinamento para todos nós, e o Churchill é um exemplo acima de tudo, né? Ele venceu a guerra pela obstinação, pela teimosia e pela determinação. Tem um outro livro muito bom do John Lucas, chamado Cinco Dias em Londres, que fala do que aconteceu entre o dia 10 e o dia 15 de maio, quando Churchill assumiu. Dia 10 de maio de 1940, mesmo dia em que o Hitler invadiu a França através dos Países Baixos, o chamado Golpe de Foice. Churchill venceu essa parada em terra, através da coragem e da determinação. O outro é o companheiro dele, o Roosevelt. Roosevelt venceu a eleição em 1932 para presidente dos Estados Unidos no auge da guerra, pegou um país quebrado, se elegeu quatro vezes presidente e entregou a nação mais próspera do mundo.

Valther - Na época tinha a reeleição, trieleição...

Kleinübing - Na verdade, depois. Diferentemente de nós, o sistema jurídico inglês é muito baseado na tradição. Na verdade, havia direito à reeleição porque o George Washington se candidatou a uma, e os demais também. Então, não tava escrito nem que podia nem que não podia. Nessa história de que não tava escrito, o Roosevelt foi para o terceiro...

Valther - É o sonho do Chávez. (risos)

Kleinübing - Ele foi pro terceiro, depois pro quarto mandato. Se bem que o quarto mandato ele praticamente não cumpriu.

Valter - O vice é que explodiu a bomba atômica.

Kleinübing - Ele acabou explodindo a bomba.

Valther - Se o senhor for eleito, é bom cumprir o mandato porque o vice faz cada coisa! (risos)

Kleinübing - E o terceiro (estadista) é um outro primeiro-ministro inglês, o Gladston, que equivale no Século 19 ao Churchill do Século 20. Foi um grande reformador. O cara que criou o atual conceito de orçamento público foi o Gladston. Ele reformou o sistema eleitoral britânico, o sistema de impostos. Voltando à história do livro, né? O Roosevelt, infelizmente, tem muito pouco em português escrito, existe também um livro fininho do Roy Jenkins que fala sobre o Roosevelt e eu recomendaria ainda um livro chamado Tempos Muitos Estranhos, de uma historiadora americana que fala mais da parte interna da Casa Branca, do relacionamento do Roosevelt. Do Gladston também tem livro do Roy Jenkins.

Maicon - Esse cara deve ser bom, hein?

Kleinübing - Esse cara é muito bom. É um historiador britânico, membro do parlamento inglês vários anos, faleceu faz há uns dois ou três anos. Ele tem um livro sobre o Gladston na faixa das mil páginas, muito, realmente muito interessante.

Cao - Voltando de Londres para Blumenau, a gente ouve falar como uma cidade européia, muito bonita, educada. Mas o que sempre me bate muito é o cartão de visita de Blumenau, quando se chega na cidade. Gramado, por exemplo, limpou os morros, as construções ilegais, tiraram os outdoors, plantaram as hortênsias. O que a gente poderia fazer?

Kleinübing - Primeiro, que a questão do investimento, do paisagismo da cidade, a gente tem feito desde 2005. Isso também é visível, não só na região central. A questão dos outdoors já foi feita, a Lei da Publicidade já foi aprovada, ela tem um prazo, na verdade, de adaptação. Neste sentido, alguns já saíram, novos estão sendo evitados e a tendência é haver uma diminuição significativa dos outdoors em si, né? No caso específico da Rua Itajaí, a Secretaria de Planejamento está montando uma parceria com a Furb para fazer um projeto de urbanização.

Cao - Onde começa a Rua Itajaí?

Francisco - Na Malwee.

Kleinübing - Na verdade, ali já é Rua Itajaí. Porém, ainda é Rodovia Estadual Jorge Lacerda, que termina no Sesi. Então, a jurisdição de Blumenau começa do Sesi para cá.

Cao - Mas antes do Sesi tá muito ruim também.

Francisco - Aquelas casas estão em áreas de risco. Tem muitas ali que já foram abandonadas porque o rio está tomando...

Kleinübing - Aí a solução é só da regularização fundiária. Quer dizer, esse trabalho todo que a gente faz de você criar alternativas pra evitar este tipo de ocupação.

Francisco - Três questões que eu anotei aqui: a questão da mão-de-obra. O senhor falou que o emprego foi gerado. Ótimo, perfeito. Mas falta mão-de-obra qualificada. Tem vaga? Tem. Mas não tem gente pra preencher. O município tem responsabilidade? O que ele pode fazer?

Kleinübing - Pode investir nos programas de formação de mão-de-obra. Tanto é que os programas de transferência do município, como o Pró-Renda, por exemplo, são associados à formação e qualificação profissional. Ou um projeto no caso do Entra 21, que é o maior programa de Santa Catarina de formação de mão-de-obra para o setor de informática.

Francisco - Mas ainda assim tem empresas da área de tecnologia que, por conta própria, dão cursos semelhantes ao do Entra 21, porque ele não é suficiente.

Kleinübing - Não é suficiente, é verdade. Vai ser um bom problema...

Francisco - Com relação ao sistema viário, o prolongamento da Humberto de Campos. Existe um projeto, é aplicável?

Kleinübing - Existe um projeto, é aplicável, sim. E é a prioridade, uma das prioridades, para o próximo mandato.

Clóvis - Agora eu não resisto. E o Velha-Garcia?

Kleinübing - Já respondo também. Quer dizer, foi priorizada a Via-Expressa, esse sistema aqui de rótulas (apontando para a Rua Bahia), o próprio Trevo do Tomio vai dar uma resposta interessante para aquele trânsito, mas a solução definitiva é o prolongamento da Humberto de Campos até ligando a General Osório.

Francisco - Velha-Garcia o senhor tinha tido que não era prioridade.

Kleinübing - Não é que não é prioridade. O Velha-Garcia é uma, uma...

Clóvis - Um fantasma. (risos)

Kleinübing - O grande desafio, o grande desafio...

Evandro - Não é uma questão de mata intocada ali, prefeito?

Kleinübing - O grande desafio ali é o licenciamento ambiental.

Francisco - Outra questão que eu queria abordar era o Parque das Itoupavas.

Kleinübing - Também está previsto no 2050 e nós queremos iniciar as desapropriações já a partir do próximo ano.

Evandro - Eu queria voltar à questão do trânsito. Sempre que a gente faz uma reportagem sobre transporte coletivo, que atrasa por causa dos congestionamentos, o secretário (de Planejamento) Walfredo (Balistieri) cita a questão das ciclovias. Mas nestes quatro anos o programa ficou praticamente interrompido, prefeito. Porque isso aconteceu?

Kleinübing - Na verdade, não foi interrompido. Nós temos que fazer a ligação das ciclovias existentes, né? Nas vias novas que estão sendo... a Rua Amazonas, por exemplo, vai ganhar ciclovias na sua reurbanização, em toda a sua extensão. Em alguns casos, compartilhada com a calçada. A Guilherme Scharf e a Hermann Lang também vão ganhar ciclovia. Outras ruas como a Samuel Morse, que foi inaugurada em 2005, e a Rua Bernardo Reiter também têm ciclovias.

Fabrício - Prefeito, Blumenau é a única cidade do mundo que tem até loja de material de construção sem calçadas. A gente fala muito da questão do mutirão, a gente sabe que é uma responsabilidade do proprietário, mas como a prefeitura pode até exercer o seu poder de polícia...

Kleinübing - Nós já estamos trabalhando na linha da conscientização, né? Quer dizer, primeiro se falava das taxas, que você tinha que pagar, o município hoje isentou de taxas, isentou de alvará, pra justamente estimular, né? É preciso criar a própria consciência com relação à importância de você manter a tua calçada. Tem até comércio, que seria o básico do básico ter uma calçada em ordem pra receber bem o cliente, não tem. A própria questão dos estacionamentos, é o caso da Rua Amazonas, por exemplo. Junto com a calçada na Rua Amazonas nós estamos fazendo. O município assumiu a questão das calçadas. Vai, depois, naturalmente cobrar dos moradores, mas tá fazendo na obra da rua. Está fazendo a construção da rua porque a idéia é que cada morador fosse fazendo a sua. Mas daí leva muito tempo. Nas ruas novas nós estamos agindo assim. E temos estimulado os moradores. Eles têm atendido ao apelo de fazer a sua própria calçada nas ruas que nós estamos pavimentando. Nós temos um passivo atrás pra vencer também. Vários proprietários já foram informados, notificados, em especial nos principais corredores de serviço. Rua das Missões, na própria Rua São Paulo... todo mundo já foi notificado.

Fabrício - Mas a persuasão não está surtido efeito. Eu sei que é difícil no momento político, mas numa dessas...

Kleinübing -O município tem os instrumentos. A notificação, a cobrança... o município tem exercido esses instrumentos.

Clóvis - Prefeito, além de colunista, sou professor da Furb. E o grande projeto da Furb neste momento é a discussão da federalização. Hoje está se falando na federalização dentro de uma nova perspectiva, de parceria com a UFSC. O senhor acredita nessa possibilidade?

Kleinübing - Acredito que é viável. A prefeitura tem participado da discussão, até porque (a Furb) é uma autarquia municipal, né? Parte da solução passa por você criar uma solução jurídica para essa questão. Você perde, né? Cede o patrimônio e os profissionais. Enquanto você vai ter aí 30 anos de transição. Até que essa instituição federal possa ir formando o seu quadro próprio de profissionais. Então eu acho isso perfeitamente possível, sim.

Clóvis - É um compromisso do senhor?

Kleinübing - Sim, é possível, eu apóio e entendo que é a solução viável para você implantar um ensino na cidade. E o município está retomando a questão do Artigo 107. Nós estamos pagando novamente o Artigo 107.

Maicon - Que foi interrompido...

Kleinübing - O município está pagando, está fazendo a sua parte. E isso é insuficiente para o atendimento de todos os alunos, né? Dentro desse projeto de futuro da cidade, certamente, a existência de uma instituição federal, pública, é fundamental.

 

JORNAL DE SANTA CATARINA

 

Artur Moser / 

Prefeito falou sobre o futuro do município

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